Conflito no Planalto

O que levou Marina a sair do governo em 2008 e o que enfrenta na gestão Lula 3

Ministra do Meio Ambiente revive tensões entre desenvolvimento e preservação, com críticas de aliados e ausência de apoio petista em embate no Senado

Marina Silva recebe apoio da Bancada Feminina da Câmara dos Deputados e do Conselho de Participação Social, em 28 de maio de 2025, após ataques em audiência na CI do Senado, na véspera (Foto Fernando Donasci/MMA)
Marina Silva recebe apoio de parlamentares e do Conselho de Participação Social, após ataques em audiência na CI do Senado (Foto Fernando Donasci/MMA)

Há 17 anos, também no mês de maio e chefiando a pasta do Meio Ambiente (MMA) de um governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marina Silva (Rede) pedia demissão do cargo.

O desembarque do governo petista, do qual fazia parte desde o primeiro dia do primeiro mandato, ocorreu após uma série de desgastes entre ela e outros governistas e foi simbolicamente encerrado com uma carta de demissão, em que Marina destacou “crescentes resistências junto a setores importantes do governo e da sociedade”.

Duas entre várias disputas internas que envolviam tentativas de sobrepor interesses econômicos à preservação ambiental se destacaram no agravamento da crise que levou a sua saída da pasta.

Uma semana antes de deixar o cargo, como mostrou o Estadão na época, Marina se considerou desprestigiada com a decisão de Lula de entregar o comando do Plano Amazônia Sustentável (PAS), gestado desde 2003, ao então ministro da Secretaria Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. Segundo narraram assessores do Palácio, a ministra “quase caiu da cadeira” quando foi informada da decisão.

O processo de desgaste se acentuou um ano antes, quando o não andamento de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi atribuído ao atraso na concessão de licenças ambientais pelo Ibama. Marina chegou a protagonizar disputas com a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Os interesses de Dilma para o PAC contrariavam a política ambiental defendida por Marina, que acabou tendo de ceder ao licenciamento de obras de infraestrutura na região amazônica.

O próprio presidente fez críticas públicas à área sob comando da ambientalista quando a falta de licenças atrasou o processo de leilão das usinas do Rio Madeira.

Agora, novamente à frente da pasta do Meio Ambiente e em um cenário mais desafiador pelos efeitos das mudanças climáticas causando desastres nas cidades e no campo, Marina volta a enfrentar resistência no próprio governo.

Em fevereiro, Lula defendeu os estudos para a exploração de petróleo na Margem Equatorial e disse que “ninguém pode proibir” as pesquisas para avaliar a região, além de afirmar que o Ibama estava de “lenga-lenga” e parecia ser “contra o governo”.

Em audiência pública para discutir a criação de reservas extrativistas no Amapá nesta terça-feira (27/5), senadores em defesa da exploração mineral na região usaram o mesmo tom de críticas para interrogar e criticar a ministra, convidada pelos parlamentares para a sessão.

Omar Aziz (PSD/AM) gritou: “A senhora atrapalha o desenvolvimento do nosso país”. Plínio Valério (PSDB/AM), que em março já havia dito ter vontade de enforcá-la, falou que a ministra não merecia respeito. Diante da conduta, Marina exigiu um pedido de desculpas de Valério e, com a negativa, deixou a sessão.

Apesar de Lula ter ligado para a ministra, dizendo que ela agiu corretamente ao se retirar da sala da comissão, senadores petistas, como Randolfe Rodrigues (PT/AP) e Jaques Wagner (PT/BA), não estiveram presentes na hora do entrevero final. Como mostrou a colunista Vera Rosa, apesar da ausência, Raldolfe negou que o governo tenha abandonado Marina à própria sorte.

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