Petróleo e Gás

Prates defende equilíbrio entre dividendos e investimento na Petrobras

CEO da Petrobras também questiona venda de refinarias, mas diz que quer provar a investidores que ser sócio do Estado pode ser bom

Entrevista coletiva com o presidente Jean Paul Prates, no Edifício Senado (Edisen), no Rio de Janeiro Foto: Maurício Pingo / Agência Petrobras
Entrevista coletiva com o presidente Jean Paul Prates, no Edifício Senado (Edisen), no Rio de Janeiro Foto: Maurício Pingo / Agência Petrobras

RIO — O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, questionou a atual política de dividendos da empresa e defendeu nesta quinta-feira (2/3) um equilíbrio maior entre a remuneração aos acionistas e investimentos em “bons projetos”. O governo Lula (PT) cobra mais investimentos por parte da empresa — entendida, dentro da cartilha petista, como indutora do desenvolvimento econômico.

Em sua primeira teleconferência com analistas e investidores, desde que assumiu o comando da Petrobras, Prates disse, contudo, que quer provar aos investidores que ser sócio do Estado brasileiro pode ser uma vantagem, e não uma desvantagem.

Prates comentou também que a petroleira não vai mais, “necessariamente, sair vendendo ativos por decisões governamentais” — em referência, em especial, ao plano de venda das refinarias.

E sinalizou que sua gestão buscará investir mais em “bons projetos” em novos negócios, de olho na sobrevivência da empresa à transição energética a longo prazo, sem perder o protagonismo no setor de óleo e gás.

Disse que não vê o hidrogênio verde, contudo, como prioridade num primeiro momento. E reiterou que a política de preços de combustíveis é assunto que cabe ao governo.

A seguir, um resumo dos principais tópicos abordados por Prates em conversa com investidores, na apresentação do lucro recorde da Petrobras, de R$ 188,3 bilhões em 2022.

Venda de ativos

Prates disse, ainda, que a Petrobras não vai mais, “necessariamente, sair vendendo ativos por decisões governamentais”.

Não vamos nos desfazer de refinarias ou sair de regiões inteiras do país porque simplesmente o governo quer. Vamos fazer decisões de empresa”, disse.

A petroleira tem compromissos assumidos em 2019 com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para abertura dos mercados de gás natural e refino.

Uma Petrobras atrativa a investidores

Prates prometeu diálogo com os acionistas da empresa. Disse que quer provar que ser sócio de uma companhia controlada pelo Estado pode ser positivo, se o investidor tiver uma visão estratégica de longo prazo.

“Quero deixar como legado uma empresa que viva mais 70 anos [a Petrobras faz 70 anos em 2023] produzindo valor para o Brasil, para os acionistas e trabalhadores. E que sobreviva às intempéries, à transição energética, a gestões de governo e mostre que ser sócio do governo numa atividade principal e estratégica [como o setor de energia] não é mau negócio. Pelo contrário, é bom, tem bônus”, disse, a investidores.

Afirmou que não traz para a Petrobras “metas ousadas e descabidas”.

Assista, na íntegra, a primeira entrevista coletiva à imprensa do novo CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, para apresentar as estratégias de sua gestão.

Mas sem comprometer investimentos

Sobre a distribuição recorde de dividendos de R$ 215,7 bilhões, relativos ao exercício de 2022, Prates disse que espera manter a robustez da remuneração aos acionistas – embora as condições este ano sejam diferentes daquelas do ano passado.

Questionou, contudo, a atual política de dividendos da Petrobras — que elevou os valores pagos aos acionistas nos últimos anos.

O presidente Lula (PT) e ministros do governo têm cobrado de Prates uma mudança no pagamento aos acionistas. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chegou a afirmar esta semana que é preciso “rever a indecente distribuição de dividendos” da companhia.

Nesta quinta, Lula criticou os dividendos recordes, distribuídos pela empresa com base no lucro de 2022, uma herança da gestão passada. Disse que a petroleira investiu “quase nada” e que deveria ser uma empresa de desenvolvimento para o país.

