RIO – A Repsol anunciou nesta quarta (10/4) a aquisição de uma fatia de 40% na Genia Bioenergy. A operação marca a entrada da petroleira espanhola no mercado de biometano.
O negócio inclui o desenvolvimento de 19 plantas de produção do gás renovável a partir de resíduos agrícolas e pecuários na Espanha e em Portugal – e que totalizam uma capacidade de 1,5 TWh por ano. Outros 11 projetos estão em fase inicial de desenvolvimento.
A Repsol vai adquirir todo o gás renovável produzido por esses projetos, tanto para consumo interno como para comercialização.
A Genia Bioenergy atua de forma integrada no setor de biometano, desde o desenvolvimento de tecnologias e soluções e engenharia à construção e operação técnica dos projetos.
Em nota à imprensa, o diretor-geral de Transformação Industrial e Economia Circular da Repsol, Juan Abascal, destacou que a aquisição permite à multinacional se posicionar “como um player integrado em toda a cadeia de valor do biometano”, em linha com o plano estratégico 2024-2027 da companhia.
O planejamento prevê a transformação dos complexos industriais da Repsol em centros multienergéticos.
Petroleiras fincam o pé no biometano
A Repsol é mais uma petroleira global a fincar os pés no mercado de biometano, dentro dos planos de descarbonização da indústria de óleo e gás.
A Shell concluiu em 2023 a aquisição de 100% da Nature Energy Biogas, a maior produtora de biometano da Europa, com sede na Dinamarca. O negócio girou em torno de quase US$ 2 bilhões.
Também na Europa, a TotalEnergies praticamente dobrou a sua produção de biometano em 2023, para 1,1 TWh equivalentes. O crescimento é fruto de aquisições no setor.
Nos últimos anos, a companhia comprou empresas como a francesa Fonroche Biogaz e a polonesa Biogazowa. A petroleira também formou joint ventures na Índia (Adani Total Gas) e Estados Unidos (Clean Energy)
Nos Estados Unidos, a Chevron também está investindo no setor. A multinacional aposta em joint ventures – Brightmark RNG Holdings e CalBioGas – para produção e comercialização do gás renovável; e comprou 100% da Beyond6 e sua rede de abastecimento.
Ainda no mercado estadunidense, a bp comprou a Archaea Energy, por cerca de US$ 4,1 bilhões. A petroleira britânica prevê colocar em operação entre 15 e 20 plantas de biometano por ano até 2025.
No Brasil…
As petroleiras acompanham com atenção os desdobramentos do PL do Combustível do Futuro no Congresso. Em março, a Câmara dos Deputados aprovou, no texto do projeto, a criação de um programa de descarbonização do mercado de gás natural, por meio da inserção do gás renovável na matriz.
Produtores e importadores de gás terão que comprar a molécula de biometano – ou adquirir os Certificados de Garantia de Origem de Biometano (CGOB) – para comprovar metas anuais de redução de emissões definidas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
A matéria agora está no Senado, onde Veneziado Vital do Rêgo (MDB/PB) assumiu a relatoria do PL na Comissão de Infraestrutura.
O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) vê com preocupação a proposta. A entidade levanta dúvidas sobre a capacidade da indústria de biometano de ofertar os volumes necessários para atender às metas de descarbonização – e alerta para um possível encarecimento do gás natural com a medida.
Assista na íntegra a entrevista do presidente do IBP, Roberto Ardenghy, ao estúdio epbr.
O diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, vê potencial para uso do biometano para produção do hidrogênio que a estatal consome em suas refinarias, mas também faz ressalvas à proposta do Combustível do Futuro.
Ele argumenta que forçar os produtores de gás a comprar biometano pode encarecer o gás.
“Nós somos um off-taker [comprador] potencial desse biometano. Não sei se é o caso de entrarmos produzindo, porque são unidades menores, então tem que ver se adequa ao tamanho da Petrobras essa atividade, mas faz sentido comprarmos esse biometano e usar para produzir, por exemplo, hidrogênio nas nossas refinarias”, disse em entrevista ao estúdio epbr. Veja na íntegra a entrevista