Os contratos futuros de petróleo tombaram perto de 7% nesta segunda-feira (23/6), em uma sessão volátil, após autoridades relatarem que o Irã disparou mísseis contra bases militares norte-americanas no Catar e no Iraque, em retaliação aos ataques dos Estados Unidos às suas instalações nucleares no fim de semana.
O barril recuou com a avaliação de que as ações foram limitadas, sem atacarem alvos ligados à commodity. Como resultado, o WTI ficou abaixo dos US$ 70. Seguindo os ataques iniciais dos Estados Unidos, o petróleo chegou a subir mais de 5%, especialmente pelos temores de que o Irã pudesse bloquear a importante passagem pelo Estreito de Ormuz.
Na Intercontinental Exchange (ICE), o Brent para setembro recuou 6,67% (US$ 4,96), a 70,52 o barril, enquanto o petróleo WTI para agosto, negociado na Nymex, fechou em queda de 7,22% (US$ 5,33), a US$ 68,51 o barril.
O mercado de petróleo vê o ataque como um sinal de que a capacidade de resposta do Irã é ineficaz e que o país não está retirando petróleo do mercado, afirma Robert Yawger, do Mizuho.
Ele minimiza as preocupações de que o Irã possa fechar o Estreito de Ormuz, por onde passa um quinto do petróleo mundial.
“Não acho que isso vá acontecer. De qualquer forma, seria um tiro no próprio pé; eles têm dois grandes clientes, Índia e China, e se fechassem o estreito, bloqueariam suas exportações para seus dois únicos clientes”, afirma Yawger.
O Bradesco lembra que, embora o Irã represente 3,1% da produção global de petróleo, sua importância estratégica é amplificada por sua posição no estreito, por onde transitam 20% do consumo global de petróleo, e por operar com capacidade de reserva limitada.
“A análise de diferentes cenários indica que, sob condições atuais com danos limitados, preços próximos a US$ 70 por barril parecem sustentáveis”, aponta o banco.
Em um panorama mais amplo, a Capital Economics aponta que os grandes ganhos na produção dos EUA nos últimos anos dificilmente se repetirão. “Duvidamos que o presidente Donald Trump consiga aumentar ainda mais a produção de petróleo dos EUA.
Os recentes ganhos de produtividade impulsionados pela tecnologia começaram a perder força e a queda dos preços resultou em menores taxas de perfuração”, avalia. “Portanto, a menos que as tensões no Oriente Médio prolonguem os preços mais altos, acreditamos que os níveis atuais de produção dos EUA são insustentáveis”, pontua a consultoria.
No entanto, o forte crescimento da oferta entre outros produtores não pertencentes à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) deve garantir que o crescimento da oferta supere a demanda e direcione o mercado para um grande superávit no final de 2025 e em 2026, projeta.
Um superávit pesará sobre os preços, que prevemos que cairão para um patamar abaixo do consenso de US$ 60 por barril (pb) até o final de 2025 e US$ 50 pb até o final de 2026 e o final de 2027.
Petrobras pode segurar impacto no Brasil
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, alertou nesta segunda-feira (23/6) que os preços do petróleo “tendem a subir” após os ataques dos EUA ao Irã. mas destacou que compras recentes podem “amortecer a subida”.
“Acho que algumas mitigações, como a política de preços da Petrobras, são bem-vindas nesse momento”, afirmou durante entrevista à Rádio CBN.
Durigan também chamou atenção para os efeitos cambiais, observando que crises geopolíticas costumam beneficiar o dólar em detrimento de moedas emergentes como o real: “Há um movimento que busca a segurança no mercado, moedas então de países em desenvolvimento […] podem acabar sendo rejeitados ou vendidos”.
País pode se ‘beneficiar’ com reacomodação de custos
O CEO da Prio, Roberto Monteiro, avalia que a escalada entre Irã, Israel e EUA pode levar a “uma reacomodação” de custos na cadeia logística do setor de óleo, mas que ainda é difícil prever os desdobramentos.
Pode ter uma reacomodação [de custos], sim. É difícil precisar, é muito recente”, disse a jornalistas na sede da empresa no Rio, nesta segunda (23/6).
O executivo lembrou os impactos da guerra na Ucrânia nos fretes em 2022, mas destacou que os preços de serviços e equipamentos dependem mais da demanda por novos projetos do que da cotação do barril.
Monteiro reconheceu, no entanto, que o aumento do barril pode levar as empresas que produzem no Brasil a ter resultados maiores, com reflexos também no pagamento de royalties e impostos.
“É um horror a gente dizer que uma guerra é uma coisa positiva. Mas é uma realidade. Hoje, o Brasil, de uma maneira geral, é um país que não tem nenhuma instabilidade geopolítica e produz bastante petróleo”, explicou.
Com informações do Estadão Conteúdo e da Dow Jones Newswires.