Mercado de gás

TCU alerta que grave déficit de pessoal na ANP impacta mercado de gás

Tribunal cita que, diante da escassez de profissionais, agência tem dificuldades para lidar com novas atribuições, necessárias para abertura do mercado

TCU alerta que grave déficit de funcionários na ANP impacta avanço do mercado de gás natural. Na imagem: Série de tubulações de gás natural nas cores prata, azul e verde, lado a lado, em citygate da distribuidora estadual Algás (Foto: Divulgação)
Tubulação de gás da distribuidora Algás (Foto: Divulgação)

RIO – O Tribunal de Contas da União (TCU) classifica como grave o déficit de pessoal na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e alerta o governo federal para os impactos da escassez de recursos humanos no regulador sobre o desenvolvimento do mercado de gás natural.

Diante do déficit de profissionais, ainda de acordo com o TCU, a ANP tem “dificuldades para lidar com todas as demais atribuições que lhe foram imputadas” pela Nova Lei do Gás.

A conclusão consta de um relatório de fiscalização recém-publicado pelo órgão de controle sobre a execução do Novo Mercado de Gás – política do governo Jair Bolsonaro (PL) voltada para a abertura da indústria de gás no Brasil.

No documento (veja na íntegra, em pdf), a equipe técnica da corte cita os atrasos na execução da agenda regulatória da ANP, em especial no setor de transporte – “o que potencialmente prejudica a velocidade do processo de abertura do mercado”, de acordo com o relator, o ministro Walton Alencar Rodrigues.

Nas discussões do programa Gás para Empregar, o diagnóstico do governo federal é de que os custos da infraestrutura de gás (incluindo também o escoamento e processamento) são elevados no Brasil. O Ministério de Minas e Energia sinaliza a intenção de adotar medidas, justamente, para destravar a agenda da ANP.

Quadro da ANP é insuficiente

Ao participar da gas week 2024, a diretora da ANP, Patrícia Baran, reconheceu que cumprir a agenda regulatória tem sido um desafio.

“A quantidade e diversidade de assuntos sobre responsabilidade da ANP, associados ao ineditismo de várias ações regulatórias previstas, vem, sem sombras de dúvidas, se mostrando um enorme desafio para a agência”, disse.

“Nesse sentido, para cumprir essa missão, foi necessário para a ANP uma priorização de algumas ações regulatórias, o que se materializa, claro, no cronograma da agenda regulatória”.

O TCU relata que a ANP tem solicitado, ano após ano, sem sucesso, autorização para realização de concurso público para o provimento de 120 cargos efetivos, sendo 53 deles para especialistas em regulação.

Apesar da realização de concurso para contratação de temporários, a quantidade de servidores, segundo a equipe técnica do TCU, “certamente não é suficiente para o atendimento adequado da extensa demanda por atividades de regulação”. O recorte da fiscalização do TCU vai até o terceiro trimestre de 2023.

TCU vê avanços

Apesar das dificuldades de regulamentação da Nova Lei do Gás, o TCU vê avanços na abertura do mercado.

O relatório cita que houve uma redução da participação da Petrobras no mercado, ainda que, conforme diagnóstico da própria ANP, essa redução seja insuficiente – o que justifica a inclusão do gas release na agenda do regulador.

E que, desde 2016, o acesso ao escoamento e processamento tem avançado nas esferas legal, infralegal e de atuação da Petrobras e da ANP.

A agência, aliás, espera publicar este ano a regulamentação do acesso não discriminatório e negociado de terceiros às infraestruturas essenciais.

A corte também destaca que o mercado de gás convive com conflitos federativos nas esferas das regulações federal e estaduais; e que a expansão da malha de gasodutos de escoamento e de transporte deverá se desenvolver nas próximas décadas.