Mercado de gás

Visita de Lula à Bolívia pode abrir caminho para importação de gás argentino

Agenda do presidente espera avançar com negociações por mais gás boliviano, mas também por acesso ao gás de Vaca Muerta via Bolívia

Visita de Lula ao presidente da Bolívia, Luis Arce, em Santa Cruz de la Sierra, em 9/7/2024, pode abrir caminho para importação de gás natural argentino (Foto: Ricardo Stucker/PR)
Lula, em visita ao presidente boliviano, Luis Arce, em 9 de julho de 2024 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

BRASÍLIA e RIO – As negociações entre o Brasil e a Bolívia para a importação de grandes volumes de gás natural, sem a participação da Petrobras, pavimentam também o caminho para o acesso da indústria às futuras exportações da Argentina.

No curto prazo, devido a gargalos na infraestrutura, a capacidade de envio do gás de Vaca Muerta ao Brasil, via Bolívia, é da ordem de 4 milhões de m3/dia, mas esse volume pode ser ampliado com investimentos adicionais em gasodutos na Argentina.

Conforme antecipado pelo político epbr, serviço de assinatura exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias), uma comitiva de membros do governo brasileiro e associações que representam grandes consumidores de gás antecipou a visita que o presidente Lula (PT) faz à Bolívia, nesta terça (9/7), para avançar não só com os termos do comércio Bolívia-Brasil, mas também com a agenda de importação de gás de Vaca Muerta.

A infraestrutura existente de gasodutos na Bolívia é, hoje, o caminho mais rápido para as pretensões de comércio Brasil-Argentina. As alternativas (incluindo um novo gasoduto pelo Chaco Paraguaio) demandariam não só investimentos pesados em infraestrutura, como mais tempo para serem colocadas de pé.

A expectativa é que, a partir de outubro, com a conclusão das obras de reversão do Gasoduto Norte, a Argentina se torne autossuficiente do gás boliviano.

O projeto permitirá que o gás de Vaca Muerta, na Patagônia, seja enviado ao norte da Argentina e, numa inversão do fluxo da infraestrutura atual, chegue também à Bolívia – abrindo as portas para que o gás não convencional argentino seja exportado ao Brasil.

Indústria busca gás mais competitivo

A reversão do Gasoducto Norte abre espaço também para que os volumes que hoje são exportados pelos bolivianos ao país vizinho sejam redirecionados para o mercado livre no Brasil.

A concretização de contratos firmes de suprimento, em grandes volumes e entregues diretamente à indústria representaria um arranjo inédito na relação comercial entre Brasil-Bolívia.

A expectativa é que os acordos possam representar uma redução no custo do gás para indústria da ordem de 30%.

A Petrobras, principal importadora, paga pelo gás boliviano, na fronteira, cerca de US$ 6 por milhão de BTU. Com a tarifa de transporte da TBG, para importação pelo Gasbol, são adicionados cerca de outros US$ 2 por milhão de BTU.

A estatal, contudo, vende o gás para as distribuidoras a cerca de US$ 12 por milhão de BTU, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia (MME) de janeiro. A empresa compõe a sua carteira de oferta com a produção nacional, além das cargas complementares de GNL.

Importando diretamente da Bolívia, sem o intermédio da Petrobras, a indústria tem a expectativa de acessar um gás mais competitivo nos próximos anos.

Vencimento de acordo

No curto prazo, as negociações de compra e venda do gás boliviano pela indústria brasileira podem ter efeitos a partir de outubro. Isso porque em setembro vencem acordos de exportação de 4 milhões de m³/dia de gás natural boliviano à Argentina.

O volume de gás disponível para os agentes industriais brasileiros na fronteira entre Bolívia-Brasil, contudo, pode ser maior: de 6 milhões de m³/dia, ou até 8 milhões de m³/dia, se concretizada a importação de gás argentino via Gasbol.

Para além do envio de gás extra para a indústria, os bolivianos tentam negociar com o Brasil a atração de investimentos em exploração e produção de gás no país, para reverter o declínio das reservas nacionais.

Em entrevista à agência epbr, o embaixador da Bolívia no Brasil, Horacio Villegas, disse que há gás na Bolívia à espera de investimentos.

Visita oficial

Lula se encontra com o presidente boliviano Luis Arce nesta terça (9).

No embalo da visita oficial, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), tenta construir uma entrega política para o governo: uma agenda para aumentar a disponibilidade do gás competitivo para a indústria brasileira, como prometido no programa Gás para Empregar.

Silveira chegou ao país nesta segunda, acompanhado de representantes das associações da indústria química (Abiquim), de vidros (Abividro), de cerâmica (Abceram) e dos grandes consumidores de energia elétrica (Abrace), além da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e outros executivos e agentes públicos.

“Efetivamente, trouxemos temas objetivos hoje para os ministros [bolivianos]: na questão do gás, eliminar qualquer tipo de intermediação entre os grandes intensivistas do gás no Brasil, que é a indústria química, a indústria da cerâmica, a indústria de vidro, para que eles possam ter um canal direto”, disse Silveira.