Energia

Rio Grande do Norte ganha piloto de combustível de aviação a partir de hidrogênio verde

Projeto é parceria entre GIZ e Senai e é primeiro passo para ganhar escala para atender a demanda das companhias áreas

Amostra do SAF em desenvolvimento em planta piloto no ISI-ER (Senai/RN) para produção utilizando hidrogênio verde da glicerina – subproduto do biodiesel (Foto: Renata Moura). Na imagem: Amostra do SAF em desenvolvimento em planta piloto no ISI-ER (Senai/RN) para produção de combustível sustentável de aviação, utilizando hidrogênio verde da glicerina – subproduto do biodiesel (Foto: Renata Moura)
Amostra do SAF em desenvolvimento em planta piloto no ISI-ER (Senai/RN) para produção utilizando hidrogênio verde da glicerina – subproduto do biodiesel (Foto: Renata Moura)

NATAL – A Agência de Cooperação Alemã (GIZ) e o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) inauguraram, nesta terça (5/9), uma planta piloto no Rio Grande do Norte para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, sigla em inglês), utilizando hidrogênio verde da glicerina – subproduto do biodiesel.

“É um passo muito importante para tornar o nosso estado, o Nordeste e o Brasil protagonistas nesse movimento da transição energética, rumo a um mundo descarbonizado”, disse a governadora Fátima Bezerra (PT), à agência epbr.

A ideia é que o projeto piloto possa ganhar escala para atender a demanda das companhias áreas, que precisam reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

A demanda global por combustível sustentável de aviação deve saltar de 100 milhões de litros por ano, em 2021, para 5 bilhões em 2025, segundo estimativa da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês).

“Ações como essa são importantes para fomentar o protagonismo do Rio Grande de Norte nas energias renováveis”, diz a governadora.

Demanda alemã

O diretor do projeto H2 Brasil, da GIZ, Markus Francke, acredita que o Brasil poderá ser um grande fornecedor de combustível de aviação sustentável para o mundo, incluindo a Alemanha.

O país lançou no final do ano passado o primeiro leilão da política H2Global para contratos de longo prazo de fornecimento de hidrogênio verde (H2V) na forma de derivados: amônia, metanol e SAF.

“O Brasil tem potencial muito grande para ser um grande produtor, especialmente o rio Grande do Norte, que possui mais de 80% da sua energia produzida de forma renovável”. diz Markus Francke, diretor do projeto H2 Brasil, da GIZ.

Expansão das renováveis

Além do hidrogênio a partir de biomassa, também é possível produzir SAF com o hidrogênio verde, feito a partir de eletrólise com energias renováveis, o que a governadora Fátima Bezerra também vê como grande oportunidade para o estado.

“O Nordeste responde por 80% dos parques eólicos instalados hoje no Brasil. E o Rio Grande do Norte responde por cerca de 30% da produção de energia eólica no Brasil”, destaca Bezerra.

Ela acredita que até 2026, o estado deverá contar com 13,5 GW de potência instalada, considerando a inclusão de mais usinas solares e de biomassa. Isso sem contar com a expectativa dos futuros parques eólicos offshore. Hoje, dez estão em licenciamento no estado, somando mais 17 GW.

“Estamos olhando para aquilo que o mundo está olhando, que é combustível do futuro, o hidrogênio verde (…) Vamos lançar estudos para orientar as empresas a instalarem suas estruturas físicas de transmissão para eólica offshore”, anunciou a governadora.

Para ela, novas linhas de transmissão são essenciais para seguir a expansão das renováveis no estado e na região Nordeste.

“Daí exatamente nossa tratativa junto ao governo federal para a realização dos leilões. O Nordeste não vai abrir mão da realização desses quatro leilões”.

Em junho, a Aneel realizou o primeiro deles, somando R$ 15,7 bilhões em investimentos. O segundo leilão, com investimentos previstos de R$ 21,7 bi já teve seu edital aprovado e deve ocorrer em dezembro deste ano. Enquanto o terceiro leilão, que prevê 6.475 km de novas linhas, está atualmente em consulta pública.

Políticas para incentivo à descarbonização aérea

Para o presidente da Airbus, Gilberto Peralta, o Brasil precisa de políticas públicas de incentivo à descarbonização do transporte aéreo.

“Não é só importante, é crucial. O Brasil assinou um acordo de produção e abastecimento de avião com SAF”, disse à epbr.

O governo ainda trabalha na aprovação do marco legal do Combustível do Futuro, um programa do governo federal – herdado da gestão anterior – em que são discutidos os mandatos para combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e a inserção de alternativas verdes ao biodiesel no transporte.

Entre as metas incluídas no texto está que os operadores aéreos deverão reduzir as emissões de CO2 em 1%, no mínimo, a partir de 1º de janeiro de 2027, em voos domésticos, usando SAF misturado ao querosene fóssil.

“Tem que ter Incentivos fiscais. É um combustível nascente que é caro ainda, e tem que ter seu tempo e maturação e atingir seu valor. O poder público tem que criar regras fiscais, algum tipo de incentivo temporário”, defende Peralta.

Segundo ele, o país tem condições, a partir de uma regulação, de aproveitar as potencialidades de cada região na produção de SAF.

“Cada região vai produzir SAF de uma matéria-prima diferenciada, no interior de São Paulo pode produzir SAF de álcool, por exemplo”.

Rotas para o SAF

Hoje, a única rota em escala comercial para o SAF é a HEFA, a partir da hidrogenação de óleos vegetais.

Já, no caso da planta Rio Grande do Norte, a rota é Fischer-Tropsch, em que a glicerina é transformada em gás de síntese, em uma mistura de que combina hidrogênio renovável e monóxido de carbono. O gás de síntese passa por um reator Fischer-Tropsch, e é convertido em SAF.

Hoje, a glicerina, subproduto da produção do biodiesel, é importada em grande parte para China, para utilização na indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia.

Já no próximo mês, a primeira amostra do combustível produzido na unidade será enviada à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis para certificação e comercialização.

“Temos um equipamento de estudo bem avançado. Uma planta bem próxima do que seria uma comercial”, conta Amanda Gondim, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenadora da Rede Brasileira de Bioquerosene (RBQAV), que participou da elaboração do projeto.

O jornalista viajou a convite e com despesas pagas pela Agência de Cooperação Alemã (GIZ)