Diálogos da Transição

Queda no preço de painéis solares empolga mercado de geração distribuída

Em junho de 2023, os preços da principal matéria-prima para produção de painéis solares, o polissilício, tiveram queda de 58%

Queda no preço de painéis solares empolga mercado de GD (geração distribuída). Na imagem: Trabalhadores asiáticos, com traços orientais, do sexo masculino, em linha de montagem de módulos fotovoltaicos na China (Foto: Divulgação Jinko Solar)
Fabricação de módulo fotovoltaico na China (Foto: Divulgação Jinko Solar)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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As instalações de geração distribuída no Brasil ultrapassaram 22 GW no primeiro semestre e devem fechar o ano de 2023 com cerca de 26 GW de capacidade, segundo estimativas da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD).

As projeções divulgadas pela associação consideram diversos tipos de geração, como solar, biomassa, biogás, CGHs (Centrais Geradoras Hidrelétricas) e outras fontes renováveis.

No entanto, os painéis solares predominam na modalidade em que a eletricidade é produzida próxima aos centros de consumo, a exemplo de telhados de residências, prédios e comércios.

Dados mais recentes da Aneel mostram que a GD saiu de 18 GW em janeiro, para 22,2 GW de potência instalada em meados de junho, com mais de 2 milhões de sistemas instalados em todas as regiões do país. Desse total, 22 GW são de fonte solar fotovoltaica.

Caso esse ritmo de crescimento seja mantido, a ABGD calcula que os investimentos ao longo deste ano podem ultrapassar a marca de R$ 38 bilhões.

Guilherme Chrispim, presidente da ABGD avalia que a preocupação com as mudanças climáticas e o interesse em diminuir os gastos com energia elétrica são dois motivadores importantes para levar o consumidor a migrar para a autoprodução de eletricidade.

Preços dos sistemas em queda

Mas um fator que impacta bastante a decisão é o preço dos equipamentos.

Entre junho de 2016 e 2022, os sistemas fotovoltaicos residenciais acumularam uma redução de preço de 44% e a tendência é seguir em queda, de acordo com a Greener, consultoria do mercado de energia fotovoltaica.

Em junho de 2023, os preços da principal matéria-prima para produção de painéis solares, o polissilício, tiveram uma queda de 58%, caindo de US$ 30,80/kg, em fevereiro, para US$ 12,62/kg na primeira semana de junho, mostra relatório da Greener.

Excesso de oferta

A China concentra 80% da produção dos painéis do mundo e passou por um aumento da capacidade produtiva e níveis de estoque, o que tem ajudado a puxar os preços para baixo, observa Mário Campo Grande, CEO da franquia de sistemas fotovoltaicos Solarprime.

O executivo explica que, como os módulos representam algo em torno de 38% a 50% do preço final de um sistema fotovoltaico, esse cenário pode contribuir para queda significativa no preço final para o consumidor.

“Há 10 anos, por exemplo, o custo watt dos painéis na China era de quase US$ 1,00. Ano passado, fechou em US$ 0,26/watt. Neste momento, já se encontra a US$ 0,20”, pontua.

“A tendência de queda é latente por outro motivo, além da redução do valor na aplicação do silício: novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas para diminuição do seu uso para produção das placas ou mesmo sua substituição”, completa Campo Grande.

Uma delas é a aplicação de um mineral chamado perovskita, um supercondutor mais barato que o silício que está sendo testado pela indústria, conta.

Consumidores rurais

No mercado brasileiro, a Solarprime indica ainda um segmento aquecido: as instalações rurais cresceram 63% entre 2021 e 2022.

No ano passado, 70,2 mil sistemas de energia solar foram instalados no campo, ante 42,9 mil em 2021.

De agricultores familiares no sertão de Pernambuco a grandes produtores de café no Espírito Santo, a franquia tem observado um aumento na procura pela geração distribuída.

Pelos cálculos da empresa, a economia na conta de energia pode chegar a 95% em quatro anos, aumentando a margem de lucro da produção agrícola.

Como exemplo, conta a história de um agricultor de São José do Belmonte, no sertão de Pernambuco, que para alimentar o sistema de irrigação de sua plantação de maracujá, chegava a pagar cerca de R$ 500 a R$ 800 de conta de energia. Depois de migrar para a GD fotovoltaica, a primeira fatura veio com o valor de R$ 10.

Para Campo Grande, a tendência é que a energia solar se torne cada vez mais acessível a diferentes camadas da sociedade. Um fator que pode impulsionar as vendas, segundo o executivo, é o acesso a linhas de financiamento mais facilitadas para população de baixa renda.

“No futuro, todo o movimento de queda no custo de sistemas, tecnologias e créditos facilitados vão tornar o acesso à energia solar semelhante ao que foi com o celular a uns anos atrás”, compara.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Dieselgate

As montadoras devem pagar indenização por veículos a diesel equipados com dispositivos de controle de emissões ilegais, decidiu o mais alto tribunal federal da Alemanha nesta segunda (26/6). O caso pode custar milhões de euros à Volkswagen, Mercedes-Benz e outras. Reuters

Sem compensação

A temporada de incêndios florestais no Canadá já lançou milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. Parte desse carbono vem da vegetação queimada em um projeto de compensação de carbono, destacando a fragilidade de uma ferramenta da qual o mundo depende para combater mudanças climáticas catastróficas. Bloomberg

Eficiência energética

A EPE lançou um white paper de conceitos e indicadores de eficiência energética. Enquanto a intensidade energética do Brasil vem se mantendo relativamente estável, o índice ODEX do país apresentou ganhos de 12% entre 2005 e 2021. EPE

Caminhão elétrico

A produtora de sucos de laranja Citrosuco anunciou adesão aos testes do caminhão 100% elétrico da Volvo, FM Electric, para transporte de carga entre os municípios paulistas Matão e Santos. A rota liga a fábrica ao Porto de Santos, onde o produto é exportado para mais de 100 países. Os testes são parte de um conjunto de ações da companhia para descarbonizar suas operações.