Biocombustíveis

Políticas para biocombustíveis não podem inibir desenvolvimento do hidrogênio verde, diz Gabrielli   

Acordo de cooperação entre Ineep e  governo da Bahia avalia estruturação de mercado local

Políticas para biocombustíveis não podem enfraquecer desenvolvimento de um mercado de hidrogênio verde, diz José Sérgio Gabrielli [na imagem], ex-presidente da Petrobras (Foto: Divulgação)
Ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli (Foto: Divulgação)

PARIS – O ex-presidente da Petrobras e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Sergio Gabrielli, alertou, nesta segunda (10/6), que políticas públicas de incentivo aos biocombustíveis precisam ter cuidado para não criar barreiras à produção de combustíveis sintéticos e do hidrogênio verde e seus derivados.

Ineep e o governo da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), assinaram um acordo de cooperação técnica para estruturação de um mercado local de hidrogênio verde.

Segundo Gabrielli,  programas em andamento como o Combustível do Futuro, o Mover, a atualização do RenovaBio, a Nova Política Industrial e até mesmo a Política Nacional para o Hidrogênio (PNH2) estão voltados principalmente para estimular a oferta de novos veículos de combustíveis com menos emissões  e para “a expansão dos biocombustíveis, da bioeconomia e do biorrefino”.

“Essa ênfase se justifica pelo papel do etanol e biodiesel e o tamanho da frota de veículos flex-fuel no país. Porém, a sua quase exclusividade pode vir a inibir as rotas de combustíveis sintéticos e a ampliação de novos usos para o hidrogênio verde e seus derivados”, ressalta.

A avaliação é que estímulos exclusivos à produção de biocombustíveis acirram ainda mais as desigualdades em relação ao desenvolvimento econômico entre as regiões brasileiras.

“Há uma clara escolha regional para essa ênfase na rota biológica para os novos combustíveis nessa transição. O etanol e o biodiesel, por exemplo, se concentram nas regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul”, pontua.

“Enquanto as disponibilidades de nova capacidade de geração de energia eólica e solar, que podem desenvolver a cadeia de valor dos derivados inorgânicos associados ao hidrogênio verde estão principalmente no Nordeste”, completa.

Hub de hidrogênio na Bahia

O estado aposta que a Baía de Todos os Santos, na região metropolitana de Salvador, pode ser um grande hub de combustíveis sustentáveis e abastecimento de navios.

A ideia é que o hidrogênio verde produzido no estado seja destinado, em um primeiro momento, para a fabricação de combustíveis sustentáveis sintéticos – substitutos de metanol, etanol e gasolina – e para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF).

Para isso, a estratégia da Bahia busca aproximar produtores de hidrogênio verde e biocombustíveis dos seus consumidores finais, combinando a existência dos portos de Aratu, Enseada e de Salvador, com a proximidade do distrito industrial de Aratu e o Polo Petroquímico de Camaçari, além da Refinaria de Mataripe, controlada pela Acelen.

O governo já anunciou uma série de medidas fiscais para estimular a produção de hidrogênio verde, inclusive a isenção de ICMS para toda a energia elétrica renovável – gerada no estado ou importada – que for utilizada para a produção de hidrogênio e amônia verdes na Bahia.