RIO – A Guiana se prepara para realizar este ano o primeiro leilão de blocos exploratórios offshore de sua história. O país sul-americano aposta no sucesso das descobertas da ExxonMobil nos últimos oito anos para atrair novos operadores.
Ao todo, a multinacional já descobriu, desde 2015, mais de 11 bilhões de barris de óleo equivalente (boe) em reservas recuperáveis na costa da Guiana. Em nenhum país do mundo houve tantas descobertas offshore nesse período.
Em paralelo, o governo local abriu um debate para revisar o marco legal do setor, para atualizar a regulação vigente desde a década de 1980.
- Para aprofundar: Guiana prepara leilão e novo marco legal de óleo e gás
Para dar uma dimensão do tamanho da importância das descobertas feitas na Guiana, o Brasil tinha 14,8 bilhões de barris de petróleo de reservas provadas ao fim de 2022.
A Guiana, porém, é um país de apenas 800 mil habitantes, uma população similar à de João Pessoa (PB), e com uma área de 214.969 km2 – quase 40 vezes menor que a do Brasil.
Guiana vive curva de crescimento rápido
Em oito anos, desde quando a ExxonMobil anunciou sua primeira descoberta no país, a Guiana já ganhou suas duas primeiras plataformas em produção – que produziram, no primeiro trimestre, 375 mil barris/dia.
Outras duas unidades estão previstas para entrar em operação até 2025, sendo que uma delas – o FPSO Prosperity, com 220 mil barris/dia, deve entrar em operação ainda em 2023.
A petroleira espera atingir uma produção de 1,2 milhão de boe/dia até 2027 – uma curva de crescimento expressiva, se considerado que a Guiana não produzia um barril de petróleo sequer até 2019.
A Rystad Energy estima que a Guiana pode se tornar o quarto maior país produtor offshore em 2035, com uma média de 1,7 milhão de barris/dia – ultrapassando EUA, México e Noruega, por exemplo.
Para a consultoria global, as reservas da Guiana estão entre as mais competitivas do mundo no ambiente marítimo fora do Oriente Médio e da Noruega, devido ao baixo teor de emissões de carbono e baixo custo de produção – com preço de equilíbrio, o breakeven, de US$ 28 por barril na média.
As atividades em águas profundas no país emitem, na média, 9 kg/barril de óleo equivalente produzido – nível abaixo da média global e similar às emissões do pré-sal brasileiro.
O sucesso da Guiana despertou a atenção do Brasil. A Petrobras, inclusive, cogita participar do leilão no país vizinho, enquanto enfrenta dificuldades no licenciamento ambiental para perfuração na Bacia Foz do Amazonas, na Margem Equatorial brasileira – que possui um modelo geológico similar aos casos de sucesso na Guiana e Suriname. A expectativa é que o potencial petrolífero dos países vizinhos se estenda até o Brasil.
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Como a Guiana chegou até aqui
A região da Margem Equatorial, na América do Sul, começou a despertar a atenção da indústria após descobertas na costa de Gana, em 2007. O oeste do continente africano possui evolução geológica análoga ao da Margem Equatorial sul-americana.
Até este ano, a Guiana não promovia leilões de áreas exploratórias. As licenças eram acordadas diretamente com as empresas, sem processo competitivo. Foi assim que a ExxonMobil construiu o seu portfólio no país sul-americano.
Até a Exxon anunciar a descoberta de Liza-1, em 2015, a campanha exploratória mais bem sucedida no país havia sido o prospecto de Karanambo, perfurado pela Home Oil ainda na década de 1980, mas que não se mostrou economicamente viável.
Por décadas, o país foi palco de disputas territoriais com os vizinhos Venezuela e Suriname.
O jogo virou em maio de 2015, quando a Exxon anunciou a descoberta de Liza, no bloco Stabroek. O anúncio marcou o pontapé inicial em uma história exploratória que tem se intensificado desde então.
Apenas em 2022, a Exxon fez nove descobertas no país. No primeiro semestre de 2023, a companhia já anunciou mais duas novas descobertas.
Outras empresas também intensificaram as atividades na Guiana nos últimos anos. O país tem, ao todo, 14 operadoras com contratos ativos no país, incluindo a TotalEnergies, Repsol e Qatar Petroleum.
A britânica Tullow Oil anunciou três descobertas no país entre 2019 e 2020, enquanto a canadense CGX Energy fez duas descobertas este ano. Nenhuma delas anunciou o desenvolvimento das reservas até o momento.
A expectativa, no governo local, é que a descoberta da CGX Energy seja a primeira comercialmente viável fora do bloco Stabroek, da ExxonMobil.