Governança digital

Lula reafirma em Paris que é preciso regular redes digitais e criar governança sobre uso de IA

Durante discurso em universidade francesa, presidente afirma que ausência de regras nas redes digitais interessa apenas às big techs, anuncia declaração dos Brics sobre IA e reforça defesa de educação como ferramenta de transformação social

Lula recebe o título de Doutor Honoris Causa ao Presidente da República, na Universidade Paris 8, na capital francesa, em 6 de junho de 2025 (Foto Ricardo Stuckert/PR)
Lula recebe o título de Doutor Honoris Causa ao Presidente da República, na Universidade Paris 8, em 6 de junho de 2025 (Foto Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou nesta sexta-feira (6/6), durante discurso na Universidade de Paris 8, que a ausência de uma regulação das redes digitais interessa apenas às grandes corporações.

Lula disse que também é necessário criar uma governança sobre o uso da inteligência artificial (IA). Ele contou que a Cúpula dos Brics, que será realizada em junho, no Brasil, irá adotar uma declaração conjunta sobre IA.

“As oportunidades que se abrem com a inteligência artificial são ilimitadas, mas os riscos não são menores”, afirmou o presidente brasileiro, logo após receber o título de doutor honoris causa da universidade pública em Saint Denis, município da região metropolitana de Paris.

Em seu discurso, Lula defendeu a educação como forma de transformação social e afirmou que as pessoas mais pobres devem ter o direito de escolher qual carreira e curso querem fazer.

“Muitos escolhem o que fazer querem. Mas muitos outros não têm o direito de escolher o que estudar porque ‘nasceram para ser pobres’. Não é normal a gente aceitar a ideia de que há pessoas que nasceram para ser pobres”, disse Lula.

“No meu país, a filha de uma empregada doméstica pode disputar um banco da universidade com a filha da patroa de sua mãe. Só o Estado pode garantir oportunidade para todo o mundo”, disse Lula, mencionando os programas ProUni e Fies.

O Brasil é um país que poderia ser muito mais desenvolvido se, no passado, uma política de elite tivesse feito o necessário para isso, afirmou. “Tento imaginar que tipo de elite tinha o Brasil que não levava em conta a necessidade de educar seu povo para tornar o país competitivo em termos de indústria, comércio”, disse Lula.

O presidente declarou que planeja criar uma universidade para os indígenas e outra externa para esportes, a exemplo da Universidade de Integração Latino-Americana (Unila), atualmente criticada por parlamentares da oposição por ter desempenho abaixo da média nacional.

Em seu discurso, Lula afirmou também que é preciso investir mais na educação em período integral, ampliar o currículo escolar, abrangendo temas como a crise climática.

“É preciso colocar mais ensino da vida real para que todos aprendam a cuidar do meio ambiente”, disse, acrescentando que o governo tem a meta de, até 2030, ter 80% das crianças do ensino fundamental já alfabetizadas no segundo ano. “A educação é a ferramenta mais poderosa para solucionar os homens sociais”.

Genocídio em Gaza

Um exemplo do que fez na quinta-feira (5/6) durante coletiva à imprensa, Lula reafirmou sua indignação sobre a guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza. “A intolerância e o extremismo corroem a confiança das instituições”, disse.

Ele repetiu que defender a educação também é uma forma de resguardar valores da democracia. “A extrema direita usa o mesmo método das ditaduras no século passado que é atacar estudantes e professores. A extrema direita tem medo da educação porque sabe que está lá onde nasce a consciência”, disse.

O presidente disse se sentir honrado em receber o título de doutor honoris causa, assim como recebeu a professora e pesquisadora brasileira, Marilena Chauí. “A homenagem de hoje não é só um reconhecimento pessoal.”

“Tenho certeza de que esse título é muito mais uma homenagem à capacidade de resistência do povo brasileiro do que a qualquer outra coisa que eu tenha feito pelo país”, afirmou.

* Por Karla Spotorno. A jornalista foi convidada da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg).

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