BRASÍLIA – A provável redução da taxa de juros dos Estados Unidos pelo Banco Central Americano (FED, na sigla em inglês) ainda em setembro, associada à interrupção nos cortes da produção por parte da Opep+ e a outros fatores macroeconômicos, representam um viés de baixa para o preço do petróleo no restante do ano de 2024 e em 2025.
A commodity vinha em uma sequência de quatro dias seguidos sendo negociada com perdas, na semana passada, mas nesta segunda-feira (09/9) o Brent teve alta de 1,09%, fechando a US$ 71,84, e o WTI subiu 1,54%, a US$ 69,71.
Na quinta-feira passada (5/9), a Opep+ anunciou o adiamento por dois meses do aumento previsto na oferta de petróleo.
Na avaliação do analista de energia e macroeconomia da Hedgepoint Global Markets, Victor Arduin, o mercado também está dando sinais de otimismo quanto ao corte na taxa básica de juros dos EUA.
“Antes, a gente discutia se teríamos [o corte na taxa] ou não. Agora, já há uma clareza, e nós passamos a discutir qual vai ser a intensidade. Tudo indica, e eu acredito, que será de 25 pontos base”, afirmou.
O enfraquecimento do dólar favorece o comércio de commodities de energia e estimula o consumo e o investimento, levando a uma maior demanda de energia. Além disso, também reduz os custos de seguro, armazenamento e transporte, segundo Arduin.
O movimento do FED reduz o risco de recessão e alinha o mercado com fundamentos mais favoráveis para os investimentos de curto prazo. O analista aponta, ainda, que outros grandes bancos centrais do mundo já se movimentaram quanto à redução dos juros, como os da China, Canadá e União Europeia.
Nas últimas semanas, alguns dos fatores que impactaram a baixa no preço da commodity foram a demanda fraca na China, a redução dos prêmios de risco relacionados ao conflito entre Israel e Hamas e a diminuição das reservas de petróleo nos EUA.
Com o adiamento do relaxamento das restrições à produção na Opep+, os oito principais membros da coalizão não vão mais expandir sua produção em 180 mil barris por dia em outubro e novembro. A expansão ficará para dezembro.
Os cortes no fornecimento da Opep+ apoiaram o mercado em 2023 e 2024, reduzindo os estoques globais.
A capacidade ociosa do grupo – de mais de 6 milhões de barris/dia – levou a uma perda de participação de mercado para países que não são membros da organização, como EUA, Canadá, Guiana e Brasil.
De acordo com Arduin, a estratégia da organização pode ser tornar cada vez menos eficaz no aumento dos preços. Sem um aumento paralelo na demanda, é duvidoso que os preços possam ser mantidos acima de US$ 75 por barril.
Mercado interno e política monetária
Arduin avalia que o cenário interno vive momento diverso da macroeconomia global.
“No Brasil, além da questão fiscal, que precisa ser cumprida, temos a questão monetária. Enquanto os EUA discutem cortes na taxa de juros, por aqui podemos ter novos aumentos. Isso significa que podemos ter uma desvalorização do dólar e uma valorização do real”, avalia.
Isso significa que, para o mercado brasileiro, as questões macroeconômicas globais podem representar um viés ainda mais baixista para o petróleo, associando uma potencial queda no preço do barril a uma possível valorização do real.
Para o analista, com os títulos americanos desvalorizados, a renda fixa brasileira e de outros emergentes tende a atrair capital estrangeiro.
“Isso está ocorrendo no momento em que o Fed está pronto para afrouxar sua política monetária restritiva, o que teoricamente favorece commodities como o petróleo e seus derivados, uma vez que são denominados em dólares e as taxas de juros mais baixas nos EUA implicam na fraqueza da moeda americana”, aponta.
Isso ocorre porque as taxas de juros desempenham um papel significativo no seguro, armazenamento, custo de transporte e outros.