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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Demanda por eletricidade, resíduos digitais, uso de minerais críticos e consumo de água são as áreas mais afetadas pela economia digital com contribuições negativas para o clima do planeta e ambições de cortar emissões, de acordo com o relatório Economia Digital 2024 da agência das Nações Unidas para o Comércio de Desenvolvimento (Unctad).
Publicado na quarta (10/7), o documento alerta que é preciso uma mudança global nas formas de produção e consumo em direção à circularidade para que a economia digital possa crescer de forma sustentável.
Em 2020, as emissões das TICs (tecnologias da informação e comunicação) alcançaram o patamar de setores como transporte aéreo e marítimo. Foram lançadas entre 69 e 1,6 gigatoneladas de CO2 na atmosfera, isto é, 1,5 a 3,2% das emissões globais de gases de efeito estufa, estima a agência.
“A economia digital está em plena expansão. Os embarques anuais de smartphones mais que dobraram desde 2010, atingindo 1,2 bilhão em 2023. Os dispositivos de Internet das Coisas (IoT) devem aumentar 2,5 vezes de 2023 para 39 bilhões até 2029. Novos dados de 43 países, representando cerca de três quartos do PIB global, mostram que as vendas de comércio eletrônico entre empresas cresceram quase 60% de 2016 a 2022, alcançando US$ 27 trilhões. Esse crescimento está causando um impacto ambiental cada vez maior”, resume o relatório.
Desde a extração e processamento de matérias-primas até a fabricação, distribuição, uso e descarte, muitos recursos são envolvidos e vão deixando um rastro de carbono.
Parte dessas emissões de CO2 está atrelada ao consumo de eletricidade. Em 2022, os centros de dados consumiram 460 terawatts-hora – equivalente ao consumo de 42 milhões de residências nos EUA por um ano. A expectativa é que esse número dobre até 2026.
Inteligência artificial e mineração de criptomoedas em expansão contribuem significativamente com esses números.
Um exemplo é a mineração de Bitcoin, que aumentou sua demanda por eletricidade 34 vezes entre 2015 e 2023, alcançando cerca de 121 terawatts-hora. Segundo a Unctad, esse volume supera o que países como Bélgica ou Finlândia consomem em um ano.
Minerais críticos, resíduos digitais e água
Até 2050, a demanda por minerais críticos, como grafite, lítio e cobalto, pode aumentar em 500%, impulsionada por eletrônicos, baterias de veículos elétricos e armazenamento de energia renovável.
Produzir um computador de 2 kg requer aproximadamente 800 kg de matérias-primas. E a cobertura 5G esperada para aumentar de 25% em 2021 para 85% até 2028 impulsionará o mercado de semicondutores, que já quadruplicou de 2001 a 2022.
O relatório observa que países emergentes são produtores-chave de minerais críticos essenciais para a economia digital, uma oportunidade para desenvolver suas indústrias e economia.
No entanto, isso só vai ocorrer se esses mercados conseguirem agregar valor aos minerais extraídos.
“Essa ambição requer uma mudança estratégica em direção à digitalização sustentável e inclusiva. Isso significa reduzir resíduos e impactos ambientais e melhorar a eficiência do uso de matérias-primas”, indica a Unctad.
No Brasil, um estudo do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) mostra, por exemplo, que o país produz minerais de baixo carbono, mas não consegue a remuneração adequada, isto é, um prêmio verde.
Reduzir resíduos é um desafio e tanto…
Os resíduos relacionados à tecnologia digital aumentaram 30% entre 2010 e 2022, atingindo 10,5 milhões de toneladas globalmente.
Países ricos geram 25 kg de lixo digital por pessoa, em comparação com menos de 1 kg nos países emergentes e apenas 0,21 kg nos países pobres. No entanto, apenas 24% disso foram coletados formalmente no mundo em 2022, com uma taxa de coleta de apenas 7,5% nos países emergentes.
…assim como o consumo de água
O relatório aponta o caso dos Estados Unidos, onde um quinto da pegada hídrica direta dos servidores de centros de dados vem de bacias hidrográficas moderadamente a altamente estressadas: o treinamento do GPT-3 pela Microsoft em seus centros de dados consumiu diretamente cerca de 700 mil litros de água potável.
