RIO — A Petrobras detalhou a jornalistas e analistas na sexta (28/11) o Plano Estratégico 2026-2030, divulgado na noite de quinta (27/11), com uma projeção de menores investimentos em meio à queda no barril de petróleo.
A diretoria executiva da companhia indicou que os primeiros anúncios para a entrada da empresa no setor de etanol devem ocorrer em 2026.
Os executivos reiteraram que a Petrobras vai priorizar bioprodutos no lugar de geração eólica e solar pelo menos até o final da década, devido aos cortes de geração renovável (curtailment).
Além disso, a empresa indicou que o projeto de produção em Sergipe Águas Profundas só vai ser viável com a construção do gasoduto, cuja licitação também está prevista para 2026.
Ao todo, a Petrobras planeja investir US$ 109 bilhões no período. Do total, US$ 91 bilhões estão na carteira em implantação e US$ 18 bilhões no portfólio em avaliação.
A presidente da estatal, Magda Chambriard, reconheceu o ambiente adverso em relação ao preço do barril de petróleo.
O novo plano considera que a média do Brent em 2026 será de US$ 63, bem menor do que os US$ 77 adotados como premissa no plano anterior.
“Está se dizendo que o ano que vem vai ser um ano bastante difícil, porque muitos cenários têm até perto de 50 dólares o barril de petróleo no primeiro semestre”, disse.
A presidente destacou o impacto do recuo de preços: “Estamos hoje, no mês de novembro, com 75% do valor do petróleo Brent comparado ao início do ano de 2024”.
Para enfrentar esse cenário, a estatal revisou processos, simplificou projetos e implementou medidas de redução de custos operacionais.
A economia estimada é de US$ 12 bilhões entre 2025 e 2030, o equivalente a 8,5% menos que o previsto no plano anterior.
“Disciplina de capital é o que nos permite entregar mais por menos”, afirmou.
Foco em biocombustíveis, enquanto solar e eólica vão para o fim da fila
Ao contrário de ciclos anteriores, a Petrobras deixou claro que vai priorizar biocombustíveis no segmento de renováveis, em vez de geração solar e eólica.
“Nossos investimentos em transição energética vão ter mais foco em bioprodutos. Estamos mais de olho nas moléculas, especialmente no etanol e no biodiesel”, disse Chambriard, citando também os combustíveis coprocessados com percentual de óleo vegetal, a exemplo do S10 e o do SAF patenteados pela compania.
A diretora de Transição Energética e Sustentabilidade Angélica Laureano detalhou que a empresa espera investir US$ 2,2 bi em etanol.
“Etanol está dentro da lista da nossa prioridade. Estamos negociando com diversos players no mercado. Provavelmente, em 2026, teremos algum anúncio”.
Já solar e eólica ficaram para o fim do horizonte 2026-2030, por conta do cenário de execesso no oferta de energia renovável no mercado.
“Reduzimos o nosso investimento, haja vista o curtailment”, afirmou Laureano.
Solar nas refinarias para liberar gás no mercado
Chambriard destacou que a instalação de geração solar será prioritariamente nas refinarias, para consumo próprio, visando a liberação de gás para o mercado.
“Botar essa energia na rede para jogar fora não faz sentido. Só faz sentido ter solar se o offtaker formos nós mesmos”, reforçou.
A Petrobras está finalizando a instalação de uma usina solar fotovoltaica na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo o diretor de Processos Industriais e Produtos, William França, nos próximos dois anos a empresa vai “colocar em solar nas refinarias o equivalente a uma Reduc e uma Recap.
“Como se Reduc e Recap a partir de 2027 já operassem praticamente com energia solar e, com isso, liberando gás para o mercado”, disse.
A companhia também se prepara para entrar com força no leilão de reserva de capacidade (LRCAP).
“Hoje temos 2,9 gigawatts (já instalados) de energia para a comercialização neste leilão”, disse Laureano, citando uma térmica nova de 400 megawatts (MW) no Complexo Boaventura, em Itaboraí (RJ).
