Mercado de gás

EPE acredita que Foz do Amazonas pode se tornar um polo de produção de gás 

Mesmo sem descobertas na região, estatal estuda rota para escoar gás da Foz no futuro

Heloísa Borges, diretora de Estudos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE, em entrevista ao estúdio epbr durante o Sergipe Day na Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio, em 12/3/2024 (Foto: Victor Curi/epbr)
Heloísa Borges é diretora de Estudos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE em entrevista ao estúdio epbr (Foto: Victor Curi/epbr)

RIO – A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) acredita que a Bacia da Foz do Amazonas tem potencial para se tornar um polo importante de produção de gás natural no futuro.

Mesmo sem a confirmação de descobertas na bacia, uma região ambientalmente sensível e cuja exploração enfrenta resistências no Ibama, a EPE incluiu a Foz do Amazonas nos seus estudos de planejamento de expansão da infraestrutura de gás – o Plano Indicativo de Processamento e Escoamento (Pipe).

A EPE estima que, uma vez confirmado o potencial da Bacia da Foz do Amazonas para gás, o desenvolvimento de uma rota de escoamento de 20 milhões de m3/dia, associada a uma unidade de processamento (UPGN) local, poderia atrair investimentos de R$ 9,7 bilhões.

O impacto no PIB seria de R$ 5,1 bilhões, além da geração de 23 mil postos de trabalho.

A estatal do planejamento energético destaca que a descoberta de gás na costa do Amapá poderia estimular o surgimento de um mercado de gás local – e a possibilidade de os recursos da Foz do Amazonas serem destinados a uma planta de liquefação, para comercialização no Brasil e no mercado global de gás natural liquefeito (GNL).

Estudos da EPE sugerem alto potencial na região

A EPE considera, em seus estudos, uma rota de escoamento que conectaria o bloco exploratório FZA-M-59 (da Petrobras, que enfrenta dificuldades no licenciamento junto ao Ibama) até uma UPGN indicativa, localizada nas proximidades do município de Calçoene (AP), a 350 km de distância.

O Pipe tem um caráter meramente indicativo, cabendo aos agentes do mercado a decisão de investimento nos projetos mapeados. No plano, são apresentadas alternativas de projetos de gasodutos de escoamento e UPGNs em nível conceitual, com estimativas de custos.

É a primeira vez que a EPE inclui no Pipe um projeto de escoamento de uma nova fronteira exploratória que ainda carece de descobertas.

A estatal do planejamento reconhece que ainda há incertezas exploratórias elevadas na região e desafios, principalmente ambientais, para o desenvolvimento dos projetos na nova fronteira da Margem Equatorial.

A diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, Heloisa Borges, justifica a inclusão da Foz do Amazonas no Pipe pelo seu potencial.

Ela alega que faz parte da competência da estatal elaborar estudos e análises que nortearão as escolhas do Estado – e que o planejamento de uma infraestrutura de gás na região ocorre após estudos prévios da EPE sobre a avaliação de volumes na bacia.

Heloísa cita que, embora a bacia seja efetivamente pouco explorada e o licenciamento seja, hoje, um entrave para exploração da região, estudos recentes de volumetria feitos pela EPE – com a consultoria da Geoworks Consulting Services – indicam uma expectativa de volume in place de 80 bilhões de barris de óleo equivalente.

A diretora destaca também que as descobertas robustas na Guiana e Suriname – e na costa de Gana, na África, cuja evolução geológica é análoga à da Margem Equatorial sul-americana – alimentam o otimismo com o potencial petrolífero do litoral do Amapá.

Ainda segundo ela, a inclusão de projetos exploratórios na Bacia da Foz do Amazonas descentraliza investimentos em exploração e produção, com impactos na distribuição de renda e desenvolvimento regional e nacional.

Além disso, pode contribuir para a transição energética da região Norte do país, “favorecendo a migração de combustíveis mais poluentes (óleo diesel e óleo combustível) para o uso do gás natural, principalmente para geração termelétrica”.

Licenciamento aguarda consulta à Funai

A Petrobras ainda aguarda uma posição do Ibama para avançar com a perfuração no bloco FZA-M-59. Em outubro, o órgão ambiental encaminhou o caso para consulta da Funai – gerando temores quanto ao atraso na análise da licença.

Na ocasião, o Ibama pediu à Funai uma avaliação do possível impacto em terras indígenas da exploração de óleo e gás do bloco FZA-M-59, em razão do sobrevoo de aeronaves em regiões com aldeias no município de Oiapoque (AP). Desde então, o caso não avançou.

Em novembro do ano passado, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, sinalizou que uma nova decisão deveria sair no início de 2024. No entanto, servidores do órgão estão em greve desde janeiro, o que afeta a área de licenciamento de modo geral.

A Petrobras mantém a expectativa de que a licença seja emitida ainda este ano, e planeja uma Avaliação Pré-Operacional (APO) – um exercício simulado de resposta a incidentes por derramamento de óleo e que faz parte do rito do pedido de licenciamento – na Bacia Foz do Amazonas.

A petroleira chegou a preparar atividades na Foz, antes que o Ibama decidisse, em maio, negar a licença para perfurar um poço na bacia. Na época, o órgão apontou a necessidade de realização de estudos de caráter estratégico (AAAS) na bacia – a Advocacia-Geral da União (AGU) publicou parecer contrário a esse entendimento.

Na sexta (15/3), a Petrobras voltou a defender a exploração de óleo e gás na Margem Equatorial brasileira, em evento público com governadores de estados que integram o consórcio Amazônia Legal, no Maranhão – ocasião em que as autoridades, lideradas por Helder Barbalho (PA), discutiram com a petroleira uma proposta de criação de um fundo com recursos da estatal para investimentos regionais.

EPE sugere traçado de gasoduto com menor impacto ambiental

Ao indicar a rota de escoamento de gás até Calçoene, a EPE sugere um traçado referencial que busca evitar interferências com unidades de conservação – o Parque Nacional do Cabo Orange – além de cruzamentos com terras indígenas ou quilombolas.

Além disso, prevê desvios do traçado de forma a reduzir eventuais impactos sobre zonas de recifes e rodolitos.

A estatal reconhece, contudo, que por se tratar de nova fronteira exploratória, o nível de conhecimento sobre os ambientes físico e biótico da região é menor – e que, caso o projeto se viabilize, deverão ser consideradas novas informações levantadas na região para definição do traçado do gasoduto.