Diário da Transição – Dia 9

Diário da Transição – Dia 9

Bolsonaro falou durante meia-hora, ao vivo, no Facebook, repercutindo o noticiário dessa semana e, claro, pautando o próximo ciclo de notícias. Falou das críticas em relação a mudança da capital de Israel (“vamos parar com essa frescura”), da indicação para o Meio Ambiente (“indústria da multa”) e dos rumos da Economia (“agregar valor”) e do Trabalho (“todos os direitos, sem emprego”).

— O Diário desta sexta-feira (9) será longo, mas antes

1. O vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, reuniu-se com a diretoria da Petrobras. Em seu Twitter, afirmou que teve a “satisfação de visitar a Petrobras e ouvir, em companhia do presidente Ivan Monteiro, apresentação da Diretoria Executiva sobre a situação da empresa. Saí muito bem impressionado.”

Descartou a criação de superministério da Infraestrutura, o que na prática significa manter Minas e Energia independente da pasta que deve ser assumida pelo general da reserva Oswaldo Ferreira. Infraestrutura caminha para englobar transportes, portos, aviação e telecomunicações. Ferreira não foi oficialmente anunciado.

Minas e Energia está sozinha, será um ministério isolado da Infraestrutura. Essa decisão já está carimbada”, afirmou Mourão à jornalistas. O vice eleito negou que a decisão seja por pressão do setor: “estamos discutindo essas questões de privatizações, como da Eletrobras, e não pode estar no bojo de outras áreas que cuidam de transportes, portos e aeroportos”.

2. Mourão, contudo, não tratou da indicação de ministro para Minas e Energia, mas falou da Petrobras. Descarta a “necessidade” de um militar e elogiou a atual cúpula da Petrobras: “eles fizeram um trabalho fantástico de, em três anos, recuperar toda a lambança que foi feita na empresa”.

Metade da dos nomes da diretoria da Petrobras está nos cargos desde o governo de Dilma Rousseff: Solange Guedes (E&P), Jorge Celestino (Refino), Hugo Repsold (Desenvolvimento) e Ivan Monteiro (presidente).

Durante o governo de Temer, foi feita uma reorganização da diretoria, algumas substituições, e entraram Nelson Silva (Estratégia, Organização e Sistema de Gestão), Rafael Mendes Gomes (Conformidade), Rafael Grisolia (Financeira) e Eberaldo Neto (Assuntos Corporativos).

— Agora, os temas tratados por Bolsonaro

1. Agregar valor à produção de commodities. Voltou a criticar o fato que as exportações brasileiras são, majoritariamente, de commodities, mas não entrou no mérito da indústria de petróleo e combustível. Bolsonaro ateve-se a produção agrícola e de minérios, especificamente do nióbio. Afirmou que a exploração do minério tem que ser feita por empresas brasileiras.

“Não podemos entregar o nióbio para um país. Não vamos rever nada, mas tem país que importa nióbio nosso e não faz nada, faz reserva estratégica. Vamos investir em pesquisa do nióbio (…) parece que falta espirito de patriotismo”.

Não deu nome aos bois, mas a referência é operação da chinesa China Molybdenum (CMOC Brasil), que comprou da Anglo American, em 2016, a operação de minas de nióbio em Catalão (GO).

2. Previdência. Negou que a equipe de transição tenha responsabilidade sobre qualquer plano para a reforma da Previdência. Sobre a ideia de exigir 40 anos de contribuição para a aposentadoria integral, disse que “não tem nada a ver com isso”. E quanto a elevar a contribuição de 11% para 22%, “é um absurdo, não pode salvar o país quebrando o trabalhador”.

A referência é uma matéria de O Globo: Bolsonaro estuda alíquota maior para servidor e fim de benefício integral.

3. Em resposta às críticas sobre o fechamento do Ministério do Trabalho, manteve o discurso da campanha. Afirmou que não tem como tirar direitos que estão na Constituição, não vai “dar murro em ponta de faca”. E que “tem direito, mas não tem emprego. Os empresários têm dito para mim, não pode continuar, todos os direitos e sem emprego”.

4. O nome para o Ministério do Meio Ambiente, segundo Bolsonaro, sai semana que vem. “Quem vai indicar o ministro é o Jair Messias Bolsonaro”, afirmou. Cedeu à pressão para manter a pasta separada da Agricultura, mas dedicou as considerações hoje à atacar o que chama de “indústria da multa”.

“Vocês do Meio Ambiente não sabem o que é produzir, muitos de vocês. Não sabem o que é ser agricultor, vão lá meter a caneta nos caras”.

5. Turismo também entraria em choque com Meio Ambiente. Bolsonaro, que foi processado por pesca ilegal em Mangaratiba (RJ), acusação que nega, defendeu que a atividade de Turismo preserva os ecossistemas. Em geral, manteve o discurso de campanha: contra demarcação de terras indígenas e áreas de proteção ambiental.

“Turismo preserva o Meio Ambiente, não dessa forma xiita que o Ibama vem fazendo até hoje”.

6. Comércio e Relações Internacionais. Para Bolsonaro, criaram um “cavalho de batalha” sobre a transferência da capital de Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Acredita também que o enfraquecimento de relações por conflitos diplomáticos é frescura.

“Aqui no Brasil nos damos bem com todos, não temos problemas com mundo árabe, com que for. Criar um cavalo de batalha porque a capital vai sair de Tel Aviv ou não… Vamos parar com essa frescura”.

Bolsonaro escolheu uma tese para tratar do tema: Brasil reconhece a criação do estado de Israel e cada país decide onde fica sua capital. Portanto, bem como aqui transferimos a capital do Rio de Janeiro para Brasília, exemplo citado pelo presidente eleito, não haveria controvérsia na localização da embaixada brasileira em Israel, que é quem decide onde deve ficar a sua capital.

Ignora, assim, que a questão não é o Brasil ter “problemas” com outros países, mas países terem com o Brasil.

7. Sobre a indicação de Tereza Christina para o Ministério da Agricultura, respondeu às críticas do presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antônio Nabhan Garcia e defendeu a indicação da deputada do DEM, dizendo que cumpriu a promessa de escolher um nome do setor produtivo.

Em resumo, é o desgaste revelado pela revista Piauí: Nabhan, que ficou muito próximo de Bolsonaro, queria Jerônimo Goergen (PP/RS). Mas Nabhan não representa os grandes nomes do agronegócio. A relação azedou de vez quando vazou a mensagem do presidente da UDR chamando Onyx Lorenzoni, também do DEM e coordenador da transição, de pavão.

Sem citar o nome de Nabhan, Bolsonaro afirmou que proximidade não é critério. “O nome dela [Tereza Christina] foi colocado na mesa e fechei questão no mesmo momento. O outro colega, lamento, estava a mais tempo comigo. Se fosse para escolher alguém por ser próximo, eu indicava a minha própria mãe”.

8. Na Defesa, afirmou que faz questão que seja um comandante militar de alta patente, “quatro estrelas”. Pode ser de qualquer uma das Forças – a especulação vigente é que venha um nome da Marinha. Disse que a troca de Augusto Heleno, que mudou para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), foi uma decisão pessoal.

9. Na Ciência, defendeu a indicação de Marcos Pontes e disse que é preciso reativar a Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, a base onde pode ser possíveis lançar satélites no Brasil. Da BBC, Governo Temer corre para tentar acordo com EUA sobre base de Alcântara: o que está em jogo?

Com informações de Estadão, O Globo, Nexo, BBC, G1.