Qual o papel do mercado voluntário de carbono?

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 02/09/21
Apresentada porlogotipo eneva

Editada por Nayara Machado
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A necessidade urgente de reduzir emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento do planeta a 1,5º até o fim do século fez o mercado voluntário de carbono passar a desempenhar um papel chave nas estratégias de governos e empresas nos últimos anos.

Alternativa complementar aos mercados regulados, o offset voluntário atrai a atenção de setores de difícil descarbonização, pela flexibilidade e até mesmo pelo custo da compensação.

Para funcionar — e não cair no greenwashing — o ele precisa de credibilidade e transparência.

Uma peça-chave é o preço e os mercados regulados podem ser aliados.

“No mercado regulado [europeu], o preço do carbono está na faixa de 40 euros, mas é um preço administrado pelo governo, que define metas de redução. No voluntário, como não há uma obrigação, há uma referência de preço que precisa ser respeitada: o custo de oportunidade das alternativas à preservação”, explica Luciano Corrêa da Fonseca, chairman da Carbonext, em entrevista à epbr.

Hoje, o custo de oportunidade está em torno de US$ 10 — valor necessário para remunerar o produtor rural pela área que ele escolhe preservar, ao invés de destinar para a pecuária, por exemplo.

Ou seja, é preciso ter uma remuneração compatível com o que o dono da terra ganharia com o desmatamento para plantar soja ou criar gado, e ela precisa ser aceito pelo mercado.

Neste cenário, o preço do carbono no regulado pode servir de base para validar o valor dos créditos negociados no mercado voluntário.

“Esse talvez seja o principal driver de preço. Precisamos buscar esse preço de oportunidade e o mercado precisa aceitar. Por muito tempo, o mercado não aceitou, mas acho que estamos vivendo um momento muito positivo em que ele fala que quer pagar”, afirma Luciano.

As transações anuais de offsets no mundo saltaram de US$ 147 milhões em 2017 para US$ 296 milhões em 2018. Em 2019, esse valor chegou a US$ 320 milhões, segundo levantamento da S&P Global Platts.

A área de análise de preços e de petróleo de baixo carbono da consultoria avalia que, de 2018 para cá, houve uma evolução no mercado voluntário de carbono impulsionada pelo chamamento para ação climática.

A Força-Tarefa em Escalonamento de Mercados Voluntários (TSVCM, em inglês) acredita que a demanda global por créditos de carbono voluntários crescerá 15 vezes até 2030 e até 100 vezes até 2050.

deve cobrir entre 7 e 13 GtCO2e até 2050 — quando o mundo precisará sair do  nível atual de 59 GtCO2e por ano para alcançar emissões líquidas zero.

Embora a TSVCM indique que já existe oferta suficiente para atender ao aumento de demanda esperado, ainda há um conjunto de obstáculos a serem superados.

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O mercado voluntário também é uma oportunidade para levar recursos e desenvolvimento econômico de baixo carbono a países que abrigam florestas tropicais.

Uma aposta na compensação por soluções baseadas na natureza, que está inclusive na agenda de empresas de petróleo, onde a transição energética e para tecnologias de baixo carbono tem um alto custo e não vai ocorrer de um dia para o outro – embora não seja uma solução por si só.

O Brasil, por exemplo, detém 20% do potencial global de oferta de soluções climáticas naturais, segundo a Catavento, consultoria de estratégia e ESG.

Este potencial está principalmente em projetos de conservação ou restauração de florestas.

No entanto, para ser visto como um emissor de créditos de carbono com credibilidade, será preciso acabar com o desmatamento ilegal e atingir a meta de reflorestamento da Contribuição Nacionalmente Determinada apresentada no Acordo de Paris.

Em 2019, o Brasil emitiu 2,17 bilhões de toneladas de CO2. Desse total, quase a metade — 968 milhões de toneladas de CO2 — veio de mudanças no uso da terra e desmatamento.

Exemplo de setor de difícil descarbonização, a aviação civil também encontra nesse mercado um aliado.

Ontem (1º),  a Gol Linhas Aéreas inaugurou a primeira rota carbono neutro do Brasil, ligando os aeroportos de Recife e Fernando de Noronha, em Pernambuco.

A iniciativa é feita em parceria com a Moss, uma plataforma para compensação de créditos de carbono sediada em São Paulo. A medida pode reduzir em até 25% as emissões de carbono do arquipélago, um dos principais destinos turísticos do país, segundo as empresas.

Ainda não temos um mercado regulado. A pauta está com o Congresso Nacional, que discute o Projeto de Lei  528/21, do vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL/AM).

O PL também traz regras para o mercado voluntário, na tentativa de aumentar a credibilidade e transparência dos créditos emitidos.

Há uma expectativa de que ele seja votado antes da COP26, marcada para novembro, em Glasgow, na Escócia.

Mais: Marco regulatório do mercado de carbono deve ser ‘lapidado’ para votação antes da COP26

Curtas

O Ministério do Meio Ambiente publicou nesta quinta (2) portaria que cria a modalidade Floresta+ Bioeconomia, no Programa Floresta+. Meta é incentivar a bioeconomia voltada ao pagamento por prestação de serviços ambientais.

Enquanto isso, o STF segue com o julgamento sobre marco temporal para demarcações de terras indígenas. Porta-voz de coalizão que reúne ONGs ambientais e associações do setor agrário, Rachel Biderman afirma que demarcação de reservas combate’ mudanças climáticas e garante regime de chuvas: ‘Estamos com faca no pescoço’O Globo

A EDP vai implantar a primeira usina de produção de hidrogênio verde do Ceará e deve começar a operar até o fim de 2022, no hub de hidrogênio do Porto do Pecém…

…Com investimento de R$ 41,9 milhões, o projeto contempla uma usina solar com capacidade de 3 MW e um módulo eletrolisador para produção do combustível a partir de energia renovável. epbr

O governo do RS e a Hyperloop Transportation Technologies (HyperloopTT) apresentaram nesta quinta resultados do estudo de viabilidade do transporte ultrarrápido e sustentável no estado…

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O consumo de etanol hidratado em julho totalizou 1,36 bilhão de litros, queda de 9,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo a Unica, o motivo foi a “perda de competitividade do biocombustível frente a gasolina C, que por sua vez, indicou aumento de 17,9% no período analisado”. Broadcast

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