RIO — O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou nesta quinta-feira (23/3) que a empresa “não reinjeta gás porque gosta” e que companhia está disposta, sim, a investir em projetos de infraestrutura para escoar o gás natural offshore, nos próximos anos.
A declaração ocorre em meio a críticas do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), à falta de investimentos em infraestrutura de gás natural.
Na quarta (22/3), Silveira afirmou que o país está “refém das petroleiras, tanto da Petrobras, quanto das outras petroleiras nacionais” e que a intenção do programa Gás para Empregar é que a Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) seja “uma fonte geradora de possibilidades de construção de gasodutos, principalmente de escoamento [offshore]”.
Ao ser questionado se a Petrobras está disposta a assumir o papel de coordenador do desenvolvimento da infraestrutura de gás no país, Prates disse que o “maestro da política setorial nacional é o governo” e que não é preciso ter “vergonha de dizer isso”.
“Não acho que teremos problema para compor essa orquestra. O regente talvez não seja a Petrobras, mas o governo, querendo reger essa orquestra, os violinos e violoncelos estão todos afinados para tocar”, disse Prates, durante evento no Rio.
Segundo ele, a Petrobras fará investimentos estruturantes, de grande porte, “não só porque mandaram”, mas porque a companhia precisa. E citou três projetos da petroleira nesse sentido: os gasodutos de escoamento Rota 3, previsto para 2024, e do BM-C-33 e Sergipe, para a partir de 2027.
Petrobras “não reinjeta porque gosta”
O presidente da Petrobras também rebateu as críticas aos índices de reinjeção de gás da companhia no pré-sal.
Declarações os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Silveira (MME) e Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) têm convergido na direção da necessidade de se combater “desperdícios” na reinjeção de gás no Brasil.
Prates alega que a Petrobras “não reinjeta gás porque gosta”, mas porque faz sentido técnico e econômico, para otimizar a produção de óleo.
“É uma escolha: quer produzir gás que tem menos valor do que óleo que tem mais valor?”, questionou. “Na cabeça de um prefeito ou governador devia ser assim também, porque o petróleo paga mais royalties”, completou.
Ele afirmou, ainda, que construir infraestrutura nova demanda tempo e que a oferta de gás no Brasil só não é maior, hoje, por um “problema de cronologia”.
“Temos de fato um gap até 2027 de gás, mas é super temporário, porque em 2027 começa a entrar gás [de Sergipe e BM-C-33]”, disse.
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Procurado, Silveira afirmou que a Petrobras, de fato, não pratica a atual política em relação ao gás “porque gosta, mas, sim, porque não tinha responsabilidade com as brasileiras e brasileiros”.
De acordo com o ministro, não faltará à União, acionista majoritário da Petrobras, mão firme na definição das políticas de preço e investimento da Petrobras, por meio de seu Conselho de Administração e Assembleia de Acionistas.
“Agora, a Petrobras deverá cumprir sua função social, respeitada a governança e a natureza da empresa, conforme estabelece a Constituição e a Lei das Estatais”, disse, em nota.
Silveira destacou, ainda, que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) é o fórum legítimo para a discussão.
Foi tema do antessala epbr Reinjeção de gás: solução ou desperdício? Prós e contras e a volta de discussões sobre possíveis medidas para viabilizar investimentos em infraestrutura de escoamento e reduzir a reinjeção
Prates questiona termos da abertura
O presidente da Petrobras reforçou também as críticas às medidas que forçaram a companhia a reduzir a sua presença no mercado de gás natural nos últimos anos – como o compromisso assumido com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para desverticalização.
“A Petrobras já entregou a malha de gasodutos [NTS e TAG]. Já entregou a Gaspetro. Abriu mão da distribuição e do transporte. O que mais falta? Só se pegar os campos do pré-sal, dividir e dizer: olha, alguém vem vender aqui a parte do gás, vem alguém operar porque a Petrobras não pode operar os campos de gás também. Que culpa tem a Petrobras em ser competente em descobrir petróleo e gás?”
Associações ligadas às indústrias, produtores independentes e comercializadores se articulam para cobrar uma redução da fatia de mercado da Petrobras, enquanto o setor ainda aguarda uma posição da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre um possível programa de desconcentração da oferta (o gas release).
Um estudo da consultoria internacional Brattle Group, encomendado por um grupo de 14 entidades e liderado pela Abrace (grandes consumidores), recomenda que o Brasil adote um programa de gas release para que a Petrobras passe a responder por, no máximo, 25% das vendas — mas sem a fixação de limites legais. Trata-se de uma mudança radical num setor onde o agente dominante ainda detém 81% das vendas, segundo a ANP.
Prates questionou também a efetividade da abertura do setor.
“O que a NTS e TAG fazem a Petrobras poderia estar fazendo se estivesse regulada devidamente”, disse.
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