BRASÍLIA – Dados divulgados nesta sexta (10/2) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que, em janeiro deste ano, o desmatamento na Amazônia registrou queda de 61% em comparação ao mesmo período do ano passado.
No primeiro mês de 2023, o Inpe apontou 167 km² desmatados, enquanto em 2022 foi calculada uma área desmatada de 430 km² no bioma.
Também é a primeira vez, nos últimos cinco meses, que a área mensal devastada é menor que a do ano anterior.
Mato Grosso (69 km²), Pará (32 km²) e Roraima (31 km²) foram os estados com maior índice de desmatamento na Amazônia Legal, somando 79% do total de destruição. Os três municípios com regiões mais desmatadas – Porto dos Gaúchos, Querência e Tabaporã – pertencem ao Mato Grosso, totalizando 33 km².
Para o especialista em conservação do WWF Brasil, Daniel Silva, os números são positivos, entretanto “ainda é cedo para falar sobre uma reversão de tendência”. Ele explica que parte desta queda pode estar relacionada à maior cobertura de nuvens no período.
O monitoramento é feito pelo Deter (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real), plataforma de imagens de satélites utilizada pelo Inpe. E os sensores ópticos do aparelho podem ser afetados pela ocorrência de nuvens.
Retomada de políticas de controle
Os números reforçam as investidas do governo Lula (PT) para retomar a agenda ambiental no país após as medidas de preservação serem abandonadas pela gestão anterior de Jair Bolsonaro (PL).
Somente em setembro do ano passado, foi registrado um aumento de 147% de focos de queimadas na Amazônia, em relação a 2021, o pior percentual desde 2010.
Na última quarta (8/2), o governo federal anunciou o lançamento de um plano nacional para controle do desmatamento nos biomas brasileiros durante a reunião da Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Brasil (PPCD), em Brasília.
Para Frederico Machado, especialista em conservação e líder da Estratégia de Conversão Zero do WWF-Brasil, o país deve enxergar possibilidades para se tornar referência em sustentabilidade.
“Há oportunidade para nos tornarmos referência em produtividade sustentável, agricultura regenerativa, captarmos recursos no mercado de carbono e termos condições comerciais e financeiras diferenciadas por compromissos socioambientais que sejam encampados pelo governo e o setor privado”.
Ele também defende que o Brasil “abra os olhos” para os riscos de exclusão de mercados mais exigentes, como o europeu, que fechou as portas aos produtos agropecuários associados ao desmatamento.
Fortalecimento do Fundo Amazônia
A reativação do Fundo Amazônia pelo novo governo recuperou a confiança de doadores internacionais.
Criada em 2008, a iniciativa é responsável pela captação de recursos destinados à preservação das florestas, mas estava com os fundos paralisados desde 2019.
Além da Alemanha e Noruega como países contribuintes, o Brasil deve contar com os investimentos da França e da União Europeia, que, recentemente, demonstraram interesse em fomentar o projeto. A declaração foi feita pela ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, em visita ao Brasil.
É esperado também que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anuncie nesta sexta (10/2), a intenção de aplicar recursos ao brasileiro. O presidente Lula está cumprindo agenda em Washington (EUA).
Atenção ao Cerrado
Já no Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, foram desmatados 442 km² em janeiro deste ano. O bioma possui desmatamento duas vezes superior ao da Amazônia, configurando um patamar alto de destruição.
De acordo com o Inpe, dois estados da região Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – foram os mais desmatados. Em janeiro, a Bahia (156 km²) e o Piauí (124 km²) contribuíram para 63% da área desmatada no bioma.
Cerca de 40% do desmatamento do primeiro mês de janeiro se concentrou em quatro municípios: Sebastião Leal/PI (79 km²), São Desidério/BA (49 km²), Jaborandi/BA (25 km²) e Formosa do Rio Preto/BA (21 km²).
Ano passado, o bioma atingiu a maior taxa de desmatamento em sete anos, com um aumento de 25% de áreas devastadas; alcançou 10.689 km² de destruição.