Diálogos da Transição

Restrição de oferta e altos preços do gás estão levando à substituição por carvão

Movimento ocorre em mercados com capacidade ociosa de usinas a carvão, principalmente países europeus, que buscam alternativas ao gás russo

Baixa oferta e altos preços estão levando à substituição do gás por carvão. Na imagem, mina de carvão (Foto: Anatoliy Stafiçuk/Pixabay)
IEA vê o uso de carvão para energia aumentando ligeiramente em 2022 (Foto: Anatoliy Stafiçuk/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em agosto.
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Os altos preços do gás natural e restrições de oferta estão levando a uma substituição da fonte por carvão na geração de energia — a mais poluente das opções — mostra o mais recente levantamento da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

O movimento ocorre em mercados com capacidade ociosa de usinas a carvão, principalmente países europeus, que precisam de alternativas para reduzir sua dependência das importações de gás russo.

Para garantir o fornecimento de energia após a invasão da Ucrânia pela Rússia, alguns países europeus atrasaram os planos de eliminação do carvão e suspenderam restrições impostas anteriormente, alerta a agência.

Dados da IEA mostram que, no primeiro semestre de 2022, os preços médios do gás natural na Europa foram quatro vezes maiores do que no mesmo período de 2021, enquanto os preços do carvão subiram três vezes. Como resultado, os preços da eletricidade no atacado mais do que triplicaram.

Globalmente, a agência vê o uso de carvão para energia aumentando ligeiramente em 2022, com o crescimento na Europa equilibrado por contrações na China, aumento na capacidade de renováveis ​​e desaceleração na demanda de eletricidade, que deve crescer 2,4% em 2022, após o aumento de 6% no ano passado.

Aumento limitado. Já uma análise do think tank sobre clima e energia Ember avalia que os planos na Europa de colocar as usinas a carvão no modo reserva teriam impacto limitado nas emissões e nos compromissos climáticos.

Alemanha, Áustria, França e Holanda anunciaram recentemente planos para permitir o aumento da geração de energia a carvão no caso de o fornecimento de gás russo parar repentinamente.

“Isso permitiria que o gás que estava sendo usado para a produção de eletricidade fosse desviado para outro lugar, em particular para instalações de armazenamento de gás, para que pudessem atingir os níveis de 90% necessários até novembro”, explica Sarah Brown, analista sênior de Energia e Clima da Ember.

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No total, 13,5 GW de centrais a carvão serão colocados em stand-by em instalações de reserva de abastecimento, adicionando 12% à capacidade de carvão existente da UE (109 GW) e 1,5% à sua capacidade total de geração de energia instalada (920 GW).

Pelos cálculos da Ember, o aumento das emissões em 2023 seria de 30 milhões de toneladas de CO₂, representando 1,3% das emissões totais de CO₂ da União Europeia em 2021 e 4% das emissões anuais do setor elétrico.

Além disso, os principais prazos de saída do carvão ainda estão em andamento, destaca Sarah.

“A Europa encontra-se nesta situação urgente devido a erros passados ​​na política energética. Apesar dos inúmeros sinais de alerta, os estados membros da UE ignoraram os riscos da dependência excessiva do gás importado e negligenciaram a necessidade de substituí-lo rapidamente por energias renováveis ​​domésticas”, comenta.

“Consequentemente, agora enfrenta a difícil decisão de emergência de depender temporariamente do carvão enquanto aumenta substancialmente sua implantação de energia limpa. Erros que a Ásia não pode se dar ao luxo de repetir”.

Na Ásia, o desafio é vencer a fragmentação do mercado. Em 2020, a taxa de descarbonização regional ficou em 0,9%, bem abaixo da média global de 2,5%, mostra relatório da Janus Henderson.

Metas para cortar o gás

Na última quarta (20/7), a Comissão Europeia apresentou uma proposta de metas para que todos os estados da UE reduzam voluntariamente o consumo de gás em 15%, isto é, 45 bilhões de metros cúbicos entre agosto de 2022 e março de 2023.

O volume é baseado no consumo médio dos países entre 1º de agosto e 31 de março nos últimos cinco anos. Inicialmente, a proposta é voluntária, mas há a possibilidade de reduções obrigatórias. Argus

Adições renováveis

Ainda de acordo com a IEA, a geração global de energia renovável deve aumentar em mais de 10% em 2022.

A agência calcula um declínio de 3% da energia nuclear, e um aumento geral de 7% na geração de baixo carbono, levando a uma queda de 1% na geração total baseada em combustível fóssil.

Já as emissões de CO₂ do setor elétrico devem diminuir menos de 1% em 2022.

“Embora se espere que a demanda por eletricidade continue em um caminho de crescimento semelhante em 2023, as perspectivas são obscurecidas pela turbulência econômica e pela incerteza sobre como os preços dos combustíveis podem afetar o mix de geração”, alerta.

Por aqui, valoração da GD

Enquanto isso, no Brasil, setor elétrico discute valoração dos atributos da geração distribuída.

Em junho, a geração distribuída alcançou a marca de 11 gigawatts (GW) de potência instalada no Brasil, com a maior parte da energia (10,8 GW) sendo gerada por painéis fotovoltaicos. A expectativa é atingir a marca de 15 GW até o fim do ano.

Na semana passada, o Ministério de Minas e Energia (MME) encerrou a consulta pública que deve servir como base para definir os cálculos de valoração da GD, um desdobramento da lei 14.300/2022 sancionada em janeiro, que retira os subsídios para a geração própria.

Ao todo, a consulta recebeu 32 contribuições do setor elétrico e sociedade civil. Confira os destaques das contribuições na matéria de Ana Guerra

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Uma mensagem do Programa PotencializEE:

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