Biocombustíveis

Raízen prepara terreno para biometano em frotas agrícolas

Empresa desenvolveu estrutura de abastecimento para caminhões que passaram a utilizar GNV como combustível

Raízen se prepara para o uso de biometano em frotas agrícolas. Na imagem: Vista aérea das instalações em planta de biogás da Raízen no parque de bioenergia Bonfim, em Guariba, São Paulo (Foto: Divulgação)
Planta de biogás da Raízen no parque de bioenergia Bonfim, em Guariba, São Paulo (Foto: Divulgação)

BRASÍLIA — A produtora brasileira de bioenergia Raízen está investindo no uso de gás natural veicular (GNV) para substituir os combustíveis fósseis em frotas agrícolas e dando os primeiros passos para a inserção do  biometano em suas operações.

Atualmente, a Raízen desenvolve dois projetos-piloto em parques de bioenergia em Araraquara e Paraíso, em São Paulo, nas operações de transporte de cana-de-açúcar.

A cana é utilizada como matéria-prima na geração de bioenergia através do bagaço e na produção de etanol de segunda geração (E2G).

Durante a fase de testes, a empresa desenvolveu uma estrutura de abastecimento para os caminhões, que passaram a utilizar GNV como combustível. Também lançou um kit que faz a conversão dos motores a diesel para gás.

O GNV foi utilizado no abastecimento de dois caminhões híbridos e um 100% gás. Nos híbridos a substituição de diesel por gás foi de 30%, em média.

Além de ser uma alternativa aos combustíveis líquidos, o GNV é similar ao biometano. Com o investimento na tecnologia de GNV, a Raízen prepara o terreno para quando a oferta do gás renovável alcançar escala.  

O cenário é promissor. Levantamento da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) e da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) mapeou 27 novas plantas de biometano para os próximos anos no Brasil. A expectativa é que a produção nacional atinja 2,2 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia) até 2027. 

A própria Raízen espera construir unidades de produção de biogás em todas as suas 35 usinas sucroalcooleiras, nos próximos dez anos. A expectativa é que as plantas sejam capazes de produzir 3 milhões de m³/dia do combustível, a partir de resíduos da cana.

Para a safra de 2023 e 2024, a produtora de bioenergia estuda expandir o projeto de conversão a gás em caminhões em um dos bioparques. O local, escolhido estrategicamente, acompanhará a instalação de novas unidades produtoras de biometano. 

“Estamos comprometidos com o crescimento sustentável dos negócios, e o biometano é uma grande aposta para o futuro, com potencial para substituir o diesel e a gasolina. Os biocombustíveis se destacam no mercado de renováveis dado sua viabilidade econômica e ambiental, e entendemos que temos um papel fundamental nesse processo de transição energética”, explica Ricardo Lopes, diretor Agrícola da Raízen. 

Expansão renovável

Como plano de expansão, o grupo pretende aumentar as instalações de plantas de biogás e biometano e prevê um crescimento de 80% na produção de energias renováveis até 2030. 

Em abril, a Raízen anunciou a construção de sua primeira planta de biometano, com previsão de inauguração para 2023. 

Com investimento de de R$ 300 milhões, a unidade será instalada no parque de bioenergia Costa Pinto, em Piracicaba (SP), que já opera a planta de E2G. A nova instalação será capaz de produzir 26 milhões de metros cúbicos de gás natural renovável por ano, a partir de resíduos do etanol, como vinhaça e torta de filtro.

A totalidade da produção da nova planta foi comercializada para a Yara Brasil Fertilizantes e para a Volkswagen do Brasil, em contratos de longo prazo.

Parceria com a Scania

Nesta terça (25/10), a companhia fechou um contrato com a fabricante de caminhões Scania para fornecimento médio de 7.800 metros cúbicos de biometano por dia a partir de 2024.

O volume representa 100% do consumo da fábrica da Scania em São Bernardo do Campo (SP). Faz parte das ações que a empresa sueca tem adotado para cumprir suas metas de descarbonização.

“Vínhamos nos preparando para migrar para o biometano, fazendo testes e estudando maneiras para adquirir essa energia renovável de maneira estruturada. A abertura do mercado livre de gás nos possibilitou um novo modelo de negócio”, comenta Christopher Podgorski, CEO da Scania Latin America.

O acordo entre as empresas vai permitir que a Scania adquira as moléculas diretamente da Raízen e, da mesma forma que ocorre com o mercado livre de energia, utilizará um sistema de distribuição, neste caso, da Comgás, a quem a Raízen solicitará um estudo de viabilidade técnica e econômica.