NATAL – A Agência de Cooperação Alemã (GIZ) e o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) inauguraram, nesta terça (5/9), uma planta piloto no Rio Grande do Norte para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, sigla em inglês), utilizando hidrogênio verde da glicerina – subproduto do biodiesel.
“É um passo muito importante para tornar o nosso estado, o Nordeste e o Brasil protagonistas nesse movimento da transição energética, rumo a um mundo descarbonizado”, disse a governadora Fátima Bezerra (PT), à agência epbr.
A ideia é que o projeto piloto possa ganhar escala para atender a demanda das companhias áreas, que precisam reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
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A demanda global por combustível sustentável de aviação deve saltar de 100 milhões de litros por ano, em 2021, para 5 bilhões em 2025, segundo estimativa da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês).
“Ações como essa são importantes para fomentar o protagonismo do Rio Grande de Norte nas energias renováveis”, diz a governadora.
Demanda alemã
O diretor do projeto H2 Brasil, da GIZ, Markus Francke, acredita que o Brasil poderá ser um grande fornecedor de combustível de aviação sustentável para o mundo, incluindo a Alemanha.
O país lançou no final do ano passado o primeiro leilão da política H2Global para contratos de longo prazo de fornecimento de hidrogênio verde (H2V) na forma de derivados: amônia, metanol e SAF.
“O Brasil tem potencial muito grande para ser um grande produtor, especialmente o rio Grande do Norte, que possui mais de 80% da sua energia produzida de forma renovável”. diz Markus Francke, diretor do projeto H2 Brasil, da GIZ.
Expansão das renováveis
Além do hidrogênio a partir de biomassa, também é possível produzir SAF com o hidrogênio verde, feito a partir de eletrólise com energias renováveis, o que a governadora Fátima Bezerra também vê como grande oportunidade para o estado.
“O Nordeste responde por 80% dos parques eólicos instalados hoje no Brasil. E o Rio Grande do Norte responde por cerca de 30% da produção de energia eólica no Brasil”, destaca Bezerra.
Ela acredita que até 2026, o estado deverá contar com 13,5 GW de potência instalada, considerando a inclusão de mais usinas solares e de biomassa. Isso sem contar com a expectativa dos futuros parques eólicos offshore. Hoje, dez estão em licenciamento no estado, somando mais 17 GW.
“Estamos olhando para aquilo que o mundo está olhando, que é combustível do futuro, o hidrogênio verde (…) Vamos lançar estudos para orientar as empresas a instalarem suas estruturas físicas de transmissão para eólica offshore”, anunciou a governadora.
Para ela, novas linhas de transmissão são essenciais para seguir a expansão das renováveis no estado e na região Nordeste.
“Daí exatamente nossa tratativa junto ao governo federal para a realização dos leilões. O Nordeste não vai abrir mão da realização desses quatro leilões”.
Em junho, a Aneel realizou o primeiro deles, somando R$ 15,7 bilhões em investimentos. O segundo leilão, com investimentos previstos de R$ 21,7 bi já teve seu edital aprovado e deve ocorrer em dezembro deste ano. Enquanto o terceiro leilão, que prevê 6.475 km de novas linhas, está atualmente em consulta pública.
Políticas para incentivo à descarbonização aérea
Para o presidente da Airbus, Gilberto Peralta, o Brasil precisa de políticas públicas de incentivo à descarbonização do transporte aéreo.
“Não é só importante, é crucial. O Brasil assinou um acordo de produção e abastecimento de avião com SAF”, disse à epbr.
O governo ainda trabalha na aprovação do marco legal do Combustível do Futuro, um programa do governo federal – herdado da gestão anterior – em que são discutidos os mandatos para combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e a inserção de alternativas verdes ao biodiesel no transporte.
Entre as metas incluídas no texto está que os operadores aéreos deverão reduzir as emissões de CO2 em 1%, no mínimo, a partir de 1º de janeiro de 2027, em voos domésticos, usando SAF misturado ao querosene fóssil.
“Tem que ter Incentivos fiscais. É um combustível nascente que é caro ainda, e tem que ter seu tempo e maturação e atingir seu valor. O poder público tem que criar regras fiscais, algum tipo de incentivo temporário”, defende Peralta.
Segundo ele, o país tem condições, a partir de uma regulação, de aproveitar as potencialidades de cada região na produção de SAF.
“Cada região vai produzir SAF de uma matéria-prima diferenciada, no interior de São Paulo pode produzir SAF de álcool, por exemplo”.
Rotas para o SAF
Hoje, a única rota em escala comercial para o SAF é a HEFA, a partir da hidrogenação de óleos vegetais.
Já, no caso da planta Rio Grande do Norte, a rota é Fischer-Tropsch, em que a glicerina é transformada em gás de síntese, em uma mistura de que combina hidrogênio renovável e monóxido de carbono. O gás de síntese passa por um reator Fischer-Tropsch, e é convertido em SAF.
Hoje, a glicerina, subproduto da produção do biodiesel, é importada em grande parte para China, para utilização na indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia.
Já no próximo mês, a primeira amostra do combustível produzido na unidade será enviada à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis para certificação e comercialização.
“Temos um equipamento de estudo bem avançado. Uma planta bem próxima do que seria uma comercial”, conta Amanda Gondim, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenadora da Rede Brasileira de Bioquerosene (RBQAV), que participou da elaboração do projeto.
O jornalista viajou a convite e com despesas pagas pela Agência de Cooperação Alemã (GIZ)