Medida provisória

Reforma do setor elétrico pode reduzir atratividade do mercado livre, diz Anace

Entidade critica redistribuição de encargos e defende que tarifa social deve ser bancada pelo Tesouro

Torres de transmissão de energia com cabos de alta tensão sob céu encoberto de nuvens acinzentadas
Restrições de geração de energia no Brasil que não têm como causa o próprio gerador tendem a levar a discussões judiciais

BRASÍLIA – A Associação Nacional dos Consumidores de Energia Elétrica (Anace) entende que, embora abra o mercado livre para consumidores de baixa tensão, a Medida Provisória 1300/2025 (reforma do setor elétrico) pode, ao fim, reduzir a atratividade desse ambiente de contratação.

A entidade, que representa consumidores industriais e empresas do setor de comércio e de serviços, publicou nesta terça-feira uma nota de posicionamento com críticas à MP.

A Anace questiona a decisão do governo de financiar a Tarifa Social de Baixa Renda às custas dos demais consumidores, nas tarifas – e não por meio do Tesouro Nacional. 

A associação também pontua que o texto não traz mudanças estruturais nas tarifas de energia, “com alocação justa e eficiente dos riscos setoriais”; e que não elimina encargos aos consumidores.

“O resultado é que não endereça, na prática, a real modicidade tarifária e dos custos para todos os consumidores, uma vez que, de maneira geral, apenas transfere custos hoje associados aos consumidores regulados para o Ambiente de Contratação Livre (ACL), o que pode, inclusive, reduzir a atratividade desse mercado”, afirmou, em nota.

A MP prevê, por exemplo, que os encargos das usinas nucleares de Angra 1 e 2 deverão ser pagos pelos consumidores que migraram ao mercado livre.

Tarifa social deveria ser paga pelo Tesouro, diz Anace

A Anace também vê com ressalvas a criação da tarifa social, embora reconheça que a política se trate de uma medida importante para ampliar o acesso à energia aos menos favorecidos.

“A concessão do benefício não deve ser feita à custa dos demais consumidores, devendo ser arcada pelos contribuintes. Desse modo, a Anace reitera seu posicionamento no sentido de que, em se tratando de política pública, esse custo deveria ser totalmente arcado pelo Tesouro Nacional”, cita a nota.

Como falta espaço para a inclusão no orçamento do governo, a Anace entende que a transferência de custos para o Tesouro poderia ser feita, ao menos, de forma gradual.

Em relação à abertura do mercado livre para consumidores residenciais e comerciais de baixa tensão, prevista para ocorrer a partir do ano que vem, a associação cobra que sejam feitos esclarecimentos aos cidadãos sobre seus direitos e obrigações – mas coloca dúvida sobre o tempo hábil para essa comunicação.

Além disso, a Anace cita a importância de uma avaliação mais cuidadosa sobre a operacionalização do Supridor de Última Instância; e a revisão da estrutura tarifária.

Entenda os principais pontos da MP 1300/2025

A MP da reforma do setor elétrico foi publicada no último dia 21 de maio. Entre as principais medidas previstas no texto está a isenção de tarifa para consumidores de baixa renda com consumo de até 80 kilowatts/hora (kWh).

Além disso ,famílias que consomem até 120 kWh serão isentas de pagar a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). O governo espera que, assim, o benefício chegue a 21 milhões de famílias.

A abertura do mercado livre para a baixa tensão também está prevista:

  • indústrias e comércios poderão migrar a partir de agosto de 2026;
  • e demais consumidores a partir de dezembro de 2027.

Os clientes que migrarem para o mercado livre deverão pagar os subsídios da micro e minigeração distribuída (MMGD).

O rateio da CDE será feito de forma proporcional ao consumo, independentemente do nível de tensão.

A MP também traz mudanças nas regras de projetos de autoprodução, que será limitada a 30 MW. A participação de cada acionista deve ser de, no mínimo, 30% do capital social de cada empreendimento.

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