RIO — O Rio de Janeiro aposta na existência de uma indústria de óleo e gás consolidada como uma vantagem competitiva para a transição energética do estado em direção à geração de energia eólica offshore e à produção de hidrogênio. O governo fluminense enxerga um potencial de atração de investimento da ordem de US$ 85 bilhões na geração de energia em alto mar, mas vai esperar a regulamentação federal antes de construir sua própria regulação estadual para o setor.
O Rio conta com a infraestrutura de rodovias, portos, gasodutos e a proximidade dos grandes centros de carga para atrair investimentos para a eólica offshore e a produção de hidrogênio verde e azul — e, assim, atingir a meta de se tornar um estado carbono neutro até 2045.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais do governo estadual promoveu nesta quinta-feira (7/7) um encontro com potenciais investidores — como BH2, bp, Equinor, Petrobras e TotalEnergies — para mostrar os estudos sobre o potencial eólico offshore do estado.
De acordo com a secretaria, o Rio possui hoje nove projetos em fase de licenciamento no Ibama que totalizam 27,5 GW de potência e investimento estimados de US$ 85 bilhões. Como alguns desses projetos estão em áreas sobrepostas, nem todos serão concretizados, explicou o subsecretário de Petróleo e Gás do Rio, Daniel Lamassa.
“De qualquer maneira, o nosso potencial é imenso. Além da infraestrutura que temos, somos o maior produtor de gás natural do país. Isso é muito relevante para o investidor que deseja produzir hidrogênio azul, que tem no gás a sua principal matéria-prima”, disse.
Para aprofundar:
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Além de mostrar o potencial do Estado, o subsecretário se reuniu com potenciais investidores para ouvir as demandas do setor.
Os agentes econômicos destacaram a necessidade de consolidação da regulação — assunto ainda pendente na esfera federal. E também pediram a avaliação de mecanismos de financiamento e incentivo fiscal e mais celeridade no licenciamento ambiental.
“Estamos esperando a regulação federal sair para podermos definir a nossa e atuarmos na atração de investimentos para a geração de energia eólica offshore e na produção de hidrogênio”, afirmou Lamassa.
O governo fluminense entende que o Rio possui vantagens competitivas, como a oferta de gás natural para a produção de hidrogênio e uma indústria offshore desenvolvida.
“O Rio tem a grande vantagem de ter uma indústria do petróleo e uma indústria naval muito fortes. Isso vai nos permitir utilizar a mão de obra especializada na construção de barcos de apoio e logística, assim como permitirá que a Petrobras, por exemplo, tenha eólicas offshore em suas concessões de petróleo e gás, e possa produzir energia elétrica para as suas plataformas”, destacou o subsecretário.
O hidrogênio permitirá a produção de amônia e outros fertilizantes, além de gás para a conservação de grãos, carnes, vegetais e outros produtos.
“A amônia é muito requisitada hoje no mundo. Nós poderemos exportá-la ou utilizá-la aqui mesmo no Brasil, na agroindústria”, comentou.
Porto do Açu como polo de H2V
O Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense, tem pretensões de produzir fertilizantes no futuro. E também quer se posicionar como um polo de hidrogênio.
Em abril, a White Martins assinou um Memorando de Entendimento (MoU) com o Porto do Açu, para avaliar a viabilidade da produção de hidrogênio verde no complexo portuário.
Na semana passada, a empresa assinou com o governo do Rio um outro memorando de entendimento, para viabilizar a produção de H2V no estado. O acordo prevê a articulação junto a instituições de governo, empresas, agências de fomento, sociedade civil e agências reguladoras, entre outras, para alavancar a produção de hidrogênio no Rio.
Em maio, a Shell anunciou a instalação, também no Porto do Açu, de uma planta piloto de H2V, prevista para 2025, com capacidade inicial de 10 MW.
Na sexta passada (1/7) foi a vez do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciar um programa de apoio a projetos pilotos de produção ou utilização de hidrogênio verde. O valor máximo de financiamento é de R$ 300 milhões e contará com recursos do Fundo Clima, destinado à cadeia de energias renováveis.