BRASÍLIA — Projeto do Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está investigando novos materiais que possam ser utilizados na captura de carbono (CO2) em plantas industriais.
Com financiamento da TotalEnergies, a pesquisa, inteiramente computacional, vai fazer o rastreio de materiais mais efetivos para adsorver o CO2, levando em conta desde a estrutura atômica dos materiais até sua viabilidade econômica no processo industrial.
“Estratégias para a captura de carbono em plantas industriais estão sendo muito estudadas no Brasil e no mundo, dada a urgência em diminuir a quantidade de CO2 liberado na atmosfera e, com isso, mitigar o impacto do aquecimento global”, explica Luís Fernando Mercier Franco, professor da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp e pesquisador associado do Cepetro.
Segundo Franco, a inovação está na abordagem: a pesquisa quer conectar o mundo científico ao mundo da engenharia.
“Vamos integrar diferentes escalas: desde a escala atômica, identificando como um determinado material poderia ser mais eficiente, até a escala do processo, ou seja, como tornar a captura de carbono mais viável financeiramente”, conta.
A captura de carbono é parte da estratégia de empresas de petróleo e indústrias intensivas em emissões para descarbonizar suas operações.
O carbono pode ser armazenado e/ou utilizado em outros processos, como a produção de combustíveis sintéticos — sem petróleo.
O alto custo da tecnologia, no entanto, tem desencorajado investimentos em todo o mundo. Em 2024, os aportes em captura e armazenamento de carbono (CCS, em inglês) caíram pela metade em comparação com o ano anterior, para US$ 6,1 bilhões, de acordo com a BloombergNEF.
Franco explica que entre as várias possibilidades de processos para a captura de carbono está a adsorção, quando o CO2 em forma gasosa (liberado pela queima de combustíveis fósseis) adere em material sólido, em um processo de separação posterior ao sistema de exaustão industrial, por exemplo.
A pesquisa mira esses materiais. Entre eles, estão estruturas organometálicas (MOFs, em inglês) com alta seletividade para CO2 e os zeólitos.
“Como se trata de um projeto inteiramente computacional, nossa ideia é desenvolver uma plataforma que nos permita primeiramente compreender a ciência básica a respeito das interações desses materiais com o CO2”, diz o professor.
Próximas etapas
Outro objetivo do projeto é identificar possíveis modificações na estrutura química dos materiais estudados, para melhorar a adsorção.
“Queremos entender o que pode ser modificado na estrutura química desses materiais para que eles possam ganhar em adsorção, por exemplo, além de questões relacionadas a propriedades de transporte, como difusão e condutividade térmica, e propriedades mecânicas”, detalhas.
Com a ajuda do computador, será possível rastrear diferentes materiais e alterar sua estrutura química, o que torna o trabalho mais barato do que o teste individual em bancada, segundo Franco.
Na etapa seguinte, os pesquisadores planejam fazer simulações para predizer quanto o material está adsorvendo de carbono.
“Tudo isso até chegar na escala do processo industrial, em que vamos rodar a plataforma na escala de uma torre de adsorção e fazer estudos de viabilidade econômica”, completa.