O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou na noite desta segunda-feira, 11, que está deixando o país rumo ao México. O presidente, que renunciou ontem frente ao aumento da pressão de grupos opositores, afirma que lamenta deixar a Bolívia mas diz que voltará em breve “com mais força e energia”.
Morales renunciou frente ao aumento da violência de grupos opositores que atacaram residências de lideranças políticas ligadas a ele e de familiares do presidente. Mas seu paradeiro seguia desconhecido desde ontem. O jornal argentino Clarín chegou a noticiar que ele estaria seguindo para a Argentina.
A crise na Bolívia provocou a renuncia das principais figuras políticas do Estado. Além de Morales, o vice-presidente, Álvaro García Linera, e os presidentes do Senado e da Câmara, além do primeiro vice-presidente do Senado, também renunciaram. O vácuo de poder provocou uma situação inédita no país que não estava prevista nem na Constituição. Sem ocupantes para os cargos, a carta magna do país não prevê quem deve ser o líder do governo.
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Ontem a segunda-vice presidente do Senado, Jeanine Añe, de oposição a Morales, reivindicou o direito de assumir a presidência da República. Ela promete organizar novas eleições. Segundo colocado na eleição de outubro, o centrista Carlos Mesa, pede um governo provisório que seja capaz tem de convocar nova eleição.
Mas o opositor de direita, Luis Fernando Camacho, sugere que seja formada uma “junta de governo”. Algo não previsto na Constituição.
Camacho teve papel de destaque nas últimas 24 horas ao entrar o palácio de governo e depositar uma bíblia sobre a bandeira nacional e divulgar um vídeo com a atuação.
Evo deixou o cargo horas depois de o comandante das Forças Armadas da Bolívia, general Williams Kaliman, declarar que o presidente deveria deixar o cargo. Na noite de domingo tomou lugar uma onda de protestos violentos, saques e incêndios. Nesta segunda, Kaliman pediu também que o chefe da polícia, Vladimir Yuri Calderón, deixasse o posto. O que também ocorreu.
A embaixada da Venezuela no país teria sido atacada com explosivos, segundo a embaixadora, Crisbeylee González. Já a embaixada do México afirmava nesta segunda já ter concedido asilo a 17 políticos bolivianos.
Morales e Linera renunciaram ao cargo neste domingo em anúncio na rede pública de televisão boliviana.
Mais cedo, Morales havia anunciado que tinha decidido convocar novas eleições presidenciais depois que a auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que houve irregularidades na eleição presidencial do dia 20 de outubro, quando Evo foi reeleito em primeiro turno. A OEA recomendou novas eleições no nosso vizinho.
O ministro de Hidrocarburos, Luis Alberto Sánchez, já havia anunciado sua renúncia no início da tarde. “Pensando no bem nacional e no respeito pela vida faço pública minha renúncia irrevogável ao cargo de ministro de Hidrocarburos”, comentou na sua conta no Twitter.
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Impacto na chamada pública da TBG
A renúncia de Morales tem impacto direto na chamada pública em que a TBG oferta 18 milhões de m³/de capacidade do Gasoduto Bolívia-Brasil, relativos a um contrato com a Petrobras que vence este ano e que está atualmente suspensa por conta de um pedido do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Para o gasoduto não ficar parcialmente descontratado, os novos acordos precisam ser fechados até dezembro.
É a primeira concorrência do tipo no Brasil, para acesso a um gasoduto de transporte. Serão feitas até seis rodadas para envio das propostas, começando em 21 de outubro, com divulgação do resultado final até 14 de novembro. Pode ser antes.
Em 2021 e 2024 vencem contratos de 6 milhões de m³/dia, cada, entre a TBG e a Petrobras. Para 2030, vence o último contrato, de 5,2 milhões de m³/dia. A Petrobras, contudo, pode antecipar o acesso aos gasoduto de transporte.
Crise após eleição e protestos
No último dia 20 de outubro, Morales foi reeleito no primeiro turno para o quarto mandato com 47,07% dos votos deixando em segundo lugar Carlos Mesa, que teve 36,51%.
Lideranças de oposição decidiram radicalizar os protestos e paralisar o país. Liderados por Luis Fernando Camacho, presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, os opositores afirmam que fecharão serviços públicos e fronteiras para bloquear a entrada de recursos e forçar a renúncia de Morales.
Eles querem novas eleições e a saída do presidente. Camacho afirma ter o apoio da polícia e das Forças Armadas para sustentar a paralisação.
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