A executiva indicada pelo presidente Lula para assumir a presidência da Petrobras, Magda Chambriard, é uma defensora da exploração e produção de petróleo em águas profundas na Margem Equatorial e foi a responsável por viabilizar a concessão de blocos nessa região quando foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Chambriard comandou a agência entre 2012 e 2016. A maior parte das áreas na Margem com potencial para descobertas em águas profundas foram ofertadas na 11ª rodada, em 2013, quando ela estava à frente da entidade, portanto.
Nos últimos meses, a executiva tem se posicionado publicamente a favor das atividades na região.
“Compartilho com vocês minha preocupação com o “day after” do pico do Pré-Sal e com o que será feito em prol da reposição de reservas do país nesse momento. A exploração em águas profundas, nosso DNA, exige muita antecedência. Além disso, deixo claro que reconheço o tamanho do desafio imposto aos técnicos do Ibama, em relação a quantidade de tarefas face ao efetivo ligado ao petróleo e gás. Mas reconheço também a responsabilidade do Estado brasileiro de prover meios para que os licenciamentos ocorram sem postergar o desenvolvimento do país”, escreveu há cerca de dois meses no Linkedin.
Ela cita, sobretudo, o esgotamento das reservas do pré-sal e as inseguranças regulatórias percebidas pelos investidores com as dificuldades para a realização de atividades mesmo com os blocos já concedidos.
“Sobre a Foz do Amazonas: É importante perceber que essa decisão afeta o FUTURO da Petrobras”, afirmou no Linkedin em meados do ano passado.
Chambriard assume a estatal no momento em que o tema da abertura de novas fronteiras divide o governo. Parte da base de Lula, sobretudo nomes ligados ao Ministério do Meio Ambiente, defende a interrupção da ampliação de áreas de exploração e produção no território nacional, devido à necessidade de acelerar a transição energética.
Por outro lado, segmentos ligados ao Ministério de Minas e Energia acreditam que a continuidade da extração evita com que o Brasil se torne dependente do mercado externo a partir da próxima década e protege o país de uma eventual inflação dos combustíveis fósseis por causa da transição. Essa corrente defende ainda que os recursos das atividades petrolíferas vão ser importantes para o desenvolvimento nacional, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, onde está localizada a Margem Equatorial.
Chambriard tem partilhado da visão do setor de petróleo que enxerga a transição energética como um processo longo, durante o qual ainda vai haver consumo de combustíveis fósseis.
“Importante frisar a importância da palavra TRANSIÇÃO, quando se fala em transição energética, e lembrar que essas coisas não podem ser feitas de uma hora para outra….”, escreveu em publicação no Linkedin.
A região que compreende as bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar, é a grande aposta exploratória da Petrobras para a abertura de uma nova fronteira e a reposição de reservas em meio ao esgotamento do pré-sal. A Petrobras estima destinar US$ 3,1 bilhões para exploração na região de 2024 a 2028, com a perfuração de 16 poços. A companhia concluiu dois poços na Bacia Potiguar este ano, cujos resultados ainda estão em análise.
A grande expectativa é pela perfuração na bacia da Foz do Amazonas, onde a estatal estima a possibilidade de mais de 6 bilhões de barris em reservas. Desde 2022, a companhia tenta iniciar uma perfuração exploratória na área, mas enfrenta controvérsias. O pedido de licenciamento ambiental feito ao Ibama para a perfuração foi negado no ano passado e gerou um pedido de reconsideração, que ainda está em análise.
O Ibama solicitou à estatal a entrega de uma análise sobre o impacto do projeto a indígenas para reavaliar o pedido. Na terça-feira (14/5) a tarde, antes do anúncio da troca de comando na estatal, o diretor executivo de exploração e produção da Petrobras, Joelson Mendes, disse que a empresa não vai fazer esses estudos no atual estágio do processo.
Segundo o diretor, a avaliação do impacto aos indígenas está prevista na lei apenas no caso de ocorrer uma descoberta. A decisão por não realizar os estudos foi comunicada pela estatal à Advocacia Geral da União (AGU)
“Temos interagido com a AGU e estamos esperando que ela tenha uma interação com o Ibama. Esse pedido não é adequado nesse momento em que estamos nesse licenciamento”, afirmou.