Eleições 2022

Presidenciáveis falam pouco sobre clima no Twitter e Instagram

Entre os candidatos, Lula (PT) é o mais ativo, com 12 menções ao tema no Twitter e três no Instagram, seguido por Ciro Gomes (PDT) com sete e duas postagens, respectivamente

Presidenciáveis falam pouco sobre clima no Twitter e Instagram, mostra pesquisa. Na imagem, militantes da ONG ambiental Greenpeace protestam pelo combate ao óleo vazado no Nordeste (em 2019) em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília (Foto Adriano Machado/Greenpeace)
Militantes da ONG ambiental Greenpeace protestam pelo combate ao óleo vazado no Nordeste (em 2019) em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília (Foto Adriano Machado/Greenpeace)

RECIFE — A menos de seis meses para as eleições presidenciais, os pré-candidatos ainda não tornaram frequentes os debates de pautas ambientais, mostra o levantamento Observatório das Eleições 2022 — Especial Meio Ambiente.

Realizado pela vert.se, com base nas ações dos perfis oficiais de cada um dos presidenciáveis nas mídias sociais, o estudo aponta que entre 1º de junho de 2021 e 1º de junho de 2022, os quatro principais candidatos ao Planalto fizeram apenas 35 posts, ao todo, sobre o tema no Instagram e Twitter.

Entre os presidenciáveis, o mais ativo foi Lula (PT), com 12 menções ao tema no Twitter e três no Instagram. Em seguida, veio Ciro Gomes (PDT), com sete e duas postagens, respectivamente. Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, mencionou o tema três vezes no Twitter e quatro no Instagram. Já Simone Tebet (MDB) postou quatro textos no Instagram.

“Comedimento é o termo que nos vem à mente quando pensamos no que os presidenciáveis dizem sobre meio ambiente nas redes. Eles não se aprofundam no tema e, muito menos, usam suas redes para ‘conversar’ com o eleitor sobre esse importante assunto de interesse mundial”, analisa Carol Zaine, CEO da vert.se.

Segundo Zaine, os posts tendem a ser mais genéricos e panfletários ao invés de abrirem debate mais forte e aprofundado. Lula, por exemplo, compartilhou encontros com personalidades, como Caetano Veloso, onde a questão do meio ambiente foi discutida, mas não detalhou os temas abordados.

Ainda de acordo com a verte.se, no Twitter, o ex-presidente fala sobre a importância do desenvolvimento sustentável, mas mantém discurso genérico. Já Bolsonaro, na maioria das publicações, utiliza os termos como slogan e, em algumas vezes, não apresenta a relação entre a informação trazida e a preservação do meio ambiente. Além disso, usa as redes para divulgar ações do governo.

Os posicionamentos sobre episódios relacionados à preservação do meio ambiente também foram superficiais, de acordo com a pesquisa.

O Observatório analisou o período entre 2019 e 2022, e identificou que os candidatos se manifestaram sobre notícias relacionadas a grandes tragédias ambientais e deram suas opiniões sobre a questão indígena e a exploração de suas terras.

“O que a gente percebeu é que as menções desses pré-candidatos com relação ao meio ambiente foram baixas e reativas. Por exemplo, eles publicaram alguma declaração depois que aconteceu alguma tragédia ou quando foram cobrados por um posicionamento”, comenta Zaine.

Ela explica que os partidos adotam a estratégia de falar sobre os assuntos mais comentados na semana, para garantir engajamento. “Isso é perigoso porque pode acabar esvaziando o debate de pautas importantes”, observa.

Abordagem precisa ser assertiva

Para a cientista política Andrea Steiner, a comunicação é uma chave importante para a discussão e preservação do meio ambiente, mas deve ser feita sem alarmismos.

“As pessoas têm uma ideia, mas não há realmente muita noção de como os nossos comportamentos afetam ou são afetados pelas mudanças climáticas. Isso se dá também porque quanto mais complexo e próximo é o problema, menos ele tende a agregar as pessoas”, explica.

“Elas vão se blindar por questões até de saúde mental mesmo. Se a gente não souber comunicar a crise climática, nós vamos gerar um efeito contrário nas pessoas onde elas tendem a bloquear esse assunto dos debates. Isso tudo ainda é somado a um tópico que não é tão prioritário.”

Além disso, é necessário encontrar um caminho para aprofundar no tema e dialogar com a população sobre os impactos das mudanças climáticas em áreas básicas da sociedade.

“Existe essa questão de achar que meio ambiente não é uma questão básica como alimentação, saúde, educação, segurança e acham que esses tópicos estão dissociados das questões climáticas, mas a gente sabe que isso não é verdade. O problema é que no imaginário das pessoas esse ponto não é visto da mesma forma”.

Muita crítica, poucas propostas

Para não passar em branco, no Dia do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, o assunto foi trazido à tona pelos candidatos ao cargo máximo do Executivo. No Twitter, Lula criticou a gestão de Jair Bolsonaro e afirmou que “o ódio queima. O amor preserva”. Mas não citou propostas sobre o assunto para a sua gestão.

