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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 18/03/22
Editada por Nayara Machado
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Lançado nesta sexta (18/3), o plano da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) para reduzir a demanda global de petróleo transfere para o consumidor a tarefa de mudar de hábitos.
A agência lista dez ações que, se totalmente executadas pelos países ricos, reduziriam a demanda de petróleo em 2,7 milhões de barris por dia em quatro meses — o equivalente à demanda de petróleo de todos os carros na China.
É um plano emergencial para conter o consumo de combustíveis líquidos como gasolina e diesel, especialmente na Europa, diante da emergente crise global de energia desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Esses esforços reduziriam a dor dos preços sentida pelos consumidores em todo o mundo, diminuiriam os danos econômicos, reduziriam as receitas de hidrocarbonetos da Rússia e ajudariam a mover a demanda de petróleo para um caminho mais sustentável”, diz a IEA.
No início do mês passado, a agência já havia elaborado um plano — também em dez pontos — para reduzir a dependência da União Europeia do gás natural russo.
Diferente das recomendações de hoje, no caso do gás, a agência foca em políticas públicas para incentivar uma aceleração no incremento de fontes renováveis na matriz.
Agora, como resposta à crise que se aproxima, as propostas da IEA, em suma, se concentram em deixar o carro na garagem e mudar hábitos de deslocamento.
As dez ações
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Reduzir os limites de velocidade nas rodovias em pelo menos 10 km/h: A economia seria de cerca de 290 mil barris/dia (kb/d) nos carros e mais 140 kb/d nos caminhões;
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Trabalhar em casa até três dias por semana sempre que possível: Um dia por semana economiza cerca de 170 kb/d; três dias economiza cerca de 500 kb/d;
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Domingos sem carros nas cidades: Todo domingo economiza cerca de 380 kb/d; um domingo por mês economiza 95 kb/d;
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Baratear o uso do transporte público e incentivar a micromobilidade, caminhada e ciclismo: Economiza cerca de 330 kb/d;
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Rodízio de veículos nas metrópoles, como já foi testado em cidades como Atenas, Madri, Paris, Milão, Cidade do México e São Paulo. O potencial de redução de consumo chega a cerca de 210 kb/d de óleo no curto prazo, se a medida for aplicada em dois dias por semana em grandes cidades com boas opções de transporte público;
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Aumentar o compartilhamento de carros e adotar práticas para reduzir o uso de combustível, como monitorar pressão dos pneus e reduzir o uso de ar condicionado. A economia estimada é de 470 kb/d aproximadamente;
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Promover a condução eficiente de caminhões de carga, com manutenções regulares, otimização de cargas e redução das viagens vazias. Isso economizaria cerca de 320 kb/d;
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Trocar as viagens aéreas para trens de alta velocidade sempre que possível: Economia de cerca de 40 kb/d;
Evitar viagens aéreas de negócios onde existem opções alternativas economiza cerca de 260 kb/d.
Reforçar a adoção de veículos elétricos e mais eficientes. Neste caso, metas de economia de combustível e impostos que penalizam veículos com altas emissões poderiam apoiar mudanças comportamentais e tecnológicas. A economia é calculada em 100 kb/d.
Tensões no mercado de petróleo e gás natural têm impactado fortemente os preços. O barril do petróleo nas últimas semanas se aproximou da máxima histórica de US$ 150.
Estados Unidos e Canadá proibiram importações de petróleo russo, enquanto o Reino Unido anunciou que fará o mesmo até o final do ano.
Último relatório do mercado de petróleo da IEA, de 16 de março, identificou o potencial para um corte de 2,5 milhões de barris por dia das exportações russas a partir de abril; mas esse número pode ser maior caso as restrições ou a condenação pública aumentem.
“Um período prolongado de volatilidade para os mercados parece provável”, avalia a agência.
Em média, os gastos mensais com derivados de petróleo para transporte e aquecimento em janeiro e fevereiro aumentaram mais de US$ 40 por domicílio (quase 35%) nos países ricos.
Nas economias emergentes, o impacto foi maior — mais de 55% em comparação com os níveis do ano passado — ou quase US$ 20 por domicílio.
“Com a potencial perda de grandes quantidades de suprimentos russos se aproximando, existe um risco real de que os mercados se apertem ainda mais e os preços do petróleo subam significativamente nos próximos meses, à medida que o mundo entra na temporada de pico de demanda de julho e agosto”, completa.
Os riscos são mais agudos — e já são sentidos em alguns casos — em segmentos de mercado onde a Rússia é um grande fornecedor, como o diesel.
No Brasil, o preço dos combustíveis tem colocado a Petrobras sob pressão. Na sexta passada (11/3), a companhia reajustou os valores da gasolina, diesel e GLP nas refinarias.
O governo também vai desonerar o PIS/Cofins sobre diesel, biodiesel e gás de cozinha, em um subsídio que pode chegar a R$ 17,8 bilhões, segundo cálculos apresentados no Congresso.
Para aprofundar
A agência epbr promove uma série de discussões sobre as transformações em curso no mercado global de energia com a guerra na Ucrânia e as sanções impostas à Rússia, um dos maiores produtores mundiais de petróleo e gás.
Hoje, às 18h, com Anelise Lara, consultora independente e ex-diretora de Gás e Energia da Petrobras; Décio Oddone, CEO da Enauta e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Ieda Gomes, consultora independente. Assista
No nosso primeiro programa, conversamos com Clarissa Lins, CEO da Catavento Consultoria, e Fernanda Delgado, diretora-executiva Corporativa do IBP. Reveja
Combustíveis no Brasil
– Marcelo Araújo, diretor executivo do Grupo Ultra, comenta a aprovação do novo modelo tributário para os combustíveis no artigo Quando as instituições funcionam.
– A Petrobras poderia produzir mais combustíveis? Atualmente não, escreve Rodrigo Lima e Silva, diretor de Refino da companhia, no artigo A verdade sobre o nível de produção das refinarias da Petrobras. Segundo o executivo, as refinarias da empresa já estão operando em sua capacidade máxima.
– Já Ricardo Borges Gomide, especialista em Políticas Públicas e coordenador da assessoria técnica da Liderança do Novo na Câmara, questiona a ociosidade das refinarias brasileiras em Verdade inconveniente: ociosidade do refino como instrumento para aumentar preços da gasolina.