Guerra comercial

Nova tarifa dos EUA sobre Brasil ameaça exportação de petróleo e importação de combustíveis

Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou taxa de 50% sobre todos os produtos do Brasil

Donald Trump em coletiva com a procuradora-geral Pam Bondi e o vice-procurador-geral Todd Blanche, na Casa Branca, em 27 de junho de 2025 (Foto Molly Riley/Casa Branca)
Donald Trump fala em coletiva, na sala de imprensa James S. Brady, na Casa Branca, em 27 de junho de 2025 (Foto Molly Riley/Casa Branca)

RIO — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que vai aplicar taxas de 50% sobre as importações de todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Um dos principais itens exportados do Brasil para os Estados Unidos é o petróleo bruto.

Ainda não há informações sobre a eventual isenção para algum produto. 

Em carta endereçada ao presidente Lula (PT), Trump indicou que as tarifas são uma sanção à postura de instituições brasileiras em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às medidas de regulação das redes sociais. 

Trump afirma ainda que a relação comercial entre os países está “longe de ser recíproca”. Entretanto, o Brasil é deficitário nas trocas comerciais com os EUA.

O presidente dos EUA indica também que eventuais tentativas de driblar as tarifas por meios logísticos vão levar a novas sobretaxas. 

O governo brasileiro ainda não se pronunciou sobre o assunto. Está prevista uma reunião no Palácio do Planalto, com a participação do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, nesta quarta (9/7), para discutir a nova tarifa.

Petróleo perde competitividade

A analista da StoneX, Isabela Garcia, aponta que o petróleo brasileiro vai perder competitividade no mercado internacional, caso esteja sujeito às taxas. 

Segundo ela, isso  pode levar, inclusive, a um recuo nas exportações da produção brasileira. 

“A depender da manutenção dessa política, o Brasil deve registrar uma mudança no perfil dos compradores de petróleo, com uma possível maior participação de países asiáticos em detrimento dos Estados Unidos”

Garcia lembra que o Brasil reduziu as exportações de petróleo bruto para os EUA no primeiro semestre de 2025, com a ampliação das vendas para a China. 

Segundo dados do MDIC, o Brasil vendeu em média 38 milhões de barris de petróleo aos EUA no primeiro semestre de 2025, ante 49 milhões de barris em igual período no ano passado. 

“Caso o petróleo brasileiro não esteja isento dessas novas tarifas, é provável que os importadores norte-americanos procurem novos fornecedores”, disse. 

Resposta pode impactar mercado de combustíveis 

Outro ponto de atenção é a dependência brasileira da importação de combustíveis refinados nos EUA,  que representaram 24% do volume internalizado de diesel no primeiro semestre de 2025, segundo a analista da StoneX,

No caso da gasolina, a dependência no período foi de 34%. 

Garcia aponta que eventuais retaliações do governo brasileiro podem impactar esse mercado.

“Caso haja alguma retaliação por parte de Brasília sobre os produtos dos EUA, o país poderá se voltar para novos fornecedores, ampliando as importações de produtos russos e de países da Europa e Oriente Médio, com riscos de preços de importação mais elevados”, explica. 

Etanol também na mira 

A primeira rodada de tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros ocorreu em abril, com uma taxa de 10%. Na ocasião, a tarifa era menor do que a aplicada a outras regiões, como China e União Europeia. 

Entretanto, em fevereiro a Casa Branca já havia citado o etanol brasileiro como um dos exemplos de políticas tarifárias consideradas “injustas” pelos estadunidenses.

Os EUA aplicam uma taxa de 2,5% sobre o etanol brasileiro, enquanto o Brasil cobra 18% sobre o produto estadunidense.

Ainda assim, o Brasil é deficitário na relação comercial com os EUA, no cálculo geral.

No acumulado até junho de 2025, o valor das exportações do Brasil para os EUA foi de US$ 20 bilhões, ante cerca de US$ 19 bilhões no mesmo período de 2024. Já as importações estão em US$ 21,6 bilhões, de acordo com o MDIC.

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