Bolsonaro — cuja gestão tem sido marcada pela escalada do desmatamento e dos crimes ambientais — utilizou o seu perfil na rede social para falar sobre as suas ações.

Entre as declarações, o atual chefe do executivo afirmou que o governo federal “atua em diversas frentes para sanar os problemas ambientais que os centros urbanos geram para a natureza e para os próprios cidadãos”, mas não comentou sobre o Projeto de Lei 191/2020, que permite a atuação do garimpo em terras indígenas; o PL 6299/2002, que flexibiliza o uso de agrotóxicos e nem do PL 490/2007, que altera o processo de demarcação de terras indígenas — conhecido como “marco temporal”.

Sofia Manzano (PCB) manifestou sua opinião sobre o assunto afirmando que a degradação do meio ambiente é “decorrência direta do desenvolvimento capitalista, que gera a poluição, a perda de biodiversidade, a contaminação e esgotamento dos solos e o uso indiscriminado de agrotóxicos”.

Ciro Gomes também entrou na discussão ao publicar que “o Dia Mundial do Meio Ambiente é a data correta para lembrar que o Brasil ainda é o país com melhor perfil para liderar a grande luta em defesa da vida no planeta”. O ex-ministro afirmou que o Brasil precisa de líderes capazes de concretizar o que chamou de “vocação histórica”.

Simone Tebet disse que a Amazônia é estratégica para o futuro do Brasil e que o país tem uma política ambiental desastrosa e sem a adoção de medidas efetivas a favor da preservação dos biomas.

A pré-candidata também afirmou que assumirá o compromisso com o projeto Amazônia 2030 com “políticas ambientais sérias, participação mais ativa na defesa da vida e do meio ambiente, que protejam a nossa biodiversidade, desenvolvam consciência ambiental e preservem os recursos naturais do país”.

O que dizem as propostas dos pré-candidatos para o meio ambiente?

Luiz Inácio Lula da Silva (PT): Afirma compromisso com a sustentabilidade, por meio de atividades socioambientais, e com o enfrentamento das mudanças climáticas através do  uso racional dos recursos.

Também aborda a necessidade de mudanças no padrão de consumo de energia no país, participando do diálogo mundial para combater a crise climática, e afirma intenção de somar esforços para a transição ecológica e energética.

Jair Bolsonaro (PL): Não apresentou propostas formais, mas durante o discurso na Cúpula do Clima, afirmou que se compromete a reduzir as emissões de gás carbônico em 43%, eliminar o desmatamento ilegal até 2030 e alcançar a neutralidade climática (Net Zero) até 2050. Além disso, o atual presidente defende atividades econômicas na Amazônia.

Ciro Gomes (PDT): Propõe reconstruir instituições como o Ibama, o Inpe e a Embrapa, enfraquecidas na gestão Bolsonaro e encarregar o Exército para atuar contra o desmatamento das florestas brasileiras.

Também defende uma nova política energética baseada na integração de geradores de energia renovável ao sistema de distribuição energética; incentivos ao beneficiamento do setor extrativista; utilização da expertise da Embrapa para promover o reflorestamento e o enriquecimento do solo de áreas degradadas. A Embrapa também será responsável por incorporar métodos científicos ao manejo sustentável de florestas.

Simone Tebet (MDB): Não divulgou formalmente as propostas, mas defendeu — em entrevistas, debates e no Plenário do Senado — conciliar agronegócio e desenvolvimento sustentável, punição aos crimes ambientais e combate à grilagem.

José Maria Eymael (DC): Não divulgou propostas formais, mas defendeu a proteção do meio ambiente assegurando a todos o direito de usufruir a natureza sem agredi-la.

Leonardo Péricles (UP): Demarcação de terras indígenas e quilombolas; dialogar com Congresso, autarquias e fundações para garantir o direito à vida dos povos tradicionais; reestatizar a Vale.

André Janones (Avante): O pré-candidato não apresentou propostas formais, mas afirmou que a preservação do meio ambiente seria muito mais fácil e efetiva se o foco fosse colocado em políticas sociais para melhorar as condições de vida das pessoas.

Luciano Bivar (União Brasil): Não apresentou propostas formais e declarações sobre o tema não foram encontradas. Como deputado federal, votou pela aprovação do PL 6299, que flexibiliza o uso de agrotóxicos.

Luís Felipe D’ávila (Novo): Defende a liderança do Brasil em carbonos neutros através da plantação de árvores em terras degradadas; investir em energias renováveis; diminuir as emissões de carbono causadas pela agropecuária.

Sofia Manzano (PCB): Promover geração de energia solar e eólica; reduzir uso de agrotóxicos; reforçar órgãos de fiscalização ambiental; aumentar áreas de proteção ambiental e reservas florestais; reduzir emissões.

Vera Lúcia (PSTU): Retirar as madeireiras responsáveis pelo desmatamento na Amazônia; reestatizar a Vale do Rio Doce; reduzir a emissão de carbono através da imposição de normas; expropriar empresas que descumprirem essas normas; ampliação de fontes de energia limpa; geração de energia através da preservação ambiental.

Pablo Marçal (PROS): O pré-candidato não apresentou propostas formais sobre o tema, mas defendeu a exponencialidade do agronegócio.