Venezuela começa comercializar o Petro, primeira criptomoeda emitida por um país

Venezuela começa comercializar o Petro, primeira criptomoeda emitida por um país

O governo da Venezuela iniciou nesta terça-feira (20/2) a comercialização do Petro, primeira criptomoeda criada por um Estado e anunciada pelo presidente do país vizinho, Nicolas Maduro, em dezembro do ano passado. De acordo com o manual do comprador disponibilizado pelo governo, o interessado em adquirir a criptomoeda precisa fazer um cadastro no site www.elpetro.gob.ve para depois receber o wallet Petro. A partir do recebimento de um email de cadastro do wallet há uma séria de procedimentos indicados para instalação de chaves de segurança para depois serem liberadas as operações.

O lançamento oficial do Petro foi feito na meia noite de hoje pelo vice-presidente da Venezuela, Tareck El Aissami, em evento que foi transmitido pela televisão estatal no país vizinho. O governo Maduro afirma que a diferença entre o Petro e as mais de 500 mil criptomoeadas já existentes é que o Petro é a única lastreada em 5,4 bilhões de barris de petróleo da Faixa do Orinoco.

As vendas do Petro será feitas de forma gradativa. O total de serão emitidas primeiramente 100 milhões de Petros, sem emissões extraordinárias, sendo 82.4 milhões disponíveis ao mercado a partir de março. Deste total, 44% será oferecido em uma oferta privada e outra oferta inicial pública. Outros 38,4% serão ofertados privadamente e 17,6% retidos pela Superintendência de Criptomoeadas e Atividades Conexas da Venezuela.

A crise

Para a economia da Venezuela, os impactos da queda dos preços do petróleo, em 2015 e 2016, significou cortes na principal fonte de financiamento do Estado, levando a restrições aos mercados de dívidas e piora da situação macroeconômica interna. O petróleo representa cerca de 95% das receitas com exportação da Venezuela, de acordo com a OPEP. A produção em 2016 foi de 2,4 milhões de barris/dia, 75% para exportação.

Isso em um país que vive tensões políticas, acirradas após a morte de Hugo Chávez e a chegada de Maduro à presidência em 2013. No último ano, o partido chavista PSUV elegeu governadores em 17 dos 23 estados, em uma eleição marcada por críticas à ausência de auditores independentes no país e denúncias de fraudes por políticos rivais.

O contexto da criação do Petro

O anúncio de Maduro ocorreu 13 dias após o país ter o calote parcial de sua dívida soberana e de sua estatal de petróleo. a PDVSA, ter moratória declarada pela ISDA (Associação Internacional de Swaps e Derivativos), em mais um capítulo da crise de confiança que vive o país, já considerado mal pagador pelos EUA, União Europeia e agências de risco.

Desde agosto do ano passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs sanções a Venezuela, a Maduro e a diversos membros de seu governo, impedindo transações nos EUA e com empresas americanas. A justificativa foi o reconhecimento de que Maduro é um ditador e que os direitos humanos não são respeitados na Venezuela.

Na prática, o país enfrenta dificuldades para rolar a dívida, realizar operações de câmbio com o Bolívar – que acumula desvalorização frente ao dólar de 95% este ano e, agora, transacionar seu principal produto, o petróleo, com mercados que envolvam intermediários norte-americanos. 

Recentemente, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, que foi CEO da ExxonMobil, disse, durante visita à Argentina, que Washington estuda implementar sanções contra a produção de petróleo da Venezuela, como meio de impedir o desvio ao autoritarismo do governo de Nicolás Maduro. 

Dias depois, o presidente da Argentina, Maurício Macri, declarou que o governo Trump deveria endurecer drasticamente as sanções à Venezuela, impondo um embargo total a suas exportações de petróleo para os EUA. “Acho que deveríamos adotar um embargo total do petróleo”, disse Macri. “As coisas estão cada vez piores. Hoje é realmente uma situação dolorosa. A pobreza cresce a cada dia, as condições de saúde pioram a cada dia.”

“[O Petro] nos vai permitir avançar nas formas de financiamento internacional para desenvolvimento econômico e social do país. Será com uma emissão de criptomoedas respaldadas em reservas de riqueza venezuelana de ouro, petróleo, gás e diamantes”, Nicolás Maduro.

Ontem (19/2), Nicolás Maduro desafiou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a estabelecer um diálogo em Caracas ou Washington e pediu que ele mude  “sua agenda de pressão” contra a chamada revolução bolivariana.”(Trump) fez campanha promovendo a não intromissão nos assuntos internos de outros países. Chegou o momento de cumprir isso e mudar a agenda de agressão por uma de diálogo. Diálogo em Caracas ou Washington? Diga hora e lugar e aí estarei”, escreveu o presidente venezuelano no Twitter, onde marcou o perfil de Trump.

A lógica de câmbio e transações envolvendo Bitcoins ou outras criptomoedas usa a tecnologia chamada de blockchain, em que as operações são realizadas por redes descentralizadas e a troca de moeda ocorre quando uma equação matemática é resolvida e chaves criptografadas são validadas.

O processo é aberto para todos os integrantes das redes e ao mesmo tempo anônimo, porque a identificação e a realização das operações não dependem de dados dos usuários para a validação. 

Mas o que são criptomoedas?

O conceito surgiu em 2009, com a publicação de um artigo assinado sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto (o autor é desconhecido) propondo a criação de uma fórmula que, quando resolvida gera um bloco contendo uma cadeia única de caracteres, ou uma unidade de Bitcoin, ou seja, a emissão da moeda.

O algoritmo foi pensando para que fique cada vez mais difícil gerar novos blocos (processo chamado de mineração) e para que, de tempos em tempos, cada bloco contenha um número menor de Bitcoins. Começou com 50 moedas por bloco e é reduzido à metade a cada 210 mil blocos gerados – hoje está em 12,5 e a previsão é que caia para 6,25 em 2020.

De forma simplificada, o valor do Bitcoin, como de outras criptomoedas, varia conforme a demanda ao passo que a oferta é cada vez mais limitada – a equação prevê um custo maior de processamento para emitir cada vez menos.

A blockchain, por sua vez, é a tecnologia de solução dessas equações em blocos que precisam ser validados por toda uma rede. É uma evolução da ideia de transferência ponto-a-ponto (p2p). Assim, não são necessários intermediários exclusivos para cada operação entre criptomoedas.

Por exemplo, é possível transferir Bitcoins ou outras criptomoedas de uma conta (chamadas de wallets, carteiras) para qualquer pessoa em qualquer lugar no mundo com acesso à internet. Para dar mais segurança, há casas de câmbio digitais, mas a transferência poderia ser feita até por e-mail. Ter um Bitcoin nada mais é do que ter a chave criptográfica, uma cadeia de caracteres, que dá acesso a uma ou mais partes e inteiros de uma unidade da moeda.