Avanço no refino e fertilizantes
A presidente destacou o retorno das Fafens, a expansão da Rnest (PE) e o Complexo Boaventura (RJ), além do avanço nas licitações da UFN-III, em Três Lagoas (MS).
“UFN3 está andando. Estamos abrindo os envelopes. Aqueles um, dois players que nós tínhamos se transformaram em cinco. (…) O andamento está em dia”, afirmou.
No plano o empreendimento está previsto para 2029, mas Chambriard destacou que “não está proibido de ser antecipado”.
A diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Renata Baruzzi, confirmou o calendário.
“Abrimos dois pacotes semana passada, segunda-feira vamos abrir mais três, e até final de dezembro a gente abre os demais”.
Pré-sal puxa produção com Petrobras mirando recorde
A estatal registrou aumento expressivo de produção no último ano, impulsionado pelo pré-sal.
“Foi um aumento da produção de 11%. Inédito. Crescemos colocando o [FPSO] Almirante Tamandaré”, disse Magda, citando a plataforma cuja capacidade chegou ao recorde de 270 mil barris/dia.
A produção média da Petrobras no ano passado foi 2,15 milhões de barris/dia — com projeção de encerrar o ano de 2025 em 2,4 milhões de barris/dia, excluindo gás natural.
A estatal espera chegar a 2030 com uma produção de 2,6 milhões de barris/dia.
Para SEAP sobreviver é necessário gasoduto
Os projetos Sergipe Águas Profundas (SEAP 1 e 2) avançam em análise de propostas, mas carregam elevada complexidade técnica e financeira.
“Estamos falando de um óleo ótimo, mas de uma jazida que é metade óleo, metade gás. Não existe falar de um SEAP economicamente viável sem que o gás seja economicamente viável”, disse Chambriard.
“É um projeto inovador bastante caro, que precisa ser economicamente viável nas condições normais de temperatura e pressão, vamos dizer assim, ambiente regulatório estável, condições de preço de petróleo aceitáveis, taxa de câmbio aceitável, flutuabilidade de preço aceitável”, completou.
Segundo ela, o projeto SEAP 2 está na fese de implementação (dentro dos US$ 81 bihões), enquanto SEAP 1 “está na carteira do projeto, ele vai ter que disputar recursos”.
O gasoduto até a costa é condição de sobrevivência do projeto.
“Para Sergipe sobreviver, o gasoduto tem que acontecer. Estamos falando do gasoduto também, porque se a gente não comercializar o gás de Sergipe, se ele não for passível de comercialização de uma forma economicamente viável, o projeto de Sergipe Águas Profundas não tem como sobreviver”, disse a presidente.
Baruzzi reforçou que se trata de “um projeto complexo”, uma vez que tem “uma UPGN em cima da plataforma”.
A licitação do gasoduto começa em 2026, segundo ela. Veja mais detalhes na newsletter gas week.
Carteira firme menor
Com preços internacionais mais baixos e maior volatilidade no mercado de energia, a companhia reduziu em US$ 7 bilhões sua carteira de projetos firmes — agora estimada em US$ 109 bilhões — e adotou um novo protocolo de “disciplina” financeira que prioriza empreendimentos com maior financiabilidade.
Do total previsto, US$ 91 bilhões correspondem à carteira em implantação. Desses, porém, US$ 10 bilhões ficarão “sob júdice”, competindo entre si para avançar, disse Chambriard.
“A gente diz que US$ 81 bi são projetos que já estão contratados e US$ 10 bi vão ficar sob júdice para concorrer entre si, para a gente escolher os que melhor rendem para a companhia”, afirmou.
A análise será trimestral, com foco em fluxo de caixa, retorno financeiro e capacidade de financiamento.
“Essa é a novidade desse plano. É isso que nós vamos fazer para garantir essa financiabilidade e a adequação desses projetos a uma futura realidade de mercado”, explicou.
