Opinião

Brasil precisa de investimentos em infraestrutura de gás para alinhar transição energética e competitividade

Aumento da infraestrutura garante maior modicidade tarifária para todos e segurança energética, escreve Augusto Salomon

Augusto Salomon é presidente executivo da Abegás (Foto Divulgação)
Augusto Salomon é presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado – Abegás | Foto Divulgação

O momento é promissor para o mercado de gás natural. Embora ainda haja muito a evoluir, é notório o alinhamento de agentes do setor público e da iniciativa privada em torno de premissas fundamentais:

  1. A expansão da infraestrutura de transporte e escoamento, além das Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGNs);
  2. O aumento e diversificação da oferta de gás, com ênfase na produção nacional;
  3. O papel do gás natural na segurança energética, contribuindo para a competitividade e alinhando-se às metas de descarbonização.

A Carta de Brasília, entregue ao Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destaca a importância do gás natural na agenda de transição energética. O documento, preparado para a Cúpula do G20, enfatiza o papel do gás em uma transição equilibrada e eficaz, listando oito oportunidades de contribuição do setor.

Segundo um estudo da FGV Energia, o gás natural é crucial para uma nova industrialização de baixo carbono, mitigando emissões em setores de difícil descarbonização, como transporte pesado e indústrias como siderurgia e cerâmica.

O aumento da oferta de gás também é vital para a produção de fertilizantes, essencial para o agronegócio e a segurança alimentar global.

O histórico recente do Brasil, com baixa disponibilidade hídrica e maior participação de fontes renováveis intermitentes, evidencia a necessidade de uma fonte de energia firme como o gás natural.

O exemplo da antecipação das operações da Termopernambuco pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) ilustra como o gás natural assegura resiliência e segurança no fornecimento elétrico, facilitando a integração de fontes renováveis.

O aumento da oferta de gás também é vital para a produção de fertilizantes, essencial para o agronegócio e a segurança alimentar global.

No setor de transporte, o gás natural pode substituir o diesel, reduzindo emissões, especialmente quando combinado com o biometano, que é intercambiável com o gás natural. 

As projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam uma oferta crescente de gás nos próximos dez anos, sinalizando maior competição e diversificação.

Apesar de algumas visões pessimistas, a abertura do mercado de gás já mostra resultados positivos, com preços mais competitivos e investimentos significativos na expansão da infraestrutura.

Outro sintoma da pujança do gás natural como fonte energética no Brasil são os cinco terminais privados de gás natural liquefeito (GNL) implantados no Brasil desde 2019, evidenciando a confiança de grandes players no mercado.

O aumento da infraestrutura de transporte e processamento é essencial para reduzir custos ao consumidor e garantir a segurança energética. Projetos nas bacias de Alagoas, Sergipe e Margem Equatorial devem ser acelerados para viabilizar maior produção nacional.

Distribuidoras ampliam mercado com foco em sustentabilidade e segurança

No downstream, as distribuidoras vêm impulsionando o mercado brasileiro de gás e têm desempenhado um papel fundamental, ampliando a rede de distribuição e contribuindo para a substituição de combustíveis mais poluentes.

Entre 2011 e 2023, a rede cresceu de 19.000 para 43.000 quilômetros, com investimentos contínuos sustentados pela previsibilidade regulatória e contratos de longo prazo.

Além disso, as distribuidoras vêm liderando iniciativas como o Projeto Corredores Sustentáveis, que cria infraestrutura para veículos movidos a gás e biometano. Essa política de substituição do diesel por gás natural é uma estratégia de ganho mútuo, incentivando a produção de gás natural e a integração com o mercado de biometano.

A expansão da infraestrutura é vital, não apenas para a segurança de abastecimento, mas também para garantir modicidade tarifária e atender a uma base de consumidores diversificada. Interromper os investimentos seria um erro estratégico, comprometendo a eficiência dos serviços e a segurança operacional.

O setor de distribuição, por ser regulado, mantém altos níveis de transparência e satisfação do consumidor, com modelos de concessão que garantem previsibilidade e segurança no fornecimento contínuo.

As concessionárias estão preparadas para movimentar não só o gás natural, mas também o biometano, cuja capacidade de produção pode alcançar 7 milhões de m³/dia até 2029, segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás).

O Programa Gás Para Empregar, recentemente decretado, reforça o compromisso do governo em incrementar a produção nacional de gás natural, promovendo desenvolvimento sustentável, criação de empregos e aceleração da transição energética, o que aponta claramente para um cenário de crescimento para o setor. 

Sim, as perspectivas para o setor de gás natural no Brasil são positivas.

E os investimentos contínuos são fundamentais para transformar esse potencial em realidade.


Augusto Salomon é presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).

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