Na tentativa de evitar fechar o ano com uma cascata de notícias ruins no campo da economia, o presidente Michel Temer participa nesta quinta-feira (21/12) do lançamento do Plano de Negócios 2018/2022 da Petrobras, no Palácio do Planalto. O evento – sem similar na história recente da petroleira – visa contrabalançar o impacto do adiamento da Reforma da Previdência e a decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que suspendeu os efeitos da medida provisória que adiava o aumento do funcionalismo público federal.
As duas reviravoltas, tanto a legislativa quanto a judiciária, praticamente fecharam o ano da política em Brasília e apresentaram um cenário de incertezas econômicas para Temer e sua equipe no último ano de mandato – quando todo governo espera voar em céu de brigadeiro e dar a seus candidatos a oportunidade de surfarem em notícias positivas.
O governo Temer foi considerado ruim ou péssimo por 74% da população, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope. Já 6% consideram ótimo ou bom, 19% regular e 2% não sabem ou não responderam. O levantamento foi divulgado ontem (20/12) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Na terça-feira (19/12), o ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou a jornalistas que o governo ainda estuda o que fazer com o orçamento de 2018. Na semana passada, o mesmo Meirelles se apressou em dizer que a reforma da previdência não está enterrada. No momento, para o governo, mais do que o temor de não aprovar a reforma, há o medo de ver a nota do Brasil rebaixada pelas agências de risco.
A participação de Temer no evento da Petrobras, no entanto, coloca novamente peso político no planejamento da petroleira. É o segundo Plano de Negócios lançado por Pedro Parente desde que assumiu o comando da estatal em meados de 2016. O primeiro, lançado no Rio de Janeiro em setembro do mesmo ano, trouxe uma redução de 25% nos investimentos, que ficaram na casa de US$ 74 bilhões.
Desde que chegou ao Planalto, o governo atual vendeu a promessa de manter a independência da Petrobras. De fato, tirou as amarrar da empresa nos reajustes dos derivados e nas parcerias estratégicas. O recente anúncio da entrada da Statoil no projeto de produção do campo de Roncador é outra prova dessa medida.
Mas os sucessivos reajustes do gás de cozinha (GLP13) tiveram grande impacto em Brasília. A pressão política fez com que, na semana passada, a Petrobras voltasse atrás e anunciasse mudanças em sua política de preços.
Em clima pré-eleitoral, opositores e aliados de Temer mostraram o descontentamento da classe política com o reajuste acumulado do gás de botijão – que soma alta de 68% desde o meio do ano. Atento à ressonância popular do impacto do aumento, o ex-presidente Lula incorporou ao seu discurso a crítica à gestão da Petrobras e à política de preços de combustíveis do governo.
E o que o Plano de Negócios deve trazer?
A Petrobras já sinalizou em mais de uma oportunidade que o novo planejamento da empresa não deve trazer grandes mudanças. É esperado que a empresa detalhe os desinvestimentos que pretende fazer na área de refino e postergue a entrada em operação de projetos de produção previstos atualmente para o ano de 2020, como já fez com os projetos de Libra 1 e Sépia.
“Não esperem mudanças radicais”, alertou Pedro Parente, durante a divulgação do resultado financeiro da petroleira em 13 de novembro. Aliás, a recuperação econômica da empresa e a redução da sua alavancagem deve ser a tônica do evento de hoje.
O E&P continuará sendo a principal área da empresa, sobretudo os investimentos no pré-sal, que estão ganhando força com os novos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A área de Refino e Gás Natural começa a ganhar destaque com a abertura do mercado de downstream e a busca por projetos com baixa pegada de carbono, que também deve estar marcada nesse plano. O uso do gás natural tem sido o caminho encontrado por diversas petroleiras.
A área de Desenvolvimento da Produção – comandada internamente por Hugo Repsold depois da renúncia de Roberto Moro – tem o desafio de colocar no próximo ano sete plataformas de produção em operação, sendo seis próprias e uma afretada. É um desafio nunca antes feito pela empresa. A partir de 2019, pelo planejamento atual e isso pode ser postergado hoje, começa a tocar apenas projetos afretados, sem a necessidade de gerir obras de construção de plataformas.