Diálogos da Transição

Reservas de fósseis estouram sete vezes o orçamento de carbono

Registro Global mostra que produzir e queimar as reservas mundiais renderia mais de 3,5 trilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa

Reservas de fósseis estouram sete vezes o orçamento de carbono
Potencial de emissões de reservas globais é mais de sete vezes o orçamento de carbono restante para 1,5°C (Foto: Simon J./Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Lançado esta semana, o Registro Global de Combustíveis Fósseis mostra que produzir e queimar as reservas mundiais renderia mais de 3,5 trilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa.

O volume é mais de sete vezes o orçamento de carbono restante para o limite de 1,5°C de aumento da temperatura global e mais do que todas as emissões produzidas desde a revolução industrial.

O IPCC (painel de cientistas da ONU) alerta que, se as economias globais não entrarem em uma rota de descarbonização mais agressiva, o mundo pode ficar 1,6ºC mais quente em 20 anos; e esquentar 2,4ºC até meados do século.

cada trilhão de toneladas de CO₂ emitidas cumulativamente na atmosfera, há um aumento na temperatura global de 0,27ºC a 0,63ºC. Leia na epbr

Embora seja pouco provável que todo esse óleo, gás e carvão seja explorado, os dados de emissões servem para subsidiar decisões de empresas e governos em relação a novos projetos.

“O Registro Global tornará os governos e as empresas mais responsáveis ​​por seu desenvolvimento de combustíveis fósseis, permitindo que a sociedade civil vincule as decisões de produção às políticas climáticas nacionais”, explica Mark Campanale, fundador do Carbon Tracker, iniciativa por trás da plataforma.

“Da mesma forma, permitirá que bancos e investidores avaliem com mais precisão o risco de ativos específicos ficarem encalhados”, completa.

O objetivo é pressionar a redução da oferta de fósseis, já que, até o momento, a maior parte dos esforços climáticos se concentra na demanda e consumo.

O registro contém dados para mais de 50 mil campos em 89 países, cobrindo 75% da produção global.

Entre outras coisas, mostra que os Estados Unidos e a Rússia possuem reservas de combustível fóssil suficientes para estourar todo o orçamento global de carbono, mesmo que todos os outros países cessassem a produção imediatamente.

Dentre os 50 mil, o mais intensivo em emissões é o campo de petróleo de Ghawar, na Arábia Saudita, que emite aproximadamente 525 milhões de toneladas de carbono a cada ano.

A Carbon Tracker Initiative também trabalhou com a Extractive Industries Transparency Initiative (EITI) para comparar as emissões geradas pela produção de combustíveis fósseis e os impostos pagos pelas empresas produtoras em 20 países membros da EITI.

E concluiu que há uma grande discrepância nos impostos por tonelada de emissões, com o Iraque gerando quase US$ 100 em impostos por tonelada de emissões, em comparação com pouco mais de US$ 5 por tonelada no Reino Unido.

Cobrimos por aqui:

‘Race to zero’ contra fósseis

A campanha Race to Zero, da Organização das Nações Unidas (ONU) mencionou explicitamente, pela primeira vez, a necessidade de “eliminar gradualmente” novos ativos em combustíveis fósseis, em sua recente atualização de critérios.

Os mais de dez mil signatários da campanha – que vão desde governos nacionais e subnacionais, a grandes empresas e instituições financeiras – terão prazo de um ano para cumprir os novos requisitos, sob risco de serem removidos da corrida.

Os critérios são divididos em “Linha de Partida”, que são os requisitos mínimos que todos os membros devem atender, e um conjunto de “Práticas de Liderança” opcionais de alta ambição.

Net zero 2050, ou antes se possível

Na Linha de Partida, os membros devem se comprometer a “atingir [emissões líquidas] zero de gases de efeito estufa o mais rápido possível e até 2050, o mais tardar” e com uma “parte justa” do corte de 50% nas emissões globais de CO₂ que o IPCC diz necessária até 2030.

Para isso, eles precisam acelerar a “implantação de tecnologias existentes prontas para o mercado, como eficiência energética e energia renovável ”, enquanto “eliminam gradualmente todos os combustíveis fósseis inabaláveis”.

Também devem restringir o “desenvolvimento, financiamento e facilitação de novos ativos fósseis”, incluindo novos projetos de carvão.

Por falar em carvão

Um estudo da Reclaim Finance chama a atenção para os principais bancos estadunidenses, que continuam a injetar bilhões de dólares em empresas que desenvolvem novas minas de carvão, usinas e infraestrutura.

Desde 2019, JPMorgan Chase, Citigroup, Bank of America, Morgan Stanley e Goldman Sachs forneceram coletivamente US$ 40 bilhões para desenvolvedores desses projetos.

“Os bancos americanos estão nos levando ao caos climático. À luz dos recentes eventos climáticos extremos, eles não podem se dar ao luxo de perder mais tempo e devem parar de financiar a expansão do carvão”, comenta Lucie Pinson, diretora administrativa e fundadora da Reclaim Finance.

A organização avalia que, além de terem adotado políticas ineficazes para acabar com a expansão do carvão desde o Acordo de Paris, em 2015, os bancos continuaram a firmar novos acordos de apoio aos projetos fósseis depois de ingressar na Net Zero Banking Alliance (NZBA). Veja o relatório (.pdf)

Curitiba inicia testes para eletrificar frota de ônibus

A iniciativa pretende diminuir o impacto ambiental causado pelos coletivos na capital, responsáveis por cerca de 67% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) do setor de mobilidade.

Os testes seguirão até março de 2023, a partir de um edital público para os fabricantes que desejarem experimentar a frota elétrica. A experiência também vai validar as configurações dos itinerários, verificar o desempenho dos transportes e aperfeiçoar o treinamento de motoristas na nova tecnologia.

Tem apoio técnico da Iniciativa Transformadora de Mobilidade Urbana (Tumi, sigla em inglês), que também atua em outras cidades do país, como São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Salvador.

Raízen vai fornecer energia à Aegea Saneamento

A produtora de bioenergia iniciou operação de duas usinas fotovoltaicas na cidade de Taquaritinga (SP) para o fornecimento de energia renovável a duas concessionárias da Aegea. Juntas, as plantas fotovoltaicas possuem capacidade para gerar 200 MWh/mês.