Biocombustíveis

Produtores defendem rastreabilidade da cadeia de biodiesel para garantir qualidade

Representantes da indústria pedem novas especificações à ANP para o monitoramento da produção até o destino final do combustível

Produtores defendem rastreabilidade da cadeia de biodiesel para garantir qualidade. Na imagem: Bomba de abastecimento de óleo diesel, na cor preta; ao lado de outras nas cores azul e verde
Bomba de abastecimento de óleo diesel, na cor preta; ao lado de outras nas cores azul e verde

BRASÍLIA — Entidades do setor de biodiesel defenderam, nesta terça (28/3), a rastreabilidade do biocombustível na cadeia produtiva para rebater as acusações sobre os problemas técnicos causados pela parcela renovável no óleo diesel.

No início da semana, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) promoveu um seminário para debater os critérios de qualidade do biodiesel e do diesel fóssil. O órgão prepara novas regras de especificação para os combustíveis do ciclo diesel.

Durante o encontro, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação dos Produtores de Biocombustíveis (Aprobio) sugeriram o controle das eventuais ocorrências de panes nas frotas que utilizam o biodiesel, desde que o monitoramento seja feito em todo o conjunto de produção, da fabricação até o destino final.

A Aprobio contesta as falhas nos motores relatadas por segmentos do setor de transportes com informações técnicas do óleo diesel, que indicam que o combustível de petróleo liberar um volume de sedimentos, borras, entre outros contaminantes, nos tanques de armazenamento.

“As práticas de filtragem devem ser exigidas para todos os agentes da cadeia”, afirmou o diretor da Aprobio, Julio Minelli.

A associação também defende a definição de prazos de validade tanto para o diesel quanto para o biodiesel.

Segundo Vicente Pimenta, consultor técnico da Abiove, os agentes contra o biocombustível “não têm sido muito assertivos a ponto de determinarem as causas dos problemas nos motores”.

A deterioração dos veículos e equipamentos é um dos argumentos da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e outras organizações dos setores automotivo, de máquinas e distribuição de combustíveis contra o aumento da mistura de biodiesel. As instituições alegam ter “sofrido consequências com as avaliações de padrão de qualidade”, e citam perda da eficiência dos motores, impactos financeiros e prejuízos aos consumidores.

No mesmo evento, a CNT tornou a pedir mais testes para garantir a qualidade do biodiesel “até que os resultados sejam satisfatórios” aos consumidores.

A organização apresentou um levantamento, com dados de 2021, no qual 60% das empresas entrevistadas mencionaram problemas mecânicos relacionados ao teor renovável adicionado ao diesel. Na época, a mistura estava em 13% (B13).

Assim como a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), também participantes do painel, a CNT defende a inclusão do diesel coprocessado com óleo de soja no mandato de biodiesel.

Aumento de mistura

A proposta de acompanhamento da cadeia é uma das agendas da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio).

“Vamos fazer a rastreabilidade. Nós não temos absolutamente nada para esconder, queremos um contrato de integridade nacional e internacional sem adjetivos”, declarou o presidente da FPBio, Alceu Moreira (MDB/RS), na última quarta (23/3).

O grupo de parlamentares prepara uma política decenal para o biodiesel com estratégias de longo prazo para a expansão do biocombustível no Brasil.

Nesta quarta (29/3), o governo publicou o novo cronograma de aumento da mistura de biodiesel no Brasil — o calendário foi interrompido durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Hoje, o percentual está fixado em 10% (B10). A partir de 1º de abril subirá para 12%, com previsão de aumento de um ponto percentual a cada ano, sempre em abril, até chegar a 15% em 2026. Esses prazos poderão ser revistos com base na oferta, demanda e impactos econômicos.