RIO — Depois de atingirem patamares recordes em 2022, os preços do gás natural, na Europa, recuaram esta semana para os menores níveis desde maio de 2021 – período pré-guerra entre Rússia e Ucrânia. Com o alto nível dos estoques e a desaceleração da demanda no continente, a Rystad Energy não descarta a possibilidade de que os preços da molécula se aproximem de zero no mercado spot (curto prazo), no terceiro trimestre.
O quadro de sobreoferta, contudo, deve ser passageiro, alerta a consultoria.
A desvalorização do gás. Ao fim de maio, os estoques de gás europeus estavam com 68% de capacidade – com 27 bilhões de metros cúbicos (bcm) a mais que o observado em igual período no ano passado.
O movimento de queda dos preços internacionais do gás começou, então, a se intensificar no mês passado. O TTF, referência para o mercado na Europa Ocidental, caiu de US$ 12,5 para US$ 8,8 por milhão de BTU ao longo do último mês.
O cenário também se refletiu no preço spot no mercado asiático, onde os preços caíram de US$ 11,6 para US$ 9 por milhão de BTU. Como comparação, em dezembro os preços chegaram a ficar entre US$ 30 e US$ 40 por milhão de BTU.
Segundo a Rystad, a queda reflete o inverno ameno no Hemisfério Norte – o que enfraqueceu a demanda. Esse quadro se soma ao aumento dos esforços dos países europeus em aumentar os estoques.
Em 2022, a invasão russa à Ucrânia e as consequentes sanções à Rússia geraram incertezas sobre o suprimento europeu de gás. Isso levou a uma corrida europeia no mercado internacional para diversificar o fornecimento de gás – o que criou oportunidades para os supridores americanos e africanos.
Cenário de sobreoferta deve ser breve
Mesmo que o cenário para o curto prazo seja de sobreoferta, o balanço entre oferta e demanda de gás vai seguir estreito pelo menos durante os próximos três anos, diz a Rystad.
“Apesar de ver o risco de um excesso de oferta de curto prazo nos mercados internacionais de gás e GNL [gás natural liquefeito], continuamos a ver uma pressão nos fundamentos. É também por isso que esperamos que os preços subam ao entrar no inverno, pois os ‘deuses do clima’ testarão novamente a robustez do mercado de gás”, afirmam os analistas da Rystad Sindre Knutsson, Xi Nan e Emily McClain.
A tendência é que a parada para manutenção de alguns ativos reduza o suprimento de GNL nos próximos meses.
A consultoria aponta que os baixos preços hoje vistos no mercado de GNL favorecem o uso do gás em substituição ao carvão – o que, por sua vez, ajuda a reequilibrar o excesso de oferta no curto prazo, com o aumento da oferta.
O cenário de baixos preços no mercado internacional pode levar também a uma redução na sanção de novos investimentos de GNL no mundo.
Se no ano passado ocorreu uma corrida por novos projetos, a alta nas taxas de juros, o aumento na inflação e a escassez de mão-de-obra têm dificultado o anúncio de novos empreendimentos este ano.
Para a Rystad, é possível que o mercado volte a ficar mais apertado ainda este ano, pois a falta de novos projetos torna a oferta mais escassa. Com isso, o cenário de competição internacional pelos fornecedores disponíveis deve continuar.