Diálogos da Transição

Risco hídrico pode custar US$ 5,6 tri até 2050

Aquanomics explora consequências econômicas do risco hídrico associado ao aquecimento global

Risco hídrico pode custar US$ 5,6 tri até 2050. Na imagem: Terra seca e rachada pela escassez de água na represa do Passaúna, em Curitiba, no Paraná, durante a crise hídrica de 2020 (Foto: Gilson Abreu/AEN-PR)
Seca na represa do Passaúna, em Curitiba, que integra o sistema de abastecimento de água para a população da capital paranaense (Foto: Gilson Abreu/AEN-PR)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Começou a série de debates dos Diálogos da Transição
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Um estudo da consultoria de engenharia e meio ambiente GHD aponta que secas, inundações e tempestades podem eliminar US$ 5,6 trilhões do Produto Interno Bruto (PIB) das principais economias globais até 2050 — com algumas sendo mais afetadas que outras.

O relatório Aquanomics explora as consequências econômicas do risco hídrico associado à elevação de temperatura do planeta e faz um apelo por investimento, inovação e cooperação para proteger os mais vulneráveis.

“A forma como respondemos ao aumento do risco hídrico será fundamental para nossa saúde, prosperidade e qualidade de vida futuras. Agir para transformar nossos sistemas hídricos não é algo que podemos adiar ou assumir isoladamente”, diz a consultoria.

É mais um alerta sobre a urgência de avançar com o financiamento climático e materializar os US$ 100 bilhões por ano prometidos em 2009 pelos países ricos para viabilizar a transição e adaptação de países emergentes e pobres para uma economia de baixo carbono.

No início do mês, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que os ricos estão falhando em disponibilizar os recursos — em 2020, os desembolsos somaram US$ 83,3 bilhões.

Esta tende a ser, inclusive, uma das discussões centrais da Conferência Climática das Nações Unidas marcada para novembro deste ano no Egito, a COP27.

Em 2021, extremos climáticos afetaram mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo, causando mortes, ferimentos e destruindo a subsistência de comunidades inteiras.

À medida que os eventos extremos se intensificam, as perdas causadas por eles são estimadas em quase US$ 2 trilhões até 2050, enquanto inundações e secas adicionam a essa conta cerca de US$ 1,5 trilhão e US$ 607 bilhões, respectivamente.

Só que a maioria dos países examinados tem capital econômico e tecnológico para mudar o rumo das coisas — e ainda ajudar quem não tem.

Os Estados Unidos, por exemplo, aparecem no topo da lista dos mais afetados. Em termos de perdas do PIB relacionadas à água entre 2022 e 2050, estima-se que os EUA serão os mais atingidos, em US$ 3,7 trilhões — e o país já tem sentido os efeitos da mudança climática.

Uma pesquisa da First Street Foundation alerta que as ondas de calor nos EUA, além de cada vez mais frequentes, excedem o índice nacional de “Extremo Perigo” (Índice de Calor acima de 51,6 ºC), e devem impactar cerca de 8 milhões de pessoas este ano.

Até 2053, os eventos extremos deverão afetar a vida de cerca de 107 milhões de pessoas no país, um aumento de 13 vezes em 30 anos.

Com este cenário pela frente, a Casa Branca sancionou agora em agosto um pacote climático com US$ 369 bilhões para transição.

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Pela porcentagem do PIB, Austrália Filipinas também estão em alto risco, com declínios econômicos médios anuais entre 0,6% e 0,7%.

Espera-se que os Emirados Árabes Unidos sejam menos afetados, com perdas projetadas de US$ 27 bilhões e uma média anual de 0,1% do PIB até 2050. O Reino Unido enfrenta uma perda igualmente menor de 0,1%.

Os perfis de risco geográfico da Aquanomics ilustram os pontos fortes e as vulnerabilidades de cada país, ajudando a identificar onde o investimento em intervenções direcionadas pode mitigar os impactos.

Na China, por exemplo, os grandes investimentos em infraestrutura hídrica podem diminuir danos com inundações, mas o setor de manufatura e distribuição do país ainda corre o risco de perder cerca de US$ 1,7 trilhão devido à escassez e desastres relacionados à água nos próximos 30 anos.

No recorte setorial, manufatura e distribuição, inclusive, devem ser os mais afetados globalmente, com perdas totais de US$ 4211 bilhões até 2050 devido a processos de produção restritos, ativos danificados e distribuição interrompida.

Enquanto energia e serviços públicos ficam entre os menos atingidos, com perdas totais de produção projetadas em US$ 237 bilhões.

Brasil não é avaliado pela Aquanomics, mas um estudo de 2019 do Instituto Escolhas calcula que, só na geração de energia, os prejuízos podem chegar a R$ 4,5 bilhões por ano, valor a ser pago pelos consumidores de todo país.

A estimativa leva em consideração a escassez e conflito pela água e a frágil gestão dos recursos hídricos.

Cobrimos por aqui:

Muito engajamento e pouca conexão

Energia lidera conversa ESG nas redes, mas sem conexão com a sociedade, mostra levantamento da consultoria de comunicação Llorente y Cuenca (LLYC).

O grupo analisou mais de 3,3 milhões de dados digitais, entre 2019 e 2021, e identificou que a conversação sobre ESG ainda se concentra na “bolha” entre empresas e escolas de negócio e está desconectada de causas e propósitos da sociedade civil.

O setor de Energia é o mais engajado no tema nas redes, em uma narrativa que aborda transição energética e mudanças climáticas.

De acordo com a LLYC, os principais conteúdos se mantêm concentrados no subterritório de sustentabilidade, com temáticas relacionadas à geração de energias renováveis, redução da pegada de carbono, economia circular e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Net Zero 2050.

A análise também mostra que os principais influenciadores no tema não possuem a mesma atividade em redes mais democráticas, como o Twitter, e focam sua comunicação no LinkedIn, conversando quase que exclusivamente com o setor empresarial.

“Este é um dado importante, porque mostra como estamos, sem perceber, conversando com nossa ‘bolha digital’, tanto de forma pessoal como profissional, e é, acima de tudo, um alerta para repensarmos nossa comunicação nas redes”, comenta Anatricia Borges, diretora do Brasil de ESG da LLYC.

PPP solar para prédios públicos em Pernambuco

Filial brasileira do grupo espanhol Elecnor, a Enerfín venceu o leilão do projeto de Parceria Público-Privada (PPP) de geração de energia solar para os edifícios públicos do estado, um contrato de concessão de aproximadamente R$ 210 milhões.

Construída no sertão de Pernambuco, no município de Salgueiro, a usina solar deverá fornecer energia para 52 unidades consumidoras do Grupo A (alta tensão) da administração pública. Com isso, o governo espera economizar 20% com os gastos mensais de eletricidade.

A Enerfín do Brasil será a responsável por construir, operar e manter a usina de geração de energia renovável fotovoltaica no período de 28 anos, além de gerir unidades consumidoras de Pernambuco no Ambiente de Contratação Livre.

Cidade verde

A Heineken vai plantar, no Rio de Janeiro, a primeira de 19 microflorestas urbanas que serão implementadas em capitais brasileiras até 2030, no projeto Green Your City. No Rio, a área verde de cerca de 900m² será formada por espécies nativas da Mata Atlântica e ficará dentro do Parque Olímpico, onde ocorre o festival Rock in Rio.

A restauração ecológica utiliza a técnica de Floresta de Bolso. Nela, a composição e espaçamento da restauração devem respeitar a evolução original das florestas, o que proporciona baixo consumo hídrico, ao mesmo tempo em que ajuda a reter águas da chuva.