Biocombustíveis

Reino Unido quer aumentar oferta de bioenergia investindo em captura de carbono

Consulta pública vai até outubro e pode servir de inspiração para o Brasil

Reino Unido quer ofertar mais bioenergia associada a captura de carbono. Na imagem: Usina de Drax, em Yorkshire, na Inglaterra, realiza captura e armazenamento de carbono de bioenergia (BECCS) para capturar até 1 tonelada de CO₂ diariamente (Foto: Drax/Divulgação)
Usina de Drax, em Yorkshire, na Inglaterra, realiza captura e armazenamento de carbono de bioenergia (BECCS) para capturar até 1 tonelada de CO₂ diariamente (Foto: Drax/Divulgação)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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O governo do Reino Unido lançou hoje (11/8) uma consulta pública para desenhar sua política de apoio à geração de bioenergia associada à captura e armazenamento de carbono, tecnologia conhecida como BECCS (Bioenergy with Carbon Capture and Storage).

A ideia é alavancar o investimento privado no segmento para dar resposta a dois grandes dilemas: garantir segurança energética e alcançar neutralidade de carbono. O país quer ter um sistema de energia totalmente descarbonizado até 2035.

Líder mundial em energia eólica offshore, quase metade da capacidade energética sem carbono deve vir dos ventos em alto mar. Outra parte virá da geração solar, de oito novas usinas nucleares e da biomassa.

Mas é preciso garantir a sustentabilidade dessa biomassa.

No mundo, há um debate sobre os limites da bioenergia, dadas as necessidades de terra e água, concorrência com a produção de alimentos e conflitos com populações locais.

A consulta lançada hoje está atrelada ao financiamento governamental de 37 milhões de libras concedido no início do mês a projetos de biomassa sustentável em todo o Reino Unido.

Power BECCS

Chamado Power BECCS, o programa mira o alcance de emissões negativas para compensar as de outros setores mais difíceis de descarbonizar, como agricultura e aviação. Ao mesmo tempo, tenta reduzir a exposição à volatilidade do mercado de óleo e gás — vide os impactos do conflito Rússia-Ucrânia.

“A biomassa será uma parte importante do futuro mix de energia renovável do Reino Unido, que será vital para garantir a segurança energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis caros”, diz a nota de lançamento da consulta.

Segundo o Departamento de Negócios e Energia, a biomassa hoje gera energia renovável suficiente para abastecer quatro milhões de residências.

Ao incentivar a geração de bioenergia enquanto armazena o carbono liberado no processo, o governo espera aumentar a produção de energia doméstica com emissões negativas — removendo o dióxido de carbono da atmosfera — criando também uma indústria nova no país.

O CO₂ absorvido durante o crescimento da biomassa pode ser removido permanentemente da atmosfera usando tecnologias de captura de carbono.

Vale dizer que os planos se estendem à cadeia do hidrogênio. O Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial prevê um aporte de cinco milhões de libras no Hydrogen BECCS Innovation Program — para apoiar o desenvolvimento de novas tecnologias de hidrogênio a partir de biomassa e resíduos com captura e armazenamento de carbono.

consulta vai até outubro e pode servir de inspiração para o Brasil.

BECCS aparece nas diretrizes brasileiras para o clima, por exemplo, e no Plano de Descarbonização de Pernambuco.

Ainda não há uma política específica para a tecnologia, apesar do grande potencial, já que o Brasil está entre os maiores produtores de biocombustíveis do mundo.

O tema entrou na agenda do programa Combustível do Futuro, comandado pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Foi criado um subcomitê para “propor marco legal para captura e armazenamento de carbono associada à produção de biocombustíveis”, o Probioccs. As atividades do subcomitê encerraram em junho, mas nenhuma proposta oficial foi divulgada até o momento.

No final de março, um outro subcomitê, que trata de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, na sigla em inglês), incluiu a captura de carbono na proposta de marco legal para o SAF.

A apresentação divulgada pelo governo não detalha, mas indica um capítulo com três artigos sobre o tema. Veja aqui (.pdf)

CCUS na ABNT

O Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI) está desenvolvendo junto com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) as normas técnicas para tecnologias de Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (CCUS, na sigla em inglês).

Um dos objetivos é especificar elementos ou produtos que utilizam CO₂ em sua composição. E a motivação para desenvolver as regras veio do Programa Hidrogel, financiado pela Shell Brasil.

Composto por material orgânico, o hidrogel será produzido com moléculas sintetizadas a partir de CO₂. Uma vez usado no plantio, os grânulos do produto se degradariam e liberariam o carbono para estocá-lo no solo.

“Queremos determinar, por exemplo, a quantidade de carbono capturada por esse produto, quanto ele pode fornecer em crédito de carbono incluindo o ciclo de produção e utilização, entre outras possibilidades de regulamentação técnica sobre o tema. São informações que atraem a atenção de investidores”, explica o engenheiro Alberto J. Fossa, integrante do RCGI.

As normas não ficarão restritas ao produto da Shell. “A ideia é ter uma rota metodológica de cálculo que sirva para outros produtos. A comissão [na ABNT] foi criada para estimular debates sobre os temas que interessam ao Brasil no ambiente de CCUS de forma geral”, aponta Fossa.

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