BRASÍLIA – A Clean Fuels America Alliance (associação de produtores de biocombustíveis dos EUA) estima que a produção anual de biodiesel, diesel renovável (HVO) e combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) nos Estados Unidos pode alcançar 6 bilhões de galões – o equivalente a 22,8 bilhões de litros – até 2030.
A organização explica que os produtores de biocombustíveis estão buscando expandir a oferta para atender as demandas de mercados de difícil descarbonização nos EUA, como os veículos pesados e os transportes ferroviário, marítimo e aviação.
Somente em 2021, o país consumiu 3,1 bilhões de galões de combustíveis renováveis (biodiesel, HVO e SAF), conforme dados da consultoria LMC International.
Um fator que deve impulsionar a indústria é a Lei de Redução da Inflação (IRA) sancionada pelo presidente Joe Biden no ano passado, que prevê incentivos à produção de SAF. A meta é atender 100% da demanda de combustível de aviação doméstica com o biocombustível até 2050.
No curto prazo, o governo planeja ter 3 bilhões de galões de SAF com custo competitivo disponível para os operadores de aeronaves até 2030. Para isso, está trabalhando com toda a cadeia — desde produtores até companhias aéreas.
Até 2030, as companhias aéreas estadunidenses planejam substituir 10% do combustível convencional por SAF.
Por ser produzido junto com o diesel verde, a tendência é que ambos os combustíveis ganhem mercado nos próximos anos.
Atualmente, o HVO é o combustível que mais cresce na participação do mix de renováveis nos Estados Unidos. Os dados são do relatório sobre o mercado de energia nos EUA até 2050, da Administração de Informação de Energia (EIA).
A análise dos produtores também considerou o impacto nas cadeias de valores necessárias para a geração e distribuição dos combustíveis. O setor gerou US$ 23,2 bilhões em atividades econômicas.
“Esse crescimento pode gerar empregos adicionais e aumentar as oportunidades econômicas para produtores, produtores de combustível e outros setores econômicos”, afirmou o CEO da Clean Fuels, Donnell Rehagen.
Geração de empregos
A pesquisa da Clean Fuels constatou que tanto a fabricação de HVO quanto a de biodiesel foram responsáveis por 75.200 empregos no ramo dos biocombustíveis nos EUA. O estudo se baseou em dados de 2021.
Quanto aos impactos econômicos, a organização revelou que cerca de 41% pode ser atribuído aos produtores de energia limpa, que respondem por 17.120 cargos no país.
No panorama agrícola, somente a produção e a colheita de matérias-primas totalizaram US$ 7,41 bilhões em atividades econômicas, empregando 28.236 pessoas. Já as plantas de processamento de oleaginosas corresponderam a mais de 20% desse total, com 6.024 postos de trabalho em todo o país, e somando US$ 4,97 bilhões ao setor econômico.
As oportunidades da cadeia de produção podem impulsionar, principalmente, o mercado de biodiesel nos Estados Unidos.
Consumo global
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês), o consumo global de biocombustíveis deve crescer cerca de 22% nos próximos quatro anos, sendo um terço dessa produção proveniente de resíduos. O percentual é equivalente a 35 bilhões de litros anuais até 2027.
Os EUA, assim como o Brasil, Canadá, Indonésia e a Índia representam 80% da expansão total de uso de energia limpa.
De 2021 para 2022, apenas o diesel renovável ou HVO (sigla em inglês para óleo vegetal hidrotratado) registrou aumento de 40% na demanda global.
Cenário brasileiro
Enquanto a tendência nos EUA é de crescimento, a falta de previsibilidade afeta as indústrias de biodiesel que, após a redução do mandato obrigatório do biocombustível para B10, passaram a apresentar mais de 50% de capacidade ociosa em suas usinas.
No Brasil, a geração de biodiesel sofreu baixa de 7% somente no ano passado, alcançando cerca de 6 bilhões de litros. Vale dizer que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de biodiesel, atrás da Indonésia e dos EUA.
O aumento do teor da mistura, no entanto, é alvo de disputa entre o setor de biodiesel e os representantes de transportes.
Enquanto os produtores do biocombustível defendem a elevação do percentual do biodiesel no diesel para 15%, o setor de transportes alega que a mudança pode encarecer o frete, questionando também os impactos do produto nos motores e pedindo abertura do mercado para o HVO.
A decisão está na pauta da primeira reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) do novo governo marcada para esta sexta (17/3).