BRASÍLIA — Com a manutenção da mistura de biodiesel em 10% (B10) até 31 de março do ano que vem, o Brasil deve produzir cerca de 39 milhões de toneladas de farelo de soja na próxima safra, volume similar ao registrado na safra atual (38 milhões de toneladas), calcula Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Já a retomada do cronograma da mistura de biodiesel em 2023, que prevê 14% (B14) em janeiro e 15% (B15) a partir de março, elevaria a produção para 43 milhões de toneladas.
Na safra 2022/2023, o Brasil deve colher cerca de 150 milhões de toneladas de soja, ante 142 milhões de toneladas na safra anterior.
Segundo a Abiove, a fabricação de biodiesel beneficia indiretamente a geração de proteína animal com o esmagamento da soja em grão para extração do óleo vegetal, que é a principal matéria-prima do combustível.
Nesse processo, cerca de 20% vira óleo e outros 80% farelo, um componente de rações na cadeia de proteínas animais.
No período de 2018 a 2022, 90 milhões de toneladas de soja foram esmagadas a mais devido ao biodiesel, representando aproximadamente 16% do total processado nesses anos, de acordo com a Abiove.
A associação destaca que a volta do mandato estabelecido inicialmente pode incrementar a produção do óleo de soja, alcançando 11,3 milhões de toneladas, enquanto a conservação da mistura em B10 diminuiria o volume para 10,1 milhões.
B10 mantido até 2023
Na última sexta (25/11), o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) publicou a decisão de manter a mistura obrigatória em 10% até o primeiro trimestre do ano que vem, contrariando expectativas do setor de que a resolução não fosse publicada.
Os produtores esperavam que o mandato fosse restabelecido para B14 em janeiro de 2023, evoluindo para B15 em março, a fim de amenizar a ociosidade produtiva nas indústrias do setor.
A definição do CNPE é alvo de questionamentos da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio) e equipe de transição do governo Lula (PT).
Na quarta passada, o Grupo Técnico da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do novo governo eleito chegou a se manifestar contra a resolução. Em nota, o GT disse que a decisão “não poderia ser tomada sem uma análise conjunta com a equipe de transição”.
Mais tempo para avaliar diesel RX
No mesmo despacho assinado na sexta-feira pelo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, o governo rejeitou a inclusão de combustíveis provenientes de outras rotas tecnológicas na parcela obrigatória do biodiesel.
A retirada significou alívio para o setor, visto que a primeira decisão do CNPE havia acrescentado o diesel RX da Petrobras, coprocessado com 5% de óleo vegetal, para o cumprimento do mandato do biocombustível.
A Associação dos Produtores de Biocombustíveis (Aprobio) avaliou positivamente a decisão de retirar o coprocessado da resolução. A entidade declarou que o artigo poderia comprometer os objetivos do RenovaBio.
No que diz respeito à mistura, a Aprobio espera que o próximo governo reverta ou ajuste a determinação que traz “imenso impacto sobre o setor de biodiesel e toda a cadeia produtiva”.
Para a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), a decisão trouxe “boas e más notícias”. A organização disse que “recebeu com serenidade” o despacho, e parabenizou o veto do Executivo em relação ao diesel coprocessado no mandato de biodiesel, ao mesmo tempo em que lamentou o B10.
“Reforçamos que a Ubrabio e as demais entidades que compõem a FPBio irão continuar discutindo com o governo atual e a equipe de transição do governo eleito para que retorne a curva de aumento da mistura o quanto antes”, diz em comunicado.
A Ubrabio também defende a revogação da medida que estabelece a mistura de 10% de biodiesel no óleo fóssil para os próximos meses, além da inserção de calendário para o aumento do mandato, com o objetivo de proporcionar segurança ao mercado e à sociedade.
“O setor está preparado para produzir 14% e entendemos que precisamos, o quanto antes, criar um cronograma para que se avance nessa mistura, o que só irá beneficiar a sociedade.”