“O Google revelou que, em 2022, o consumo total de água em seus centros de dados e escritórios foi de 5,6 bilhões de galões (cerca de 21,2 milhões de m3). No mesmo ano, a Microsoft relatou que seu consumo de água foi de 6,4 milhões de m3”, conta a secretária geral da Unctad, Rebeca Grynspan.
Ela observa que o consumo de água pelos centros de dados tem gerado tensões nas comunidades locais em alguns países.
No Uruguai, os planos do Google de construir um centro de dados levou a um debate público. Em 2023, o país experimentou a pior seca em 74 anos, e mais da metade de seus 3,5 milhões de cidadãos ficaram sem acesso a água potável nas torneiras.
Emergentes excluídos
“Nossa mensagem é clara: A economia digital está impulsionando o crescimento global. Mas também está tendo um impacto ambiental crescente. Nossa principal preocupação é como isso afeta nosso meio ambiente e os países em desenvolvimento”, disse a secretária geral durante o lançamento do relatório.
“Os países em desenvolvimento estão sofrendo de forma desproporcional com os impactos das mudanças climáticas. No entanto, eles não estão à frente na colheita dos benefícios da economia digital global. Essa disparidade pode e deve ser revertida”, completou Grynspan.
As recomendações da agência vão desde adotar políticas de economia circular priorizando a reciclagem, reutilização e recuperação de materiais digitais, até regulamentações ambientais mais fortes e investimentos em energia renovável.
“A economia digital é central para o crescimento global e as oportunidades de desenvolvimento, mas seu impacto nas mudanças climáticas e no meio ambiente deve ser reconhecido para abordar adequadamente os desafios”, defende Grynspan.
Cobrimos por aqui
- Emissões globais de energia avançam, mesmo com recordes de renováveis
- Como a expansão de data centers desafia planos de transição energética
- Gargalo para renováveis, minerais são uma nova chance para países do Sul Global
- Corrida por minerais críticos pode agravar conflitos sociais na Amazônia
Curtas
Demanda petroquímica
O aumento da demanda por petróleo como matéria-prima na indústria petroquímica nas próximas três décadas pode compensar a redução do consumo de combustíveis fósseis no setor de transportes, em meio aos esforços internacionais para cortar emissões de carbono, analisa o Energy Outlook da bp, lançado nesta quarta (10/7). Leia na epbr
Nuclear
O presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, defendeu a conclusão célere das obras e a entrada em operação de Angra 3 no mais curto espaço de tempo possível. Disse, ainda, que “abandonar o projeto não sai de graça”, descrevendo um prejuízo multibilionário caso a escolha fosse essa. A declaração foi dada em entrevista exclusiva à epbr nesta quinta (11/7).
Investimentos verdes
O Tesouro Nacional publicou nesta quinta (11/7) a portaria que torna público o primeiro Leilão Eco Invest Brasil, programa de proteção cambial que pretende atrair investidores estrangeiros para projetos selecionados no Plano de Transformação Ecológica do Ministério da Fazenda. Saiba como vai funcionar
Biometano
A Comgás recebeu propostas de 16 fornecedores na chamada pública aberta pela empresa para aquisição de gás natural, com foco a partir de 2025. A distribuidora de gás canalizado de São Paulo busca diferentes perfis de suprimento: quer garantir um contrato de fornecimento firme de longo prazo, mas também mira oportunidades de gás flexível. A companhia recebeu 37 propostas, sendo nove para biometano. Veja detalhes
Refinaria com energia solar
A Acelen, por meio da Refinaria de Mataripe, formou uma joint venture com a Perfin Infra Administração de Recursos e a Illian Energias Renováveis para investir em um projeto de energia solar. A previsão é que o complexo solar de 161MW no semiárido da Bahia comece a operar a partir do terceiro trimestre de 2025 para atender a demanda por energia elétrica da refinaria. Incluído no PAC, o complexo solar tem o aporte de cerca de R$ 530 milhões, sendo R$ 418,5 milhões na modalidade de project finance non-recourse em dólar americano, contratado com o BNDES.
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