BRASÍLIA — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta quarta (25/9) que o Brasil siga explorando petróleo, inclusive com a abertura de novas fronteiras, a exemplo da Margem Equatorial, para transformar a Petrobras em uma empresa de energia.
“A gente vai usar o potencial de exploração de petróleo do Brasil para que a gente possa transformar a Petrobras em uma empresa de energia, e não em uma empresa de petróleo. Quando o petróleo acabar, a Petrobras tem que estar produzindo outras energias que o Brasil e o mundo precisam”, disse a jornalistas no encerramento da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
Questionado sobre críticas de organizações sociais sobre a contradição entre defender o clima e a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, Lula disse que não enxerga “contradição nenhuma”, e que o mundo ainda não pode abrir mão completamente dos combustíveis fósseis.
“A gente precisa ter consciência que não está em um mundo que pode dizer que pode acabar o combustível fóssil, que vai ter combustível alternativo. É preciso que quando a gente fale isso, a gente aponte como é que vai viver no planeta até ser autossuficiente em outro tipo de energia”, comentou.
E argumentou que o Brasil, por adicionar etanol à gasolina e biodiesel ao diesel, já fornece combustíveis com menor intensidade de carbono.
Na segunda (23/9), o presidente brasileiro se reuniu com o presidente global da petroleira britânica Shell, Wael Sawan, e o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto, em uma agenda paralela à reunião da ONU. O encontro não constou da agenda oficial. (BBC)
“Conversei com uma empresa que tem investimentos há 100 anos no Brasil. É sócia da Petrobras em 60% dos poços leiloados. E ela só vai para a Margem Equatorial quando o governo brasileiro autorizar a Petrobras a fazer a pesquisa na Margem Equatorial”, afirmou durante a coletiva.
Exploração na Foz do Amazonas
No início de agosto, a Petrobras entregou ao Ibama uma nova revisão do Plano de Proteção à Fauna (PPAF), como parte da tentativa de reverter a rejeição do pedido de licença para a perfuração na Bacia da Foz do Amazonas.
A companhia afirma que será possível reduzir pela metade o tempo de resposta necessário para resgate e transporte de animais eventualmente afetados por um vazamento de óleo durante a perfuração dos poços em águas profundas, no Amapá.
- O bloco em questão (FZA-M-59) fica a cerca de 175 km da costa, o que segundo o Ibama eleva a complexidade ambiental da operação na região, dado o tempo necessário para equipes e embarcações de prontidão se mobilizarem em caso de acidente.
Essa é a quinta revisão do PPAF, e conta com a previsão de instalação de uma nova Unidade de Estabilização e Despetrolização no Oiapoque (AP), além de uma unidade na capital Belém. Veja os detalhes
Organizações ambientais insatisfeitas
Ontem, após o discurso de abertura da assembleia geral, organizações ambientais chamaram a atenção para o que chamam de contradição no discurso do presidente brasileiro, ao defender que o mundo trabalhe para depender menos de combustíveis fósseis, enquanto internamente apoia a abertura de novas fronteiras exploratórias de petróleo.
“Dizer que a meta climática do país será alinhada à meta de Paris de manter o aquecimento do planeta abaixo de 1,5°C nada mais é do que repetir o entendimento conquistado em Dubai no ano passado e a própria proposta brasileira de ‘missão 1.5’. Se o Brasil quer liderar a agenda climática pelo exemplo, o presidente deveria estar dando sinais de que isso significa na prática, como vai se afastar dos combustíveis fósseis, por exemplo”, comentou Stela Herschmann, assessora de Política Internacional do Observatório do Clima.
Já o Greenpeace Brasil alerta para o risco de o discurso sobre “justiça climática” se converter em justificativa para os planos brasileiros de seguir explorando petróleo no longo prazo.
“Embora considerar a ação climática à luz da justiça e equidade seja crucial, é igualmente importante que isso não seja utilizado como pretexto para permitir a continuidade da exploração de combustíveis fósseis e de modelos de desenvolvimento arcaicos sob o manto do combate à desigualdade”, comenta Anna Maria Cárcamo, especialista em política climática do Greenpeace Brasil.