Energia

Rio de Janeiro precisa usar G20 como oportunidade para atrair indústria de baixo carbono, defende associação

Para executivo da Rio Indústria, esse é o momento de o estado apresentar soluções para indústrias que precisam produzir com menos emissões

Rio de Janeiro precisa usar presidência do Brasil no G20 para atrair produção industrial de baixo carbono, defende Gladstone Santos [na imagem], presidente interino da Rio Indústria (Foto: Divulgação)
Presidente interino da Rio Indústria, Gladstone Santos (Foto: Divulgação)

RIO – O Rio de Janeiro precisa aproveitar a chance de sediar o G20 este ano como uma oportunidade de se posicionar para a atração de indústrias interessadas em descarbonizar processos produtivos, defende o presidente interino da Associação de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Rio Indústria), Gladstone Santos.

Para ele, esse é o momento de o estado apresentar soluções para indústrias que precisam produzir com menos emissões, dada a abundância de fontes de energia e a necessidade fluminense de se reindustrializar.

“O G20 deste ano vai ter um foco muito voltado para a questão das energias de baixo carbono e para a possibilidade de o Brasil atender a essa demanda. Essa é uma oportunidade”, diz Gladstone.

Em 2024, o Brasil exerce a presidência do G20, considerado o principal fórum de cooperação econômica internacional. A cúpula de líderes está marcada para novembro, na capital fluminense. Esta semana, o Rio começou a receber as reuniões prévias ao evento, com uma plenária de chanceleres.

Gás para indústrias intensivas

Nos últimos anos, a economia fluminense perdeu indústrias e passou a ser mais dependente do setor extrativo, sobretudo com base na produção de petróleo e gás. Em 2023, o Rio foi responsável por 85,6% da produção brasileira de petróleo e 72,3% da produção nacional de gás natural, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Para Santos, a oferta de gás na costa fluminense é também uma oportunidade para atrair indústrias intensivas nesse energético, como a produção de fertilizantes.

A política industrial do governo federal, apresentada no plano Nova Indústria Brasil em janeiro, também pode ser positiva nesse sentido, mas, segundo o executivo, tende a favorecer sobretudo empreendimentos já existentes.

“A primeira coisa que precisamos fazer é mapear as oportunidades no Rio, principalmente com base nas matrizes disponíveis hoje”, afirma.

A Rio Indústria acompanha com atenção as discussões sobre a construção da Rota 4B, gasoduto que pode ligar a Bacia de Santos ao Porto de Itaguaí. O projeto é alvo de disputa entre Rio e São Paulo.

“Precisamos ter uma indústria no estado que agregue valor ao gás como matéria-prima, ao invés de levar esse gás para outros lugares. Não podemos perder mais uma oportunidade”, defende.

Competitividade é desafio

Além da abundância de fontes de energia, outros fatores que favorecem a atratividade do Rio para a produção industrial são a proximidade com o mercado consumidor, a infraestrutura de portos e aeroportos e a presença de mão de obra especializada, assim como de grandes centros de pesquisa e universidades.

“Mas a energia de baixo carbono está presente no Rio, assim como no país inteiro, então precisamos competir com outros estados. Precisamos melhorar muito em alguns pontos. O Rio não tem a melhor imagem para atrair empresas, principalmente pelo histórico de insegurança jurídica”, observa o executivo.

Os altos impostos e a falta de segurança jurídica são alguns dos fatores que prejudicam a competitividade industrial no estado, na visão de Gladstone. Ele cita o recente aumento da alíquota de ICMS, que passou de 18% para 20% este ano, acrescido de mais 2% destinados ao fundo de combate à pobreza.

Além disso, outros fatores que atrapalham a competitividade fluminense são as questões de segurança pública e as altas tarifas de energia elétrica, impactadas pelos grandes índices de furto. Os chamados “gatos” são um problema histórico para a Light, distribuidora que atende o estado do Rio.

Gladstone afirma que a baixa representatividade do setor industrial na assembleia legislativa (Alerj) dificulta o avanço de pautas favoráveis a esse segmento no estado.

O executivo lembra que, com a aprovação da reforma tributária no Congresso, a janela para usar incentivos fiscais para atrair investimentos está se encerrando. Depois de implementada, a partir de 2030, a reforma vai acabar com a “guerra fiscal” entre estados.

“Estamos próximos de uma virada de chave. Só temos mais oito anos pela frente”, diz o presidente da Rio Indústria.

Santos afirma que, inicialmente, a concentração de tributos sobre o consumo prevista na reforma tributária tende a favorecer o Rio, que tem o segundo maior mercado consumidor do país. Entretanto, o cenário pode mudar caso a economia fluminense não mantenha a capacidade de atração de mão de obra.

“Se não corrermos atrás agora de atrair novas indústrias, principalmente aquelas que pagam salários melhores, daqui a pouco o Rio não terá mais um dos maiores mercados consumidores do país”, completa.