As metas climáticas existentes em diferentes níveis de governo firmadas até o fim do ano passado cobrem 68% da economia global. Além disso, um quinto das empresas abertas da lista Forbes Global 2000 tem algum compromisso com redução de emissões.
O cenário, reflexo de acordos como o Acordo de Paris (2015), é um ponto de partida. Ainda faltam iniciativas de curto de prazo e o detalhamento de ações para atingir a neutralidade de carbono, zerando as emissões líquidas de gases do efeito estufa.
As conclusões fazem parte de um relatório feito por uma rede pesquisadores coordenados pela a Universidade de Oxford e a ONG Energy and Climate Intelligence Unit (ECIU), também sediada no Reino Unido.
O estudo é inédito e foi publicado nesta terça (23) – e serve como um alerta para para a próxima conferência global do clima, a COP26.
Mudanças é lenta
Segundo o relatório, 20% das metas têm aderência com a “linha de partida” prevista no Race to Zero, campanha da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima para promover quais são os critérios mínimos para atingir as metas climáticas do acordo de Paris.
“Embora o net zero como conceito ainda esteja em sua infância, ele já está impulsionando mudanças políticas”, avalia o autor principal do relatório, Richard Black, associado sênior da ECIU.
“Mas para manter o mundo a caminho das metas climáticas globais, precisamos que mais países, estados, regiões e empresas se inscrevam nas metas e que as promessas existentes sejam melhoradas”, diz em comunicado para imprensa.
Os pesquisadores afirmam que seria inimaginável, há poucos anos, que mais da metade da população mundial (56%) estivesse em países com alguma forma de planejamento climático de longo prazo.
A pesquisa encontrou em 61% dos países e regiões autônomas reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) alguma forma de meta climática, em diferentes níveis de detalhamento.
Alguns destaques das políticas vigentes
Fonte: Taking Stock: A global assessment of net zero targets (ECIU, Net Zero Climate)
- A maioria das metas são “até 2050”. Das mais de 4 mil entidades pesquisadas, 212 estabeleceram objetivos “até 2030” e três quartos desse grupo (153) são empresas;
- A China representa a maior parte das metas que ficam para depois de 2050. O país está prometendo um plano para 2060;
- Uma parcela significativa das metas (14% delas) não especifica se diz respeito apenas à CO2 ou a todos os gases do efeito de estufa;
- A maioria dos compromissos não são claros quanto à sua intenção de utilizar ou não compensações de carbono;
- Poucos governos ou empresas excluem explicitamente a utilização de compensações de carbono de seus planos. Para as entidades que incluem mecanismos de compensação, poucos detalhas condições claras para utilização da alternativa;
A fragilidade está em dois pontos fundamentais: faltam compromissos de curto prazo para acelerar a descarbonização e colocar o mundo em uma rota alinhada com os compromissos do Acordo de Paris; e robustez nos planos nacionais de longo prazo para, de fato, zerar as emissões líquidas até meados do século 21.
“A nossa análise mostra que estes compromissos variam enormemente na sua qualidade (…) Alguns compromissos contêm elementos cruciais, como quais gases do efeito de estufa são abrangidos, a clareza na utilização de compensações, e (para as empresas) se cobrem as emissões das operações da companhia, na cadeia de valor ou produtos”, diz o relatório.
Ao todo, foram avaliadas 4 mil entidades: todos os países reconhecidos, todos os estados ou regiões nos 25 países que mais emitem, todas as cidades com mais de 500 mil habitantes e as companhias da lista Forbes Global 2000.
“No entanto, muitas dessas entidades ainda não publicaram estes detalhes. A modesta proporção de ações a curto prazo também precisa de ser tratada”, alertam.
O relatório mostra que a pressão global por compromissos climáticos afeta os tomadores de decisão à frente dos governos nacionais. Cita os casos do Japão e da China, exemplos de países historicamente resistentes, mas que agora tem a intenção declarada de apresentar à comunidade internacional um plano de controle de emissões.
O outro lado dessa moeda é o isolamento. Governos que tem se mantido à margem dessa geopolítica climática, como Austrália e Rússia, devem mudar essa postura, sob o risco de isolamento.
“Nações que ainda não estabeleceram metas para o meado do século, como a Austrália, Rússia e os países do Golfo, deveriam fazê-lo, inclusive publicando estratégias de longo prazo, como solicitado no Acordo de Paris”, diz o documento.
“Aqueles como o Japão, que já têm metas, devem apresentar NDCs compatíveis, se quiserem que as suas metas tenham credibilidade”.
As NDCs são as contribuições nacionalmente determinadas dos países para atingir os objetivos do Acordo de Paris.
O relatório não faz avaliações sobre o Brasil.
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