A divulgação dos dados individuais de fator de recuperação por campo e por operadora, além da evolução dos percentuais ao longo do tempo, vai ser fundamental para que o Brasil consiga ampliar os índices e produzir mais petróleo, defende o presidente-executivo da Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo (Abespetro), Telmo Ghiorzi.
A associação vai levar a sugestão à consulta pública sobre a agenda regulatória da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), iniciada em setembro. Na proposta para a agenda colocada em consulta prévia, não há itens sobre a ampliação dos volumes a serem recuperados.
O fator de recuperação mede o percentual de petróleo e gás produzido em relação ao volume original de um reservatório.
Dados são divulgados por bacia exploratória
A melhoria nos índices de volumes recuperados é considerada uma das principais medidas para a continuidade da produção nacional na próxima década, sobretudo em meio ao baixo volume de novas descobertas e à dificuldade de abertura de novas fronteiras.
Atualmente, os dados são divulgados por bacia. Ghiorzi afirma que é importante haver mais transparência nas informações para que a indústria possa entender as medidas que poderiam ser tomadas para aumentar os índices.
Ele lembra ainda que as informações são importantes para medir o sucesso de políticas públicas de estímulo à indústria, como o Programa de Revitalização da Atividade de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Áreas Terrestres (Reate) e o Programa de Revitalização e Incentivo à Produção de Campos Marítimos (Promar).
Os programas de incentivo à indústria de petróleo e gás brasileira foram conduzidos no governo de Jair Bolsonaro.
“Como era antes do Reate e do Promar? E agora? O que aconteceu? Aumentou ou diminuiu? Não tem um monitoramento”, diz Ghiorzi.
No momento, o governo Lula trabalha em um novo programa de estímulo à indústria, o Potencializa E&P, que deve dar continuidade às discussões dos programas anteriores.
“Medir, comparar e explicar as diferenças [nos índices]. Isso é o mínimo”, ressalta Ghiorzi.
Fator de recuperação da Bacia de Campos é de 15%
Segundo os dados públicos da ANP, a fração recuperada atual da Bacia de Campos é de 15,34%, com previsão de chegar a 21,6% caso haja produção das reservas 3P (provadas, prováveis e possíveis).
Já na Bacia de Santos, o índice atual é de 5,36%, com perspectiva de atingir 25,6%.
Os fatores são maiores em regiões terrestres, como a Bacia do Recôncavo, onde o índice chega a 26,36%.
“Tudo indica, no mundo inteiro, que as grandes petroleiras devem sair dos campos maduros e deixá-los para as empresas independentes, e isso gera um aumento de recuperação. Mas são conclusões difíceis de sustentar [no caso brasileiro], porque você precisa investigar melhor os números”, diz.
Brasil tem desempenho abaixo da média mundial
Ainda assim, o fator de recuperação brasileiro é considerado abaixo da média mundial. Como comparação, Ghiorzi cita o Mar do Norte, onde os índices de recuperação chegam a 43% na Inglaterra e 70% na Noruega.
O Mar do Norte, particularmente, é uma província caracteriza por campos maduros, um perfil que pode ser comparado com a Bacia de Campos. O crescimento da produção brasileira de uma década para cá foi sustentado pelo pré-sal.
Hoje, o cálculo divulgado pela ANP é feito por bacia devido a uma determinação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
O executivo afirma ainda que é preciso conduzir uma análise mais detalhada dos recursos ainda disponíveis nos campos brasileiros antes de discutir o descomissionamento dos projetos e o fim da vida útil.
“Antes de descomissionar, tem que aumentar o fator de recuperação. Temos que saber se nós realmente esgotamos aquele campo”, aponta.