“Nós não podemos aceitar a ideia da notícia de hoje, a Petrobras entregou de dividendos mais de 215 bilhões de reais, quando ela deveria ter investido metade no crescimento econômico desse país, na indústria brasileira, na indústria naval, na indústria de óleo e gás”, disse Lula em cerimônia de lançamento do novo programa Bolsa Família, no Palácio do Planalto.

Segundo Prates, a empresa precisar equilibrar a remuneração aos acionistas, sem prejudicar “investimentos em bons projetos”.

“Tenho dúvidas se há necessidade de regras muito rígidas de percentuais de dividendos. As circunstâncias mudam, projetos mudam e vamos compondo a relação com diálogo com investidores”, afirmou.

A política de remuneração de acionistas da Petrobras estabelece uma distribuição mínima anual de US$ 4 bilhões, em exercícios em que o preço médio do Brent for superior a US$ 40 o barril – independente do nível de endividamento.

Caso a dívida bruta seja igual ou inferior a US$ 65 bilhões e houver lucro, a companhia passa a distribuir 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos. Ou seja, menos investimentos beneficiam diretamente os volumes disponíveis para remuneração aos acionistas. Essa fórmula propiciou os pagamentos recordes em 2022.

Protagonismo no óleo e gás

Prates defende que é possível aumentar os patamares de investimentos, sobretudo para preparar a empresa para a transição energética a longo prazo.

Destacou que o novo plano estratégico dará mais espaço a renováveis, mas que a empresa manterá o protagonismo na produção de óleo e gás.

“Vamos manter o foco em upstream e pré-sal. Porque é nossa atividade principal, ninguém se transforma de um dia para outro em outra coisa. E [o setor de óleo e gás] é importante para financiar a transição energética”, disse.

Citou, nesse sentido, a intenção da Petrobras de explorar a margem equatorial

Transição energética

Nos novos negócios, Prates disse que a Petrobras buscará explorar atividades que guardam sinergias com a expertise da empresa em óleo e gás.

Citou o caso da captura, uso e armazenamento geológico de CO2 (CCUS) e da geração eólica offshore.

“Nossas operações em águas profundas e ultraprofundas nos colocam em posição privilegiada para geração eólica offshore, inclusive integrada a produção de óleo e gás. Vamos seguir de forma responsavel a diversificação dos negócios”, comentou.

A Petrobras buscará entrar em renováveis, segundo ele, por meio de parcerias.

Disse ainda que quer construir o novo plano de investimentos com diálogo com o mercado, para evitar que “decretar projetos de cima para baixo” – e, assim, ver o planejamento estratégico ser mal recebido por investidores.

Hidrogênio verde

Prates sinalizou que, na transição energética, o hidrogênio verde não será uma prioridade num primeiro momento.

“Não diria que o hidrogênio verde seja o carro-chefe da nossa análise de transição energética a curto e médio prazos. Requer responsabilidade grande na hora de conceber projetos. Certamente a Petrobras não vai se engajar em projetos sozinha. Vai fazer isso com empresas que conhecem tão bem ou mais que ela. É uma fronteira nova… E existem fronteiras novas na linha [de prioridades da Petrobras] antes do hidrogênio”, disse.

Prates mencionou que o H2V ainda carece de regulação.

“Mas quando entrarmos, vamos entrar firmes, sabendo do que estamos fazendo”, complementou.

O presidente da Petrobras sinalizou, ainda, que a empresa tem potencial para explorar o hidrogênio produzido a partir do gás natural, antes mesmo de entrar no segmento de hidrogênio verde.

“O hidrogênio azul e turquesa podem ser opções antes do verde”, disse.

Gás no lugar de diesel

Prates destacou o potencial do gás natural como combustível da transição energética e disse que o gás ainda é pouco explorado no Brasil.

Citou o potencial, nesse caso, de substituição do diesel por gás nas frotas pesadas.

“Isso tem duas funções para o Brasil: depender menos de diesel importado e também descarbonizar o transporte”, afirmou.

Preços de combustíveis

O presidente da Petrobras reiterou que a discussão sobre uma política de preços cabe ao governo, e não à empresa.

“A Petrobras tem a política comercial dela, vai buscar o melhor cliente e dar as melhores condições para não perder proposta de venda de derivados. Ela vai buscar as condições mais competitivas”, afirmou.

Prates é defensor da criação de um fundo de estabilização de preços para os derivados.