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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Menos de 10% das emissões globais são cobertas por um preço de carbono superior a US$ 10 por tonelada de CO2 equivalente, mostra levantamento da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
Relatório publicado nesta quarta (8/2) aponta que, no ano passado, os instrumentos de precificação de carbono tiveram dificuldade em incentivar uma mudança de combustível fóssil para fontes de baixo carbono, em algumas jurisdições, devido aos altos preços do gás natural.
Um exemplo é a União Europeia, que aumentou em 6% a geração a carvão em 2022.
O preço do carbono tem como função tornar as tecnologias limpas mais atrativas economicamente, na medida em que cria um custo àquelas intensivas em gases de efeito estufa (GEE) – geralmente na forma de impostos, ou um Sistema de Comércio de Emissões (ETS, em inglês).
“Devido à atual crise energética, as políticas de precificação de carbono entraram em território desconhecido e estão enfrentando novos desafios que impedem sua eficácia”, avalia a IEA.
No caso da UE, embora o preço do carbono influencie o custo de geração variável, os efeitos da guerra russa sobre o fornecimento de gás levaram a uma distorção no mercado, tornando o mecanismo incapaz de desempenhar seu papel tradicional.
Ainda assim, a agência acredita que o instrumento tende a ganhar relevância e gerar receita adicional para os governos apoiarem transições de energia limpa mais rápidas, amortecendo impactos sociais e de competitividade.
Em abril de 2022, 68 iniciativas de precificação de carbono estavam em vigor em todo o mundo, cobrindo mais de 23% das emissões de GEE. A maioria na forma de ETS.
Muitos deles tiveram aumentos no preço do carbono em comparação com 2021.
Na UE, o preço das licenças aumentou de uma média de US$ 50/tCO2eq para mais de US$ 90/tCO2eq em janeiro até abril de 2022. Enquanto as do Reino Unido subiram para mais de US$ 100/tCO2eq.
Os preços dobraram na Nova Zelândia (US$ 50/tCO2-eq) e em sistemas estaduais nos Estados Unidos.
Mas avançaram pouco na Coreia do Sul (US$ 19/tCO2-eq) e na China (US$ 9/tCO2eq).
- O ETS da China começou a operar em 2021 e cobre apenas o setor de energia, mas já é o maior mercado de carbono do mundo, respondendo por cerca de 9% das emissões globais de GEE.
Emissões de energia estão próximas de ponto de virada Também no relatório publicado hoje, a IEA aponta que as emissões de energia subiram 1,3% no ano passado e devem permanecer estáveis até 2025, quando começam a cair.
No período, as renováveis deverão aumentar sua participação no mix global de geração de 29% em 2022 para 35%.
Cobrimos por aqui:
- Dúvidas sobre qualidade desaceleraram mercado de carbono em 2022
- Petroleiras de olho no mercado de carbono brasileiro
- Brasil pode suprir quase metade da demanda global de créditos de carbono até 2030
Muitos planos, pouca ação
Mais de quatro mil (de 18.600) empresas divulgaram no ano passado que tinham um plano de transição climática, mas apenas 81 (0,4%) demonstraram as melhores práticas ao divulgar todos os 21 indicadores-chave para um plano confiável, mostra a plataforma mundial de divulgação ambiental CDP.
Os dados divulgados hoje (8/2) destacam um progresso lento das empresas – 2,3 mil (13%) divulgaram entre 14 e 20 indicadores-chave. Outras 6.520 (35%) informaram que desenvolverão um plano de transição dentro de dois anos.
Exemplos de indicadores-chave incluem supervisão em nível de diretoria, análise de cenário, planejamento financeiro e engajamento de políticas.
Seis (de 1.448) empresas com sede no Reino Unido divulgaram todos os indicadores. As companhias com sede no Japão tiveram o melhor desempenho, com 16. No Brasil, só uma.
“Mesmo os setores com maior presença de plano credível ainda têm um longo caminho a percorrer”, observa o CDP.
As organizações nos setores de geração de energia (2,2%) e infraestrutura (1,7%) têm maior probabilidade de divulgar todos os indicadores-chave, enquanto os setores de vestuário, combustíveis fósseis e hotelaria tiveram apenas uma organização cada uma divulgando todos eles. Veja o relatório completo (.pdf)
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