Projetos de hidrogênio verde anunciados pelo mundo somam mais de US$ 80 bi

Estimativa da AHK Rio é que mercado de hidrogênio verde deverá movimentar 47 bilhões de dólares nos próximos dez anos

Hidrogênio verde pode ficar competitivo até 2030, com renováveis mais em conta. Na imagem: turbina eólica no mar para geração offshore (Foto: Erich Westendarp/Pixabay)
(Foto: Erich Westendarp/Pixabay)
RIO — Com 228 projetos de hidrogênio verde (H2V) anunciados pelo mundo, os investimentos previstos no setor já somam mais de US$ 80 bilhões.

E a estimativa da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio) é que este mercado movimente 47 bilhões de dólares nos próximos dez anos.

A Alemanha do lado da demanda, e o Brasil do lado da oferta, devem tomar uma fatia desse montante.

O compromisso de reduzir suas emissões de carbono em 55% nos próximos cinco anos e ser neutra até 2045 tem levado a Alemanha a investir pesado no desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde (H2V), com interesse especial pelo Brasil.

“O Brasil tem a maior base de empresas alemãs do mundo. Na parceria com a Alemanha, o Brasil tem destaque”, afirma Ansgar Pinkowski, gerente de inovação e sustentabilidade da AHK Rio.

Pinkowski participou do lançamento do programa Minas do Hidrogênio, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) nesta quinta (12).

Segundo o executivo, 66% das empresas alemãs que já estão trabalhando com hidrogênio verde possuem subsidiárias no Brasil.

O que deve beneficiar o país com plano alemão de destinar € 9 bilhões para desenvolvimento de tecnologias ligadas ao H2V. Desse total, € 2 bi serão para parcerias internacionais.

O plano também inclui a realização de leilões internacionais para fornecimento de H2V pelos próximos dez anos.

De acordo com levantamento apresentado por Pinkowski, até 2025, os países que representam 80% do PIB mundial já terão apresentado suas estratégias nacionais para o hidrogênio.

“Isso abre uma oportunidade econômica gigantesca para países como o Brasil”, disse.

“Não conheço nenhum outro país que tenha tantas condições favoráveis como o Brasil. Talvez a Austrália”, completou.

[sc name=”recircula” ]

A Austrália é o país que concentra a maioria dos projetos de produção de hidrogênio verde, não só pela alta disponibilidade de energia limpa, como também pela necessidade de descarbonizar a mineração no país, que sedia as principais companhias do setor do mundo.

Ontem (11/8), a petroleira britânica bp divulgou um estudo de viabilidade que descreve a Austrália Ocidental como “um lugar ideal” para o desenvolvimento de “ativos de energia renovável em grande escala que podem, por sua vez, produzir hidrogênio verde e/ou amônia verde para os mercados doméstico e de exportação”.

Pinkowski também destacou projeto da Arábia Saudita, que está construindo a maior planta de H2V do mundo com capacidade de 650 toneladas/dia.

“O óleo vai acabar antes de acabar o óleo. Os investidores internacionais estão indo para o mundo verde. Empresas de óleo e gás, até do Rio de Janeiro, já estão olhando para essas oportunidades verdes”, contou.

Na América do Sul, o Chile está fazendo muito barulho na atração desses investimentos. O Brasil precisa trabalhar esse mercado muito mais”, afirmou Pinkowski.

[sc name=”adrotate” ]

Empresas alemãs no Brasil

Para o gerente de desenvolvimento de negócios da alemã ThyssenKrupp no Brasil, Luiz Mello, “o Brasil tem muito mais potencial que o Chile”.

“A ThyssenKrupp está vendo que o Brasil está muito bem posicionado para esse mercado. Não é só ter energia limpa, mas esse multimodal cm solar, eólica, hidrelétrica”, explicou Mello, em webinar da agência epbr.

Conhecida pelos elevadores, a companhia atualmente é focada na produção de aço e equipamentos industriais, como eletrolisadores para produção de hidrogênio e amônia.

É uma das companhias alemãs com atuação no Brasil, que já possui projetos relacionados ao hidrogênio verde e amônia verde.

A Thyssen conta com mais de 600 plantas eletroquímicas em todo o mundo, com uma capacidade total de mais de 10 gigawatts.

A expectativa da companhia é que, com sua tecnologia, seja possível escalar a produção de H2V e utilizar o combustível também na fabricação de aço zero carbono, até 2050, substituindo o carvão.

“Estamos investindo em capacidade de manufatura de eletrolisadores. Até 2024 queremos jogar no mercado 3 GW de eletrolisadores”, disse o gerente da ThyssenKrupp.

Para ele, o Brasil tem tudo para ser relevante neste mercado, um vez que já possui um setor industrial robusto.

“Além da possibilidade de exportação, há um mercado interno formidável. Já vemos vantagem no Brasil, para produção de amônia”.

[sc name=”youtube” id=”Bg9Xnqi1niI” ]

Hidrogênio, amônia verde e célula a etanol

Em maio deste ano, o diretor de novas energias para América Latina da Siemens Energy, Andreas Eisfelder, também disse que a companhia —  com sede em Munique — vê o Brasil como potencial produtor e exportador de amônia verde.

“O Brasil pode ser exportador de amônia verde, um biocombustível produzido a partir do hidrogênio renovável e capaz de substituir o bunker utilizado pela indústria naval”, afirmou o diretor na ocasião.

Segundo Eisfelder, o país deve aproveitar a abundância de fontes de energias renováveis na matriz, e exportar novas energias para outras regiões do mundo que não possuem as mesmas condições.

“O Brasil hoje tem condições para produção de amônia verde. E a inovação dos motores de combustão, que podem funcionar com base de amônia como combustível, é um exemplo para descarbonizar essa indústria”, explicou.

Além da amônia verde, a célula de etanol — outra tecnologia com base no H2V — também vem sendo estudada para o abastecimento do setor de transporte.

Embora a célula ainda esbarre em dificuldades tecnológicas quando o assunto é transformar o etanol em hidrogênio no veículo, a tecnologia que faz essa conversão — o reformador — já está madura para instalação em postos de abastecimento.

Recentemente, a Volkswagen elegeu o Brasil para ser a sede de um centro de pesquisas relacionadas ao tema.

Para o CEO da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, o Brasil deve ser um exportador de tecnologias de etanol, como a célula a combustível, tanto para países vizinhos como para o continente europeu e potências emergentes como China e Índia.

“O Brasil precisa pensar grande, precisa se mostrar para o mundo como um importante desenvolvedor de biocombustíveis, exportando tecnologia, e não só o etanol”, disse o executivo em um evento em maio deste ano.

“Temos que pensar no etanol, na célula de combustível. Ela pode ser transportada em contêiner e exportada para a Europa, para a China”, completou.

[sc name=”news-transicao” ]