Biocombustíveis

Pobreza energética sujeita 389 milhões de mulheres a catar biomassa

Para cada pessoa com um emprego formal na indústria energética, nove mulheres estão fornecendo fontes primárias de energia para suas famílias

Pobreza energética abriga 389 milhões de mulheres a catar biomassa, como lenha, para consumo doméstico. Na imagem: Duas mulheres negras africanas carregam um grosso feixe de lenha sobre as cabeças (Foto: Michael Mallya/Pixabay)
Cerca de 389 milhões de mulheres e meninas estão produzindo biomassa para atender às necessidades básicas de energia de famílias mais pobres (Foto: Michael Mallya/Pixabay)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Enquanto dezenas de milhões de pessoas trabalham em empregos formais no setor de energia ao redor do mundo, cerca de 389 milhões de mulheres e meninas estão produzindo biomassa para atender às necessidades básicas de energia de famílias mais pobres nos países em desenvolvimento, estimam os pesquisadores do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia (EUA).

Após um mapeamento das dinâmicas de gênero no setor de energia, o grupo de estudiosos identificou que há uma lacuna de informações quando se trata do trabalho informal feminino.

No caso específico da biomassa que aquece lares e mantém aceso os fogões em regiões pobres de países na Ásia, África e América Latina, o trabalho é fundamental, mas frequentemente negligenciado, aponta o relatório (.pdf).

A estimativa é que, para cada pessoa com um emprego formal na indústria energética (aproximadamente 40 milhões), nove mulheres estão fornecendo uma fonte primária de energia para suas famílias.

“Cerca de 2 bilhões de pessoas dependem da biomassa para cozinhar (e algumas para aquecimento). Mulheres e meninas em muitos países em desenvolvimento constituem a maioria das pessoas que coletam lenha para consumo doméstico – um esforço muitas vezes árduo e demorado”, dizem os pesquisadores.

Uma das descobertas do relatório é que as produtoras de biomassa para o lar superam em número os homens, com destaque para a África subsaariana, onde a participação feminina nesta atividade é muito mais alta que em qualquer outra região.

Em regiões de renda média-baixa na Ásia, há paridade entre homens e mulheres, enquanto na América Latina, a extração é feita majoritariamente pelos homens. No entanto, a AL é menos representativa em números: apenas 4% da população global que depende de biomassa doméstica.

Além disso, a maioria das produtoras de biomassa (cerca de 75%) vive em áreas rurais, frequentemente nas partes mais pobres de muitos países em desenvolvimento.

Iniciativas para descarbonizar as cozinhas

Em dezembro do ano passado, o tema esteve presente (ainda que de forma marginal) nas discussões da COP28 em Dubai.

É questão de gênero, de saúde e econômica.

O Banco Africano de Desenvolvimento calcula que cerca de um bilhão de pessoas no continente não têm acesso a uma cozinha limpa e dependem da biomassa ou do querosene. A queima desses combustíveis provoca elevados níveis de poluição do ar dentro das casas.

Na saúde, a consequência é que cerca de 600 mil mulheres e crianças africanas morrem anualmente devido à inalação de gases tóxicos.

Na economia, o custo do tempo perdido pelas mulheres na procura de lenha é estimado em US$ 800 bilhões por ano.

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) o acesso universal à cozinha limpa reduziria as emissões de CO2 em 1,5 bilhão de toneladas até 2030.

“Iniciativas de cozinha limpa poderiam eliminar a necessidade de grande parte desse trabalho e são importantes, em parte, devido a considerações de saúde para pessoas que cozinham com combustíveis de biomassa”, defendem os pesquisadores da Columbia.

Eles explicam que, embora as projeções sobre a universalização da “cozinha limpa” indiquem queda no número de mulheres produzindo biomassa doméstica, cerca de 200 milhões, ou mais, ainda poderiam estar envolvidas nesse esforço em 2030, predominantemente na África subsaariana.

“A produção de biomassa para o lar constitui o trabalho de mulheres pobres e frequentemente marginalizadas. Mais pesquisas de campo são necessárias para descobrir o que essas produtoras realmente desejam e como a transição energética pode melhorar suas vidas e as de suas famílias”, defendem.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Orçamento verde

O governo brasileiro lançou, nesta quinta-feira (25/1), a Agenda Transversal Ambiental, documento que reúne as metas, entregas e medidas institucionais da área ambiental que compõem o Plano Plurianual (PPA) 2024-2027.

Pela primeira vez, o PPA foi formulado prevendo as chamadas agendas transversais, ou seja, medidas previstas nas ações de vários ministérios. São cinco agendas transversais: crianças e adolescentes; mulheres; igualdade racial; povos indígenas; e meio ambiente.

Elétricos deslocam óleo

A demanda por petróleo vai começar a sentir, e pela primeira vez este ano, maiores impactos da eletrificação de veículos, de acordo com projeções do Citi. O cenário deve se intensificar em 2025, quando os veículos elétricos podem deslocar uma demanda de até 500 mil barris/dia de petróleo.

E-SAF na França

A produtora de energia renovável Qair e a fabricante de aeronaves Airbus anunciaram, nesta quinta (25), que vão estudar juntas a estruturação do setor de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) a partir do hidrogênio verde. A intenção é estabelecer uma cadeia de valor na região francesa da Occitânia.

Prêmio Melhores do Biogás

A terceira edição da premiação promovida pelo Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano (FSBBB) recebe indicações até o dia 3 de fevereiro. A iniciativa homenageia profissionais, organizações e plantas de biogás que foram destaques no setor de biogás no Brasil no ano de 2023. O regulamento do prêmio e o formulário para indicação de candidatos estão no site do FSBBB.

Energia com diversidade

O ONS recebeu pela terceira vez consecutiva o selo de Excelente Empresa para Trabalhar, da Great Place to Work (GPTW). Segundo o operador do sistema elétrico brasileiro, pela primeira vez, seu Programa de Participação de Resultados estabeleceu como meta garantir ao menos a participação de 1, em cada 4, pessoa diversa (preta, parda, mulher, LGBTI+ ou PcD) entre os finalistas dos processos seletivos de 2023.

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