RIO — O novo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, tomou posse nesta quinta-feira (14/04) com um discurso de continuidade. O executivo assumiu o cargo afirmando que a “prática de preços de mercado é condição necessária” para garantir o abastecimento do mercado.
Coelho se comprometeu, ainda, a manter as diretrizes do atual plano de negócios da empresa, “maximizando valor do portfólio” com foco no pré-sal e venda de campos maduros e ativos no refino e gás natural.
O presidente da Petrobras disse, contudo, que a empresa não pode esquecer sua responsabilidade social e que sua gestão buscará aperfeiçoar a comunicação externa, no debate sobre a função social da companhia.
“Muitas vezes não temos uma comunicação que chega de forma palatável ao brasileiro”, disse.
No início da semana, o presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu a substituição no comando da Petrobras sob a alegação de que a companhia precisava de alguém “mais profissional” para dar mais transparência à empresa — que, segundo ele, “não usa seu marketing“.
Coelho repetiu o discurso das gestões passadas da empresa, ao afirmar que o foco numa administração baseada na geração de valor permite à Petrobras retornar mais renda à sociedade. Ele citou que, em 2021, a petroleira pagou R$ 203 bilhões em impostos, royalties e tributos aos governos federal, estaduais e municipais.
“Seguiremos comprometidos com a melhor alocação do capital, maximizando a geração de valor da empresa. Mas é investimento com responsabilidade. A Petrobras mais forte e mais valorizada traz mais retorno ao acionista e à sociedade: mais dividendos pagos à União, mais participações governamentais, como royalties, mais tributos pagos a estados municípios e União que levam a uma maior arrecadação desses entes federativos e a maiores investimentos em benefício do cidadão brasileiro, gerando mais emprego e mais renda”, comentou.
O que pensa Coelho sobre o futuro da Petrobras
O tom do discurso de posse do novo presidente da estatal foi de continuidade. José Mauro Coelho comentou sobre o que pensa para o futuro da companhia, em temas como preços dos combustíveis, vendas de ativos, pré-sal e investimentos em exploração.
A seguir, um resumo do discurso do novo comandante da Petrobras:
- Preços dos combustíveis
“Entendemos que a prática de preços de mercado é condição necessária para a criação de um ambiente de negócios competitivo, para a atração de investimentos, para a atração de novos agentes econômicos no setor, para a expansão da infraestrutura do país e a garantia do abastecimento. Tal cenário leva ao aumento da concorrência, com benefícios para o consumidor brasileiro”
- Foco no pré-sal
“Trabalharemos com aderência ao nosso plano estratégico 2022-2026. Nesse sentido, continuaremos maximizando valor do nosso portfólio, com foco em ativos de águas profundas e ultraprofundas e priorizando investimentos em exploração e produção na importante província do pré-sal”
- Venda de ativos
O novo presidente da Petrobras reforçou o compromisso com a abertura dos mercados de refino e gás natural. Ele citou a intenção de manter as vendas em curso da Gaspetro e da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), no setor de gás, além dos campos maduros.
“Os desinvestimentos em campos maduros, tanto onshore quanto offshore, continuarão, de modo que empresas de porte adequado e experiência nesse tipo de ativo possam dar continuidade à produção, com a extensão da vida útil dos campos e com o aumento do fator de recuperação [dos reservatórios]”
- Exploração
“A Bacia de Campos permanece estratégica. Continuaremos buscando incorporar reservas aderentes à visão de futuro da companhia, seja explorando áreas descobertas, sejam novas fronteiras como a Margem Equatorial, destacando-se a Bacia de Sergipe-Alagoas, em águas profundas”
Três presidentes em um governo
José Mauro Coelho é o terceiro presidente da Petrobras no governo de Jair Bolsonaro (PL), que demitiu Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna em meio a crises desencadeadas por aumentos nos preços dos combustíveis.
A troca mais recente no comando da estatal teve como estopim o reajuste de 18,7% da gasolina e de 24,9% do diesel, anunciado em 10 de março, enquanto Bolsonaro pressionava Silva e Luna a manter os preços temporariamente congelados, na expectativa de que a cotação do petróleo começasse a ceder após o pico registrado no início da guerra na Ucrânia.
Durante a gestão do general, a companhia reduziu a frequência de reajustes dos derivados e chegou a segurar aumentos do diesel e gasolina por quase dois meses no início deste ano, entre janeiro e março, diante da escalada dos preços internacionais após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A Petrobras, porém, continuou a seguir, na essência, o comportamento do mercado global durante a gestão de Silva e Luna.
Na gestão de Castello Branco, os preços eram atualizados com mais frequência. O economista foi alvo de tentativas de Bolsonaro de interferir na companhia. Por meio de mensagens curtas de Whatsapp, o presidente da República chegou a tentar anular um aumento de preços dos combustíveis, mesmo depois do reajuste já ter sido anunciado, segundo o Estadão.
União perde uma cadeira no conselho
Num momento em que cresce a pressão do governo Bolsonaro sobre a política de preços da estatal, os investidores privados conseguiram se articular e aumentar a representatividade no conselho de administração da companhia. Os acionistas minoritários da petroleira ampliaram, de três para quatro cadeiras, a presença no colegiado.
A mesma assembleia de acionistas que elegeu o novo conselho da empresa, no entanto, foi marcada por uma manobra do governo, encabeçada pelo Ministério de Minas e Energia, para retirar de pauta uma proposta que visava reforçar a governança da Petrobras contra interferências da União, controladora da Petrobras.
O MME pediu o adiamento da discussão do tema, para ganhar tempo na análise do assunto. A assembleia foi encerrada sem previsão de retomada do debate sobre a reforma do estatuto.