RIO — A Energisa aposta no uso do gás natural como fonte de geração de energia para data centers como uma das principais avenidas de crescimento do setor de distribuição de gás canalizado. Para isso, contudo, será preciso reconhecer o gás como uma fonte confiável e complementar às renováveis nas políticas de incentivo ao novo negócio.
Esse foi um dos pontos do sexto episódio do videocast gas week, com a CEO da Energisa Distribuição de Gás, Débora Oliver. Assista na íntegra acima.
Ela cita que o potencial da oferta de energias renováveis, sozinho, não será suficiente para atrair os projetos de data centers para o Brasil.
“A gente entende que, hoje, se a gente continuar com a bandeira apenas do renovável, provavelmente o investidor que conhece, que tecnicamente sabe o risco que ele tem, não vai investir. E quem perde com isso é o país”, comentou.
O mercado ainda aguarda novidades sobre a Política Nacional para Data Centers (Redata). Prometida pelo ministro da Fazenda, Fernand Haddad (PT), a política deveria ter sido lançada no primeiro semestre, mas foi adiada por causa da crise fiscal.
No Planalto, chegou-se a discutir uma versão sem benefícios fiscais, limitada a ajustes regulatórios para prestação de serviços digitais nas Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs).
Ao fim, acabou saindo uma Medida Provisória voltada aos data centers, mas sem eles, obrigando a contratação de energia renovável nova por empresas instaladas nas ZPEs.
Energisa também mira interiorização e caminhão a gás
O grupo Energisa entrou na distribuição de gás em 2023, com a aquisição da ES Gás (ES), e reforçou sua presença no setor, no ano passado, com a compra do controle da Norgás – sociedade com a Mitsui que reúne participações nas concessionárias Algás (AL), Cegás (CE), Copergás (PE) e Potigás (RN).
A companhia acredita que o Nordeste pode se posicionar como um hub energético-digital, aproveitando-se de sua matriz de energias renováveis e da infraestrutura de gás e cabos submarinos na região.
“Então, a gente tem falado muito em como ser exatamente essa alavanca: de compor com a renovável o gás natural. E o gás natural traz essa questão de estabilidade. E de ele ser uma forma de alavancar novas regiões de crescimento futuro [do negócio de distribuição]”, disse.
Os data centers compõem, no entanto, uma das apostas das distribuidoras para expansão do consumo de gás no país.
Débora Oliver destaca que o setor industrial ainda tem um importante papel a cumprir como avenida de crescimento do negócio, mas que, para aproveitar esse potencial, é preciso investir na interiorização do gás.
“O que a gente busca, quando a gente fala de grandes volumes, é buscar cada vez mais uma interiorização. Não somente se ater ali àquele segmento, àqueles mercados que já estão ali mais próximos, mas levar efetivamente gás para outras regiões, onde ele pode deslocar alternativos, outros tipos de combustíveis, muitas vezes mais poluentes”.
E um outro segmento que a Energisa olha com atenção é o potencial de substituição do diesel por gás na frota de veículos pesados – e a integração desse negócio com o de biometano.
“A gente entende que não é uma coisa que vai ter resultado de curtíssimo prazo. A gente sabe que a gente tem que trabalhar para criar esse movimento. Para que, de fato, as grandes transportadoras, as grandes empresas comecem a migrar suas frotas”.
“O produtor de caminhão vende caminhão. Ele não vende gás, ele não vende energia elétrica, ele não vende diesel. Ele vende caminhão. Então, como é que a gente consegue efetivamente influenciar os stakeholders a produzir caminhões a GNV?”, questiona.
O desenvolvimento do transporte a gás passa, segundo ela, por uma visão integrada entre as distribuidoras – também por incentivos por parte do poder público.
“A questão básica a ser feita é, óbvio, que os pontos de abastecimento têm que existir. Eu acho que esse é o primeiro ponto”.