Diálogos da Transição

Quão longe estamos da meta de triplicar renováveis?

Mesmo com a implementação total das ambições climáticas atuais, o mundo ficará 30% aquém da meta de triplicar a capacidade renovável global, estima IEA

Na imagem: Geração solar associada a eólica em usina da Shell Energy (Foto: Divulgação)
Geração híbrida solar e eólica em usina da Shell Energy (Foto: Divulgação)

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Editada por Nayara Machado
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Mesmo que todos os países implementem totalmente suas atuais ambições climáticas – as contribuições nacionalmente determinadas ao Acordo de Paris (NDC, em inglês) –, o mundo ficaria 30% aquém de triplicar a capacidade global de energia renovável para mais de 11 terawatts (TW) até 2030.

Esta é uma das principais conclusões da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) em uma análise publicada hoje (4/6) sobre o alinhamento dos planos nacionais com o objetivo de alcançar emissões líquidas zero até meados do século e limitar o aquecimento a 1,5 °C.

As NDCs atuais acrescentam 1,3 TW, apenas 12% da meta de triplicar renováveis acordada na COP28 em dezembro de 2023.

“Para as economias avançadas, o nível de ambição precisa aumentar de um fator de crescimento de 1,9 para 2,5. Para as economias emergentes e em desenvolvimento, o fator de crescimento deve subir de 2,4 para 3,4”, aponta a IEA.

China é vista como uma região chave para a ambição global. O país lidera o consumo de fontes fósseis, com destaque para o carvão, e, consequentemente, contribui de forma significativa para as emissões de gases de efeito estufa.

A IEA observa que o governo chinês ainda não publicou uma meta explícita para 2030 para a capacidade renovável total. No entanto, espera que a meta para 2030 de 1,2 GW de solar fotovoltaica e eólica seja ultrapassada já este ano.

“As estimativas da IEA, tendo em conta as tendências de implantação mais recentes, indicam que a capacidade na China em 2030 deverá ser 2,5 vezes superior ao nível de 2022”.

Economias como Europa, Estados Unidos e Canadá estão a caminho de dobrar sua capacidade de fontes consideradas “limpas” – representando quase 40% da ambição global.

Só os países europeus contribuem com um quinto do total global, enquanto EUA e Canadá têm a ambição de instalar cerca de 1 TW até 2030, ou 13% da ambição global.

Transição emergente

Na América Latina, onde as energias renováveis já representam mais de 60% da geração de eletricidade graças às hidrelétricas, a soma de ambições corresponde a 1,3 vez a capacidade instalada atual – Brasil, sozinho, é responsável por mais da metade da ambição total da região.

Depois de adicionar 22,8 GW em 2022 e 29,4 GW em 2023, a AL é a única onde as instalações podem desacelerar e ainda assim manter a região alinhada. A IEA calcula que a contribuição necessária é de 15,9 GW por ano, em média, até 2030.

Do outro lado do Atlântico, África Subsaariana e Eurásia planejam 3,2 e 1,3 vezes os níveis atuais de renováveis, respectivamente.

Mas é no Oriente Médio e Norte da África que uma expansão acelerada se desenha. Os planos climáticos dos países que compõem a região elevam a capacidade a 4,5 vezes, movimento liderado pela Arábia Saudita, Egito e Argélia. Vale dizer, no entanto, que esses países partem de uma base pequena de participação de fontes como solar e eólica.

Em 2023, a região chegou a 8,2 GW de adições renováveis. Até 2030, a IEA estima que o volume precisa chegar a uma média de 19,5 GW.

Dilema do petróleo no Brasil

Em 2025, na COP30, em Belém do Pará, no Brasil, os países devem apresentar NDCs atualizadas e, de preferência, alinhadas com 1,5°C.

O encontro de líderes globais na Amazônia para discutir políticas climáticas também promete ser palco de debates sobre o caminho que o Brasil seguirá em relação às novas fronteiras exploratórias de petróleo – leia-se, Margem Equatorial.

Parte do governo brasileiro e governos estaduais têm defendido que o país já fez sua transição energética e tem autoridade para continuar explorando suas riquezas naturais, ainda que fósseis.

Na segunda (3/6), os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, disseram – em ocasiões diferentes – que o país tem autoridade para debater transição energética e investir em óleo e gás.

Mesmo discurso do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Durante evento da CNN em São Paulo, ele disse que a discussão precisa ser técnica e o Brasil não deve ser “capturado como vilão”.

“O Ibama deve colocar na mesa quais são as exigências e a Petrobras deve responder se é capaz ou não de fazê-lo. Não apoiaremos e aprovaremos qualquer tipo de exploração que não esteja pautada na regularidade ambiental”.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Mover no Senado

O governo se mobiliza para tentar derrubar a emenda parlamentar do deputado federal Aureo Ribeiro (Solidariedade/RJ) ao Mover (PL 914/2024), que fixa percentuais mínimos obrigatórios de conteúdo local a ser exigido em licitações de blocos para a exploração e produção de petróleo e gás natural. O texto entrou na pauta para ser votado nesta terça-feira (4/6), no Senado Federal. Entenda

Multa por apagão

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, multou a Enel Distribuidora São Paulo em R$ 13 milhões por falhas no fornecimento de energia na capital paulista e demora no restabelecimento do serviço. A medida foi publicada nesta terça-feira (4) no Diário Oficial da União. A empresa tem o prazo de dez dias para recorrer da decisão. Leia na epbr

Isenção para GD

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou nesta terça-feira (4/6), em Belo Horizonte, incentivos para projetos de minigeração distribuída de energia em todo o país. A portaria, que ainda não foi assinada, prevê a isenção do Pis/Cofins por até cinco anos. (Estado de Minas)

Leilão de sistemas isolados

O MME também abriu nesta terça a consulta pública sobre minuta da Portaria de Diretrizes para realização do Leilão de Sistemas Isolados de 2024. O certame tem como objetivo a contratação de solução de suprimento para 15 municípios nos estados do Amazonas e do Pará.

Dinheiro para o RS

O vice-presidente e ministro, Geraldo Alckmin, e a presidente do New Development Bank (NDB), o chamado Banco do Brics, Dilma Rousseff, formalizaram, nesta terça (4), a destinação de US$ 1,115 bilhão (R$ 5,75 bilhões) para apoiar a reconstrução do Rio Grande do Sul, estado atingido por fortes chuvas e enchentes desde o fim de abril desde ano. A formalização ocorreu durante viagem oficial de Alckmin à China. O apoio já havia sido anunciado em maio. (Agência Brasil)

Educação energética

Parceria da Equinor com o Governo do Estado do Rio de Janeiro vai levar educação em sustentabilidade e transição energética para estudantes da rede pública. O projeto Bem-te-vi tem como meta atender cerca de 650 alunos até 2030. A iniciativa está começando pela Escola Reverendo Hugh Clarence Tucker, no Morro da Providência, no Rio, onde 40 estudantes do ensino médio participarão de atividades e receberão capacitações voltadas ao mercado de trabalho e bolsas de estudos para cursos técnicos ou pré-vestibular.