Preconceito ainda é barreira para contratação de profissionais trans

Preconceito ainda é barreira para contratação de profissionais trans
Foto: Arquivo Agência Brasília

Apesar de cada vez mais empresas apostarem na inclusão e diversidade no seu quadro de funcionários, a contratação de pessoas trans ainda encontra resistência em certos setores.

“Como o preconceito ainda existe muito forte, quando tem muito contato com o público, as empresas acabam evitando a contratação”, conta à epbr Márcia Rocha, fundadora da TransEmpregos, maior banco de talentos de pessoas trans do Brasil.

Desde 2013, o banco de talentos faz a ponte entre esses profissionais e empresas parceiras.

“Bancos, por exemplo, têm várias trans, mas sempre trabalhando no administrativo (…) O setor que mais contrata é telemarketing. A Atento tem mais de mil pessoas trans trabalhando. Os setores que menos contratam são os de serviço, que lidam muito diretamente com o público. Telemarketing é o que menos lida. Lógico que isso tem a ver com o preconceito”, afirma Márcia, que também é a primeira advogada trans do país a ter o nome social reconhecido pela Ordem dos Advogados do Brasil.

De acordo com o 1º Mapeamento de Pessoas Trans da Cidade de São Paulo, que ouviu 1.788 pessoas trans e travestis, apenas 59% delas exerciam uma função remunerada durante o período das entrevistas, a grande maioria em trabalho informal ou autônomo.

A TransEmpregos vem gradualmente tentando transformar essa realidade. Atualmente, a plataforma conta quase 900 empresas parceiras, entre elas a Nestlé, Intel, Bayer e ExxonMobil.

Em 2020, foram abertas 1.419 vagas diretamente para profissionais trans, com 794 contratações.

O banco de talentos tem mais de 22 mil currículos, com candidatos de todo o Brasil, sendo mais de 40% com graduação, mestrado ou doutorado.

“As empresas estão entendendo cada vez mais que diversidade é bom para os negócios. Existem diversos trabalhos publicados demonstrando que quanto mais diversa é a empresa, mais produtiva ela é”, diz a advogada.

Ela ressalta que os esforços pela inclusão vão além da contração, sendo muito importante que haja o acolhimento desses profissionais dentro da empresa.

“Só anunciamos vagas de empresas que estão capacitadas e conscientizadas. Nós fazemos a capacitação e conscientização de graça e indicamos consultorias pagas, caso haja interesse da empresa. A gente só anuncia quando tem certeza que há um ambiente acolhedor”.

A plataforma também oferece cartilhas e cursos de capacitação. Um deles, chamado TRANS-formAção, é fruto de uma parceria com a inciativa Mães pela Diversidade e o Google. O conteúdo totalmente online é dedicado para pessoas transgêneras que buscam se preparar para entrar no mercado de trabalho.

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Mudança de paradigma

Segundo a fundadora da TransEmpregos, apesar de o principal objetivo da inciativa ser o aumento da participação dessas pessoas no mercado de trabalho, a plataforma também pretende “mudar a cabeça da sociedade”.

“Quando uma empresa com vários funcionários contrata uma pessoa trans e ela se mostra competente, as pessoas convivem com ela e o preconceito diminui, e essas pessoas que trabalham com ela levam essa mudança de paradigma, sobre pessoas trans, para sua casa, para os vizinhos, para os amigos”, explica Márcia.

“A missão maior da TransEmpregos é não precisar mais existir. A meta maior é desaparecer e conscientizar a sociedade”, finaliza.

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